domingo, 30 de outubro de 2011

Socorro, eu não estou sentindo nada


ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo

ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo

Paulo Leminski, Arte do chá

De vez em quando, é bom ser salvo por Paulo Leminski e Alice Ruiz num tempo em que tudo deve ser absolutamente político e correto. Em outros tempos, Paulo e Alice conseguiam extrair da monotonia, algo de poético. Hoje, espetar o monótono é como sair do prumo e tem sempre um que se sente desconfortável com você.
Eu voltei de Fortaleza e o Fluminense chegou para aplicar uma convincente goleada de 2 a 1. Digo goleada porque foram inúmeras as oportunidades cara a cara desperdiçadas por Marquinho, Fred e Sóbis. E também porque nesse campeonato equilibrado, qualquer um a zero já é goleada. Essa vitória deveria ser dedicada à Luiz Mendes, o comentarista da palavra fácil. Em menino, já ouvia os comentários de Luiz Mendes e só descobri que ele era botafoguense quando li a notícia de sua morte. Hoje. não é preciso nenhuma perspicácia maior pra saber que os narradores e comentaristas do Sportv, salvo raras exceções, torcem descaradamente pelos times de São Paulo. Saudades do Luiz.
E ontem matei a noite assistindo a Um conto Chinês, mais uma pérola do cinema argentino com Ricardo Darin.
Estou em casa. Em paz comigo e com Laura. Com a coluna destrambelhada, a planta do pé exultando, mas em paz.

sábado, 29 de outubro de 2011

As lições de Silviano Santiago


Sonha o rico em sua riqueza,

que mais zelos lhe oferece;

sonha o pobre que padece

sua miséria e sua pobreza;

sonha o que inicia a destreza;

sonha o que afana e pretende;

sonha o que agrava e ofende;

e no mundo, em conclusão,

todos sonham o que são,

e que é assim ninguém entende.

Eu sonho que estou aqui

destes grilhões carregado

e sonhei que em estado

mais lisonjeiro me vi.

Que é a vida?: um frenesi.

Que é a vida?: uma ilusão,

uma sombra, uma ficção;

e o maior bem é bisonho,

que toda a vida é sonho,

e os sonhos, sonhos são.

Calderon de La barca

Estive com Silviano Santiago na FLIP de 2007. Tinha acabado de ler Em liberdade, ensaio em que o autor dá uma continuidade ficcional à Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos. Estava encantado com a obra e fui para a fila de autógrafo. Silviano não só autografou, mas fez questão de comentar sobre o livro e posar para uma foto comigo. Depois me falou da importância da aproximação entre o escritor e seu leitor. Hoje no lançamento do meu livro aqui na Convençao, lembrei de Silviano.
Trouxemos 400 livros para o evento, que se evaporaram em menos de uma hora, mas ninguém ficou sem seu autógrafo. Lá pelos 200, com a mão doída, me sugeriram apenas entregar. Eu nem cogitei.
A Convenção terminou há pouco com show de Elba Ramalho. Como Fagner, com altos e baixos. Uma banda competente, porém do mesmo jeito, com essa mistura de instrumentos percussivos com elétricos, sanfona com teclado, guitarra com zabumba, dando à apresentação um tom pasteurizado e muitas vezes, tedioso. Curioso que Elba tenha se enveredado pelos sons elétricos, quando seus dois últimos melhores discos foram justamente aqueles repletos de instrumentação crua (Baioque de 97 e Leão do Norte de 96). Gostei dela ter cantado Tareco e Mariola de Petrúcio Amorim, fui lá nos velhos discos de Maciel e Flávio José.
Uma libação de camarão e lagosta no Coco Bambu ontem a noite, me deixou meio banzo, com o estômago aperreado durante o dia de hoje. Evitei o vinho e a virtude e vi o show de Elba careta. Foi bom assim mesmo.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Essa saudade, o cigarro, a luz acesa


Quando Você for-se embora
Moça branca como a neve
Me leve, me leve

Se acaso você não possa
Me carregar pela mão
Menina branca de neve
Me leve no coração

Se no coração não possa por acaso me levar
Moça de sonho e de neve
Me leve no seu lembrar

