segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Banzo






E aí, Matilde, como está?
Penso que já está habituada.
Não sente mais minha falta.
Não sente?
Eu também não sinto nada.
Tô te escrevendo apenas por acaso.
Ia passando, vi sua foto, me deu banzo...

Luiz Tatit

Resisti o quanto pude ao facebook. Até que o Moura resolveu criar um fake pra mim e eu tive que encarar. Eu que pensava que o blog era o paraíso ideal para se escrever bobagens, fiquei apatetado com aquilo.
Mas tem lá seus benefícios: revi amigos que já tinha deletado, conversei com eles, descobri fotos lindas das minhas filhas e mais algumas coisas que não convêm lembrar agora.
Pertenço aos grupos "torcedores do Fluminense", "meninas de Miracema e seus amigos" e "acontece em Pernambuco", embora não vá ao Recife há alguns anos. Converso com Aaron Neville, Gonzaga Leal e tenho notícias novas de Boardwalk Empire e Breaking Bad.
Fuçando bem, até que dá pra digerir as bobagens e aproveitar alguma coisa.
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Hoje em especial, ocorreu de me lembrar ao ver essa foto aí em cima, de um sarau na Fazenda União no início dos anos 80, quando ouvi Beth Bruno cantar (a capela), o Manoel, o audaz mais bonito que já possa ter sido cantado. Nunca me esqueci daquela noite e sempre que posso, toco nela como uma lembrança boa, mas graças ao facebook, pude lembrar desse momento com a própria Beth Bruno. Só a conversa já valeu a insistência do Moura pra que eu entrasse para a rede.
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Remexer nisso tudo, lembrar o menino que fui, faz bem para as articulações enferrujadas. De resto, essa reunião da Câmara Técnica de cirurgia vascular é certamente, um longo aprendizado, mas como cansa!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Uma janela suspeita



Vitórias do Fluminense ocorrem habitualmente nos meus períodos de sorte no jogo. O time precisa dela. Contra o Avaí não foi diferente.
Sempre gostei do futebol do Deco. O luso brasileiro machucava e eu ressentia. Chicó desistiu do Deco muito antes de mim. Ontem depois daquele passe milimétrico e daquele lençol, deu uma vontade danada de ligar pra Chicó e dizer: é isso que vale o ingresso, menino!!!
Mas o melhor da TV que me aconteceu essa semana não foi nem a previsível vitória do Fluminense sobre o Avaí. O que encheu os olhos na tela foi a mini-série inglesa Downton Abbey, que vi de um lance só. Uma pintura, que levou alguns emmys pra casa. E ainda me trouxe uma madura, mas ainda uma bela mulher, Elisabeth McGovern, musa dos tempos em que eu era feliz e não sabia. Elisabeth brilhou em muitos filmes da minha primeira idade adulta (ali pelos meus anos 20), mas o que mais me faz lembrá-la é Uma janela suspeita. De tirar o fôlego de qualquer menino.
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Como dizia Maria, a única vantagem da solidão é que você pode entrar no banheiro e deixar a porta aberta. Laura, volta logo!!!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Lamento, não sei.


Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector

Ainda hoje com Renatinha e semana passada na viagem com Marila, vinha conversando sobre esses assuntos. Da arte difícil de dizer não sei. De quanto tempo levei para saber que a ignorância também pode ser um dom do espírito. - Simplesmente não sei. Posso dar uma googlada e te dizer daqui a pouco, mas eu costumo quase sempre não ficar satisfeito com os googles, os bings e as wikipedias. Se meu vasto conhecimento nesse assunto for uma frase tirada do google, prefiro mesmo dizer que não sei.
Eu era um menino que achava que sabia. Um adulto que dominava o Mundo. Agora que fiquei velho, tenho exercido a cada dia o ofício prazeiroso do aprendizado.
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Cresce a cada nota que escuto, os sambas que Amélia Rabelo gravou em seu novo disco, A delicadeza que vem desses sons. Na primeira ouvida, gostei de Velhos chorões (Cristóvão Bastos e PC Pinheiro) e Tempo perdido (Ataulfo Alves obscuro). Na segunda, gostei da metade. Na terceira, gostei de tudo. Está na lista para o IV Prêmio Desconversa de disco do ano, junto com Chico, Wisnik e Geraldo Maia.