E se aí também não possa
Por tanta coisa que leve
Já viva em seu pensamento
Moça branca como a neve
Me leve no esquecimento

Ferreira Gullar/Fagner

Aula espetáculo de Ariano Suassuna, show de Fagner no Coliseu, Fortaleza nunca esteve tão florida. Meus olhos secos agradecem.
Não contei aqui da última vez que lacrimejaram, no meio daquele fim de semana agourento, quando assisti, com dois anos de atraso, à Piaf. Foi Marillon Cotilard no Non, je ne regrette rien do final do filme que me afrouxou. Já tinha chorado com Bibi, chorei com Marillon.
Hoje quando Fagner puxou Asa Partida, chorei também. Já havia um esboço de lágrima na Cantiga pra não morrer (letra acima), Asa Partida me levou de vez.
O show foi uma coletânea de sucessos do artista, uns bons outros ruins. Fagner acertou em cantar Paralelas (Belchior), mas fez feio na pieguice Guerreiro Menino, de Gonzaguinha. A banda boa, os arranjos nem tanto. O saldo foi positivo.
A tarde foi encantada pela aula de Ariano na convenção (clicado acima por mim). Com sua voz enjoada e pigarreante, foi levando sua antologia de casos impagáveis. A platéia delirou. Oitenta e quatro anos e ainda guarda aquelas dezenas todas.
Fortaleza tem sido uma surpresa cada vez mais agradável nesses dias. Deus conserve!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Eu sou a nata do lixo, eu sou do luxo da aldeia, eu sou do Ceará


Estou em Fortaleza para a Convenção Nacional Unimed.
Há alguns anos atrás vim a Fortaleza e não tive uma boa impressão do lugar. A cidade estava suja, havia muita prostituição em torno ao Hotel e ao longo da beira mar.
Ano passado desconfiei, mas vim. Não sei se a companhia agradável de Sandra Carreirinha e Renata acabaram dando a impressão de que eram elas aqui e não a cidade que tinha melhorado, a verdade é que parecia mesmo mudada.
Dessa vez foi uma impressão definitiva. Sem as meninas, aterrizei do Aeroporto direto para o Restaurante Coco Bambu, onde se pode comer um camarão dos deuses e um risoto de limão idem. Tive a sorte de encontrar meus amigos e almoçar com eles.
Depois caminhei pela praia até o Hotel Comfort, um hotel que pega facilmente um double A no Lima score.
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Os ares de Fortaleza me fizeram bem, mas duas outras coisas contribuiram de forma decisiva.
Na viagem vim lendo o novo de Philip Roth, Nemesis e ouvindo a Poesia Musicada, de Dori Caymmi (só achei no Arlequim do Paço por 35 mangotes, mas valeu cada mangote!). Nada como um novo Roth para restaurar de novo aquele gosto pela palavra lida. E Dori musicando e cantando Paulo Cesar Pinheiro serviu para demonstrar que 3 horas de vôo podem não ser nada quando se tem boa companhia aos ouvidos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Más escolhas


Lars Von Trien exagerou na dose. É filme pra deixar o sujeito normal, deprimido, e o deprimido, abismado. Saí no final da primeira parte (Justine). Outro dia eu vejo o resto. O sábado já ia se perpetuando como previsto. Aí vieram Melancolia e o desastre do Fluminense no Engenhão. Fui dormir preocupado que ainda tinha o domingo pela frente.
Ainda no sábado, assisti ao denso Route Irish, de Ken Loach, outro filme cheio de precipícios. Faltava uma banda de gilete e um suco de maracujá.
No domingo, vi séries enlatadas e aqui vão algum alertas:
1) Terra Nova - não há nada mais maniqueísta na televisão atualmente do que esta série. Dura de aguentar.
2) The lying game - na entre safra das boas séries, acabei adotando essa. É triste acompanhar uma história de adolescentes riquinhos, cujos pais parecem ainda mais adolescentes. Muito caricata e previsível.
3) The good wife - a série passa pelos desgastes naturais de muitas temporadas (está na quarta), mas ainda dá um caldo. Não sei se vai conseguir chegar intacta até o final.
Pra completar o domingo, o casal de Nicolas (Cage e Kidman) em Reféns. Já vi coisa melhor de Joel Schumacher do que esse pretenso thriller.
Briguei com Laura, minha tendinite plantar voltou, tive pesadelos e por pouco não quebro o tubo da televisão de raiva. Ainda bem que a urucubaca já foi.

sábado, 22 de outubro de 2011

Porque hoje é sábado


En el bulevar de los sueños rotos
vive una dama de poncho rojo,
pelo de plata y carne morena.
Mestiza ardiente de lengua libre,
gata valiente de piel de tigre
con voz de rayo de luna llena.

Por el bulevar de los sueños rotos
pasan de largo los terremotos
y hay un tequila por cada duda.
Cuando Agustín se sienta al piano
Diego Rivera, lápiz en mano,
dibuja a Frida Kahlo desnuda.

Se escapó de cárcel de amor,
de un delirio de alcohol,
de mil noches en vela.
Se dejó el corazón en Madrid
¡quien supiera reír
como llora Chavela!

Por el bulevar de los sueños rotos
desconsolados van los devotos
de San Antonio pidiendo besos
Ponme la mano aquí Macorina
rezan tus fieles por las cantinas,
Paloma Negra de los excesos.

Por el bulevar de los sueños rotos
moja una lágrima antiguas fotos
y una canción se burla del miedo.
Las amarguras no son amargas
cuando las canta Chavela Vargas
y las escribe un tal José Alfredo.

Joaquin Sabina

1) Que mal há em se juntar bons músicos no estúdio, incluindo Mário Gil e Toninho Ferragutti, nesses tempos modernos. e soltar a voz?
2) Que mal há em se escolher um repertório irrepreensível, que inclui a injustiçada Xote, um clássico perdido do repertório de Gil (c/ Rodolfo Stroeter, num disco igualmente clássico, O Sol de Oslo) e soltar a voz?

3) Que mal há em chamar Chico Buarque pra participar do disco e soltar a voz? Hoje em dia não há nada mais trivial do que convidar o velho Chico.

Pode ser receita de bolo, mas a verdade é que Rita Gullo mostrou personalidade no seu disco de estréia. Distribuido pela Tratore, é raro de se achar e bom de se ouvir.

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Porque hoje é sábado e estou em Niterói, há uma perspectiva de nadas exorbitantes. Velhos seriados, filmes em pilhas, Marisinhas aos Montes. E uma dor esquisita no flanco esquerdo.

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O filme australiano A bela adormecida, que pretende dar uma conotação adulta, realista e pornográfica ao clássico Disney, é uma boa merda. Fuja!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Longe das cercas embandeiradas que separam quintais

Séries inglesas quase sempre são mais interessantes e inteligentes. Não poderia ser diferente com The body farm. Um bando de cientistas esquisitos trabalha numa fazenda estudando cadáveres. Um detetive os contrata para desvendar os assassinatos. Nada poderia ser mais mórbido, denso e bom de ver. Tem uma canção no quinto episódio que me deu um nó. Parece uma canção italiana, sombria, meio Tom Waits. Uma bela obra que ainda não descobri quem escreveu ou quem canta. Tentei o google, mas não veio.
Não sei por que, me lembrei do Ouro de Tolo do Raul Seixas hoje descendo a Baía. Deve ter sido a festa das meninas de Miracema. Minha vida parece estar sintonizada com a do sujeito sentado no trono de um apartamento com a a boca escancarada, esperando a morte chegar. Acostumei-me às séries inglesas, aos silêncios de Laura, aos biscoitos limão e ao sono leve. Sair dessa inércia deve ser um dom do espírito.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Filme, pedra e Dori