sábado, 17 de setembro de 2011

Dá um lá menor aí


Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto vão assistir comigo
À versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou te esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer
Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar, sorrindo, que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Cazuza

Bebi demais. Bom, foda-se! Amanhã é outro dia!
A viagem passou rápida por conta da boa palavra e lenta por conta do mau tráfego. A Serra dos Órgãos está uma calamidade de intermináveis sigas e pares. Ainda bem que viemos rindo, eu e Marila, de lá até aqui. Rimos, ai, de arrebentar, como diria Drummond.
Cheguei aqui para a sétima motofest miracemense. Os motoqueiros estão todos velhos, gastos e usados como eu. A diferença é que ainda vestem aquelas roupas típicas de motoqueiros.
O rock hoje foi comandado por Lucas Alvim, o seis cordas que substituiu Lilito em Odete Lima.
O rock bom que o Lucas toca é aquele dos anos 80, do Barão, do Paralamas, da Legião e etc.
Às vezes dá vontade de gritar pra essa geração: ouçam Pepita Ruiz, ouçam Luisa Maíta, ouçam Nina Becker. Pergunto pra Luisa, ninguém conhece. Mas são elas que ficaram nesse vazio criativo roqueiro dos anos 80 pra cá. E melhor, cantam uma música muito mais brasileira do que os citados. São herdeiras dos Mutantes e de Tom Zé. Filhas de Itamar, como Anelis.
Sentamos, eu, Alex e Gisele na velha Barraca do Bode e ficamos ali papeando também e rindo do movimento motociclista, velho como nós.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Uma doce mentira

Uma doce mentira é um desses filmes franceses que deixam a alma leve, que faz você sair do cinema levitando. Com belas atuações, principalmente de Audrey Tautou, está estreando no Rio nessa semana e vale uma saída de casa para conferir.
Por um instante, consegui esquecer dos amassos de gente na cantareira, das longas filas do 49, da dor nos pés, da dor nos pés, da dor nos pés e caminhei por aí.
Caminhei com o Itreco tocando Odete Ernest Dias, Dave Brubeck e Abdullah Ibrahim, embora a boa trilha do filme pareça ser composta de música soul dos anos 50. Pensei ter ouvido qualquer coisa de Sam Cooke.
Já são quase 22 e ainda sinto a leveza da história.
Invernou de novo en Niterói e está uma noite muito agradável. Está até dando gosto de escrever essas bobagens.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Das dores de cotovelo




"Mudou
Mudou o tempo e o que eu sonhei pra nós
Mudou a vida, o vento, a minha voz
Mudou a rua em que eu te conheci
Mudou
A ilusão da paz do nosso amor
Mudei as rimas do meu verso cru
E o sol mudou de cor meu corpo nu."

Taiguara, Mudou
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É possível que eu tenha conhecido Taiguara antes de Lupicínio Rodrigues. Universo no teu corpo deve ter habitado a casa de meu avô antes que Elis Regina me apresentasse Lupicínio com sua interpretação arrebatadora de Cadeira vazia (igual à Elis, só ouvi uma vez na vida com Marcos Sacramento na casa da Marila em Pádua). Portanto, não é errado dizer que Taiguara foi meu primeiro compositor das dores de cotovelo.
Hoje atravessando a Baía, voltei duas vezes a interpretação de Célia para Mudou, que tinha conhecido não com Taiguara, mas numa versão igualmente boa da cantora paulista Klebi.
Além das óbvias Universo no teu corpo, Helena, Helena Helena e Hoje, o que mais me chamou atenção no Taiguara do início foi sua interpretação para a canção Benvinda, do Chico. Até hoje ouço e se tivesse que fazer uma antologia das canções de Chico, certamente Benvinda teria lugar, com Taiguara.
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Tudo que Wilson Moreira faz é obra prima, que normalmente leva um certo tempo pra adaptar aos bons ouvidos. De todo modo, Baticun vem crescendo a cada audição e também tem voltado constantemente na Baía.
A Baía também me mandou o solo do pianista Fernando Merlino. Sem improvisos, Fernando fez um disco de muito bom gosto. Ao ver as faixas do disco, me perguntei -por que Estrada Branca outra vez?-. Depois de ouvir, lembrei que Estrada Branca, que sempre acompanhou a obra de Tom Jobim de forma discreta, é em verdade, uma das mais belas obras desse nosso vasto cancioneiro.
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O oposto da dor de cotovelo lupicínica é o ótimo filme neo zelandês Separation City, que habitou meu domingo junto com a boa vitória do Fluminense e a série inglesa Fawlty Towers, de John Gleese, do longínquo 1975, pioneira em produzir gargalhadas homéricas.
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Finalmente consegui me livrar das minhas mazelas depressivas e escrever um texto útil. Assim eu quereria todos os meus textos, inclusive o último: que fossem úteis para meus três leitores e que falassem sempre de estradas brancas e cadeiras vazias.