Ainda teve o feriado de segunda. Decretei que iria hibernar. Afinal, ninguém aguenta tanta festa. Vi, com Laura, e portanto em excelente companhia, o filme The kids are all right, cujo título bizonho no Brasil foi Minhas mães e meu pai. Outro filme que não me disse a que veio. Achei um tanto caricato para um filme que se propõe a contar a história de uma família nada convencional. E um desperdício de Annete Bening, Juliane Moore e a pitéu Mia Wasikowska, a complicada Sophie da primeira temporada de Em terapia.
Depois a pedra voltou como quem não quer nada e meu rim esquerdo doeu até meia noite. Nada que 60 gotas de buscopan composto e muitos litros de água não melhorassem. Hoje ainda cambaleei um pouco, mas está dando pra levar. Agora só falta essa! Já não bastam a calvície, o pé chato, a gordura e a comida a quilo, ainda tem o rim esquerdo!?!?!?
Há mais um disco de Dori Caymmi rondando por aí. Já deu no Mauro Ferreira, já saiu no segundo caderno, só não apareceu na loja ainda. Discos do Dori são assim. Tomam um chá de sumiço quando são lançados, mas quando aparecem, costumam ser obra prima de não ter defeito.
Seja muito bem vindo, horário de verão. Tudo parece acontecer de forma mais ordenada e as esperanças não se perdem nuca.

domingo, 16 de outubro de 2011

As meninas de Miracema e seus amigos

Demorei pra aderir. Como sempre, quando aparece uma novidade boa, eu desconfio. Foi Alexandre quem acabou me convencendo. Nesses dois dias de férias, deu tempo de sobra pra me preparar para o evento.
Rever velhos amigos pode ser uma armadilha. Por precaução, tomei todas as que pude na sexta-feira. Deu certo. Diferente dos outros, a minha humanidade costuma estar cinco doses abaixo no normal. Meu normal é um sujeito travado. E, que ningúem se engane, é balela acreditar que a vida começa aos 40, que dirá aos 50. O jeito foi encher o talo pra encarar.
Cheguei lá desarmado e o que vi me encantou. Estavam todos no mesmo nivel de desarme, não havia gatilhos, não havia ataque nem defesa. Cumprimentei quantos pude, a meia trava me impediu de cumprimentar todos, a quem peço as mais humildes desculpas.
Foi uma bela festa de dois dias. No primeiro, imperou o coração e a alma de Wilder Alvim. Tudo conspirava a favor da presença dele ali. Beth Bruno soberana nas canções escolhidas a dedo já deu o tom para Marcos Sabino trazer definitivamente, Wilder para a festa. Com o Dim, veio o Nogueira, senão para todos, no meu coração ele estava lá.
É difícil nominar quem faltou, mas pelo menos duas grandes paixões, uma da infância e outra da adolescência.
E foi bom descobrir que algumas meninas parecem ter tomado formol pois conservaram no semblante, o frescor daqueles tempos bons.
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De resto, o final de semana foi mesmo de estar em paz com Luisa e Chicó. Vimos bons filmes, rimos bastante, a vida fluiu leve e sem atropelos.

sábado, 15 de outubro de 2011

Madrugada 3 e 5

Briguei com você
Madrugada três e cinco
Três e dez me arrependi
De fazer você sofrer.

Mas eu tinha razão
De fazer aquela cena
Porque às vezes vale a pena
A gente se arrepender.

Briguei com você.
Já sabia, todo dia.
Vai ser assim.

Curar meu ciúme.
Meu amor que bom seria,
Mas eu gosto de você.
Muito mais do que de mim.

Antônio Maria

Não briguei com ninguém, até porque não tinha ninguém para brigar. Mas tive a felicidade de chegar em casa madrugada 3 e 5. E aí resolvi postar a canção de Maria, que só Nora Ney poderia ter gravado.
Boa noite.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Agonizando no DETRAN Miracema

Pra quem esperava o filme do ano. Pra quem esperava conviver com Porter, Hemingway, Picasso e outros que habitaram Paris nos anos 20. Pra quem esperava um alter ego perfeito para Woody Allen. Enfim, pra quem guardou todo o tempo por um momento especial para ver o filme do ano, confesso que Meia noite em Paris foi bastante desapontador.
O fim de tarde de quarta não poderia reservar um cenário melhor. Chovia fino em Miracema, Luisa estava aqui comigo e me deu aquela sensação de "aqui vai uma lição de cinema para minha menina". Nem acho que ela tenha gostado tanto quanto demonstrou.
Meia noite em Paris está longe de ser um filme ruim. Mas deixou uma sensação meio didática acerca da cidade e seu tempo. Allen ficou devendo pra mim e eu pra Luisa.
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O Fluminense bancou do próprio bolso pra trazer Fred de volta do México. O capitão compensou com sobra. Num jogo difícil. alternando momentos de dureza e equilíbrio, sobrou a estrela de Fred pra por o Flu na frente com três gols, sendo um de bicicleta. Estamos dentro!
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Gramei duas horas e meia na fila do DETRAN de Miracema para não resolver. A vistoria foi feita, mas, sem sistema, não puderam emitir documento nem placa. Pelo jeito, a agilidade e a desburocratização não chegaram ainda a essas plagas.
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Logo mais tem Meninas de Miracema e seus amigos. O fim de semana promete!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Em paz com meus filhos

Dois dias de férias graças a Nossa Senhora Aparecida, com pequenos intervalos para responder mensagens urgentes e fazer a vistoria do carro.
No dia da Santa, fiquei vendo o terceiro filme da trilogia Parque dos Dinossauros com Chicó e fui até à casa do Jadim alimentar a Serena. A cadela parece ter espichado um metro desde a última vez que subi ao Vale do Cedro com Jadim. De coisa em coisa, inúteis e agradáveis, foi passando o dia.
De noite, saímos para comer pizza e conversar um pouco como há muito não fazíamos. Só Laura fez falta na noite.
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Walter White se foi e nada tão intenso quanto ele, nem Dexter Morgan, nem Nuck Thompsom, está por vir. Acho que Breaking Bad deveria ter terminado ali. Mas já li comentáros de que terá uma quinta temporada. Que venha, mas a chance de estragar o desfecho perfeito da quarta é grande.
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Na viagem, fui novamente contaminado pela música do Cabo Verde e as mornas de Cesarea Evora, Tito Paris, Ildo Lobo e Teofilo Chantre pontuaram a Serra do Capim.

domingo, 9 de outubro de 2011

Uma Canção Necessária




Não há dupla mais profícua na música brasileira atual do que Wisnik e Guinga. Os dois se juntam no disco de Wisnik na Canção Necessária. Tem uma historia curiosa: de tanto esperar pela letra de Wisnik, Guinga acabou entregando a música para Mauro Aguiar, que a letrou como Uma canção desnecessária. Mas Wisnik não se fez de rogado e colocou sua própria letra. Quem ganhou foi a canção brasileira que ficou com duas letras irretocáveis para uma única música.
Não há reparos a colocar nesse Indisível. Cada dia se descobre uma obra prima. Permanece desde 4 de julho no Itreco.
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Descobri mais um disco de Ildo Lobo na rede. Chama-se Intelectual e é de bom tom, ouvir em oração. Nesse momento, Regresso está colada no meu ouvido lacrimoso.
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Não adianta chorar o leite derramado. Como diria Machado, ao vencedor as batatas. Acho que Chicó não viu ainda um Fla Flu como os que eu vi, com gols de barriga, goleadas históricas, decisões memoráveis. Ainda não foi dessa vez.
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Terceiro evento seguido em Búzios. Só com muitos amigos mesmo pra ficar bom!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Body and soul

"Criada por Terence Winter, a séria Boardwalk Empire extrai da realidade americana dos anos 20, um comentário atualíssimo nesses tempos de ditadura do politicamente correto: não há atalho mais rápido para a dissolução moral que a imposição de regras de comportamento em nome de um suposto "bem comum"."
Da crítica da Veja.
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Francisco Bosco, no Globo de hoje, discorre sobre as dificuldades de ser jurado de concurso literário. Foi minha leitura na Baía.
Segundo Bosco, a primeira parte trata de separar o joio do trigo: escolher, por exemplo, entre 180 textos, o que é bom e ruim. É um filtro mais fácil. A pior parte é separar o joio do joio, quando todos os filtrados apresentam o tripé 1 - bom domínio do idioma; 2 - conhecimento da questão explorada; e 3 - capacidade argumentativa. Os valores passam a ser intangíveis e se concentram mais na inventividade e na habilidade do escritor.
Costumo ser pego de surpresa com determinadas críticas que conseguem alinhavar em uma única frase, todo o significado de um cenário inteiro. A última que me pegou foi essa aí em cima da Veja. É, como diria Itamar Assumpção, por que é que eu não pensei nisso antes (?), pois se trata de resumir a série e ao mesmo tempo, traçar um paralelo entre aqueles tempos e esses com uma objetividade admirável.
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Aznavour e Benett envelheceram mas mantiveram seu charme nas canções, na boa escolha dos repertórios e nos arranjos. A diferença é que Charles Aznavour ainda compõe e investe principalmente em repertório inédito, e não desagrada em nenhum dos dois. Já Tony Bennet gravou mais um indefectível Duets, que vale pela bela participação de Amy Winehouse em Body and soul.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Layla