sábado, 10 de setembro de 2011

Notas de Búzios

"O pessimista reclama do vento.
O otimista espera ele mudar.
E o realista ajusta as velas."

Lars Grael, ontem em Búzios

Sempre achei essas palestras de auto ajuda um saco. Continuo achando. Mas ouvir Lars Grael contando sua vida, sem nenhuma pieguice, ontem em Búzios, me fez bem. Também vivi, em outros tempos, uma amputação acidental. No meu caso, não levou nenhum membro, mas botou por água abaixo um projeto de vida para o qual, eu me dediquei inteiramente, corpo, alma e coração. Sei que há um certo exagero nisso tudo, mas também há para mim, um claro paralelo entre acordar sem uma perna e acordar sem um sentido para a vida.
E o que tenho feito de 2002 pra cá senão ajustar as velas?
A dissertação de Lars Grael me deixou ainda mais realista com relação á vida. Como ele, sou um sobrevivente que de certo modo, venceu. E minha perna mecânica é essa necessidade diária de ver meus filhos bem. Costuma ser pra eles que acordo todo dia.
No mais, tudo é menor. Filhos, trabalho e uns poucos amigos, no mais tudo é menor.
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Passei dois finais de semana seguidos, antes de Búzios, absolutamente atípicos. O amor veio e se foi, Odete Lima veio e se foi. No final das contas, sobramos eu, uma caixa de opereta e The lying game, uma série americana bem fraquinha.
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Por outro lado, consegui me reconectar à música. De um átimo, botei pra tocar Rômulo Fróes, Um labirinto em cada pé, Panorama do choro paulistano, A voz da mulher na obra de Taiguara, Valter Silva, Diálogos de um chorão, Noca da Portela e Raquel Tavares. Vou ouvindo, depois eu conto. Enquanto gira o Mundo bizarro.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Batidas na porta da frente


"Rosinha Desossée, me tire desse quarto de hotel e de todas as coisas que entram pela janela; me leve para longe das palmeiras, mais longe e perto das coisas mais macias; me faça esquecer (depressa) os homens ruins — isto é: os que gostam de cebola crua; me ensine, Rosinha Desossée, tudo o que eu não aprendi: a cortar com a mão direita, a usar anel, a tocar piano, a desenhar uma árvore e valsar; e me lembre do que eu esqueci — raiz quadrada, (as mais ordinárias), frações, latim, geofísica e "Navio Negreiro", de Castro Alves; depois, me dê, pelo bem dos seus filhinhos, aquilo que eu não tenho há quase um ano, carinho — de um jeito que eu não sei dizer como é, mas que há, por aí ou, pelo menos, já houve; destelhe a casa, deixe a noite entrar e, juntos, vamos nos resfriar; espirre de lá, que eu espirro de cá... agora, cada um com a sua bombinha, inalação, inalação; lado a lado, sentemos, os dois de perfil para o ventilador; minhas mãos e as suas não são de ninguém, entendido?; se interesse por mim e pergunte o que eu sei, que eu quero exclamar, no mais puro francês: "oh!"..."comment allez vous"? (...) de um jeito ou de outro, me tire daqui, pra Pérsia, Sibéria, pro Clube da Chave, pra Marte, Inglaterra, sem couvert, sem couvert; está vendo o retrato dos meus 20 anos? de lá para cá, cansaço, pé chato, gordura, calvície fizeram de mim essa coisa ansiosa, insegura e com sono, que pede a você, no auge do manso: você, Desossée, não saia esta noite e fique, ao meu lado, esperando que o sono me tome e me mate, me salve e me leve, por amor ao teu andar, assim seja..."