Pattie Boyd foi a musa inspiradora de George Harrison em Something, mas seu nome na história do rock ficará eternizada pela célebre versão de Layla, do Derek & The Dominos, composta pelo Deus Eric Clapton. Casada com Harrison, Pattie Layla foi assediada sem meias palavras por Clapton, mas só cedeu aos seus apelos muitos anos depois quando o guitarrista passava por uma fase pesada no vício. Pattie adotou Clapton e foi fundamental na recuperação dele. Tudo isso pode ser lido na biografia de Eric Clapton ou na wikipedia, mas as múltiplas versões da canção, só no coração de quem as ouve. Porque Clapton parece recriar Layla a cada nova interpretação, como essa do disco que lançou recentemente com Wynton Marsalis, ouvida duas vezes nessa Baía de Guanabara. Um luxo!
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Prometo não escrever de rock pelos próximos dois ou três anos. Volto agora sem atropelos para o fado de Jorge Fernando, o tango de Piazzolla e o chorinho de Pixinguinha, lugares onde me sinto mais seguro!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Meninos, eu vi





O pior encontro casual da noite ainda é o do homem autobiográfico. Chega, senta e começa a crônica de si mesmo: "Acordo às sete da manhã e a primeira coisa que faço é tomar o meu bom chuveiro". Como são desprezíveis as pessoas que falam no "bom chuveiro!" E segue o parceiro: "Depois peço os jornais, sento à mesa e tomo meu café reforçado". Ah, a pena de morte, para as pessoas que tomam "café reforçado!" E a explanação continua: "Nos jornais, vocês me desculpem mas, a mim, só interessa o artigo de Macedo Soares e as histórias em quadrinhos". Nessa altura o autobiográfico procura colocar-se em dois planos, que lhe ficam muito bem: o que ele julga de seriedade política (Macedo) e o outro, de folgazante espiritual (histórias em quadrinhos).


Antonio Maria, O pior encontro casual.


O pior encontro causal nesses dias de Rock in Rio é o sujeito que vira de repente, um expertise em rock. Ou porque foi ou porque leu ou porque viu na TV, verdade é que você acaba inadvertidamente recebendo uma verborréia gratuita de conhecimento roqueiro. O melhor é se comportar como manso lago dourado e deixar que essas coisas passem pelos ouvidos e sigam seu fluxo descargatório.
Em 1986 estreava no Brasil o filme A testemunha, com Harrison Ford e Kelly McGillis. Quem viveu aquela época há de se lembrar da cena célebre na garagem, em que os dois dançaram ao som de Wonderful world. Naquele tempo, eu já era um sujeito aflito: gostava de uma música e já queria saber tudo sobre ela. Demorei pra descobrir que era Sam Cooke que cantava pra nós na cena. Quem deu a dica foi o Jeff, um amigo americano que aparecera com Ricardo Seixas em Miracema. Além da preciosa dica, que me levou à música de Sam Cooke, Jeff me apresentou ao REM, através de uma fita cassete com o disco Reckoning. Quando o REM veio a fazer sucesso no Brasil com Losing my religion do disco Out of time já era 1991 e a gente já conhecia e amava sua música. Vieram outros, com destaque para New adventures in hi fi, Automatic for the people, e o último, Collapse into now.
Esse mesmo REM anunciou o fim da banda essa semana. Lamento. Serviu pra azedar ainda mais os encontros casuais do Rock in Rio.


domingo, 2 de outubro de 2011

Azedo

" Nunca li sequer um livro de auto ajuda. Certa vez tentei ler "O segredo", porque queria entender como funcionavam esses textos. Achei o livro absolutamente tedioso e, desculpem-me seus eventuais leitores, ofensivo: não só à inteligência, mas à experiência humana em geral."

Francisco Bosco, n'OGlobo de quarta.

"Nas últimas sete noites, ouvi 413 vezes a pergunta: "Ué, você não está no Rock in Rio?" Eu deveria ter imaginado. Eu deveria ter mandado fazer um plástico parodiando aquele clássico do festival. Eu deveria ter colado um "eu não fui" na testa. Não se trata de nenhum juízo de valor sobre o festival, mas uma juízo de valor sobre mim mesmo."

Arthur Dapieve, n'O Globo de sexta.


Em frente ao meu prédio tem um quilo. No Ingá, não tem shopping, não tem Americanas, nem Bobs, mas deve ter dois ou três restaurantes a quilo. Esse em frente ao meu prédio é um quilo caro metido a besta muito comum nos dias de hoje. Almoçamos lá eu e Laura. Sessenta pratas por um carneiro cheirando a sabão de coco, um empanado de camarão passado e um bife. Na verdade foram 60 por uma bife, que dividi com Laura, a única coisa que prestou, além do H2O limão, igualmente dividido.
O leitor desavisado vai me julgar um sujeito sovina. Longe disso. Gostaria de que o meu pagar bem combinasse com o meu comer bem. Mas nessa doença chamada restaurante a quilo, que tenho que suportar todo dia no Centro do Rio e nos finais de semana em Niterói, não dá pra ser feliz. Só aumenta meu desespero pelas polentas e pela bananinha frita da Diô.
Hoje acordei travado. Meio assim sem vontade de botar os pés na rua. Ontem foi um dia muito intenso, deve ser isso. Fato é que acordei e fiz um café aguado, esquentei um pão dormido e fiquei aqui selecionando músicas para minha biblioteca. Pedi à Laura que fôssemos aqui embaixo mesmo comer pra não ter que andar muito. Deu no que deu.
Aí me lembrei desses textos do Chico Bosco e do Dapieve e achei que eram meio que "coisas que eu teria escrito" e resolvi colocar ali para não esquecer.
Ontem, em ótima companhia, repassei os cinco primeiros epísódios de Boardwalk Empire, e toda a admiração que tenho por Scorcese, que dirigiu o primeiro e ganhou um EMMY por ele, não vai me demover nunca: não há pintura mais bonita na história dos seriados do que o quinto capítulo. Aquele que tem Carrickfergus com Loudon Wainwright III no final. Depois vimos o Fluminense derrotar o Santos da forma mais emocionante: aos 50 minutos do segundo tempo. É raça de campeão!

sábado, 1 de outubro de 2011

O metro nenhum



"Pensa
a memória da fonte
de onde a água não
jorra
faz tempo

A fonte de onde
jorra
a maravilhosa não água
do esquecimento"

Francisco Alvim, O metro nenhum

A ponte aérea nunca passou tão rápido. Larguei o jornal de mão e as atenções de um casal de jovens que sentara ao meu lado para me concentrar na leitura d'O Metro nenhum. Vim de São Paulo maravilhado a ponto de recomendar enfaticamente: corra até a próxima livraria e compre o livro de Francisco Alvim antes que se esgote. Porque livros como esse são tão encantadores que deveriam ser contagiosos e se esgotar rapidamente. O metro nenhum é uma fonte inequívoca de busca e compreensão do binômio poesia e vida.
De São Paulo, também trouxe Mariana Aydar (foto), Cavaleiro selvagem, aqui te sigo. Pela versão despojada e tangueira de Vai vadiar, sem no entanto comprometer sua linha melódica, o disco promete. Gosto da cantora, filha do Manga. Não poderia ter uma genética tão favorável!
E ainda de São Paulo, uma piora da minha rinite, uma decisão adiada e uma esperança de que dias melhores venham logo.

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...