Antônio Maria, Oração

Demorei a acordar dos 50. Demorei a perceber que logo as coisas voltam pro seu devido lugar e Odete Lima é apenas um sonho distante. Queria prolongar mais aquele estado de coisas. Confesso que até ontem ainda me imaginei ali com meus velhos amigos.
A transição foi árdua. Desde ontem que não há canção que me acalente. Não passei no Cláudio nem no Arlequim do Paço, com o sentimento de que não há nada mais a procurar. Me emocionei escrevendo dedicatórias no livro como se ainda estivesse no transe. Devo ter escrito muitas bobagens. Mas era tudo verdade.
Hoje de manhã voltou esse cansaço de tudo.
De hoje a domingo estarei em Búzios. Trabalhando. Longe do meu aquário e dos meus amigos, o trabalho rende pouco.
Vontade de escrever esse texto inútil nem sei pra que. Lá em Sidrolândia, no mais longínquo Mato Grosso, alguém que cuida de mim há muitos anos, ficará mais uma vez revoltada com essa melancolia repentina.

domingo, 4 de setembro de 2011

O inesperado fazendo surpresa


"Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada.
À parte disso, tenho em mim, todos os sonhos do Mundo."

Fernando Pessoa, Tabacaria

Queria passar o aniversário em família. Perto de pais e filhos e dos amigos muito próximos, da família por assim dizer.
Comemorar 50 não é fácil. Você sabe que ficou definitivamente velho, as crises de ausência aumentam na proporção injusta das responsabilidades. Não há muito o que comemorar. Casmurro, resolvi propor determinadas exigências que poderiam tornar impossível a empreitada: 1) Levar pra Miracema meus amigos daqui; 2) Que fosse em Odete Lima; 3) Que meus amigos da Academia do Choro tocassem; 4) Que meus filhos aparecessem. Somado a isso tudo, ainda compliquei mais, marcando a data para uma véspera de feriado. Era um tiro certo na festa.
Pra minha surpresa, os daqui confirmaram, meu irmão ajeitou Odete Lima, a Academia reservou a data e as crianças se animaram.
E tudo correu milimetricamente perfeito. Em nada eu poria reparo. Fiquei feliz como quem fala como dois olhos.
A mim me coube selecionar os forrós e botar o povo pra dançar enquanto a Academia afinava os instrumentos pro samba.
A virada do Fluminense sobre o Atlético já prenunciara uma noite histórica.Foi dessas que não se esquece nunca, que dá vontade de dizer: "Pára, meu coração, Não penses...", só pra citar Pessoa mais uma vez.
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Todo mundo ajudou a fazer a festa, mas ela não aconteceria se não fossem o empenho da Fábia na organização, as peregrinações com Jadim atrás de churrasqueiro e carne, da Diô, que cuidou da comida e do bolo, e de meu irmão, que deixou Odete Lima nos trinques. A esses eu agradeço como uma forma maior de agradecer a todos os que foram, porque não poderia haver presente maior do que estarmos todos juntos nos meus 50.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Baticun


Invernou de novo em Miracema. Passei boa parte do dia revendo a oitava temporada de Seinfeld. Já tinha esquecido tudo, foi ótimo.
Períodos de frio são propícios para grandes reflexões inúteis, uma boa coberta e um filme morno. Não se pode esperar que um filme com Kristin Scott Thomas seja morno, mas fui vencido pelo nome. Gosto da atriz desde Lua de Fel. Sarah Keys é um ótimo filme francês, que não tem nada de morno, e tem Kristin em ótima forma. O filme quebrou uma temporada sem cinema, desde que emendei The good wife com Shameless. É verdade que tenho visto mais séries enlatadas do que filmes, mas as séries enlatadas estão ficando cada vez melhores. Há um problema corrente que acontece quando começam a crescer e aparecem a segunda, a terceira e até a oitava temporada. A história acaba se desgastando. Mas não com Seinfeld, que durou nove e manteve o pique.
Ontem vim ouvindo o disco da dupla italiana de voz e baixo Musica Nuda, e me encantei com a versão seca de While my guitar gently weeps. E o novo velho disco de Wilson Moreira, Baticun. Gravado entre 88 e 91, foi descoberto e recuperado agora por Henrique Cazes. Belo disco !


Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...