sábado, 25 de fevereiro de 2012

Obliviantes


Preciso atualizar esse blog antes que meus três leitores me abandonem.

Antes que eu esqueça, alguns filmes que vi esse ano, além de As canções:

1) Dois coelhos - vi no Odeon antes do show do Geraldo Azevedo. Tem o ritmo acelerado dos primeiros filmes de Guy Ritchie. E tem Alessandra Negrini, estonteante como sempre. 1A
2) Precisamos falar sobre o Kevin - pra quem gosta de cinema como distração e relaxamento, fuja desse. Choca o mais incendiado dos espíritos. E tem Tilda Swinton, excepcional como a mãe do menino. 1 A.
3) O artista - é, como já se tem dito por aí, uma aula de amor ao cinema. Bons desempenhos, boa direção, é filme pra Oscar. 2A.
4) A separação - delicado, envolvente, mexendo em questões humanas doídas, o filme iraniano quase empata com As canções no quesito de melhor do ano até agora. Vi ontem, no simpático Sesc Laura Alvim. 3 A.
5) Roubo nas alturas - muito ruim. Fuja! 1 C

Livros que li:

1) Agora é que são elas, Paulo Leminski - tirado do limbo pelo editor, não chega a ser uma obra prima por tudo que Paulo escreveu e traduziu, mas é muito bom de ler.
2) Se um de nós morrer, Paulo Roberto Pires - é um livrinho pequeno, mas é tão chato que não consegui acabar. Gosto do Paulo cronista do falecido No mínimo, depois da Bravo, mas do livro, não gostei não.
3) Marenostrum, Fauzi Arap - estou lendo, tudo que o Fauzi escreveu é muito bem feito.

Semana que vem eu escrevo dos discos.

Recordações de um velho blogueiro: lembrei hoje desse texto que escrevi em 2009, e deu uma saudade danada do Mário.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Para vivir

"Hoje não passa de um vaso quebrado no peito"

Toninho Horta, Beijo Partido
"Muchas veces te dije
que antes de hacerlo había que pensarlo muy bien
que esta unión de nosotros le hacía falta carne y deseo también
que no bastaba que me entendieras
y que murieras por mí
que no bastaba que en mis fracasos
yo me refugiara en tí.

Y ahora vez, lo que pasó
al fin nació,
al pasar de los años
el tremendo cansancio
que provoco ya en tí
y aunque es penoso, lo tienes que decír.

Por mi parte esperaba, que un día el tiempo se hiciera cargo del fin
si así no hubiera sido yo habría seguido jugando a hacerte felíz,
y aunque el llanto es amargo piensa en los años que tienes para vivir
que mi dolor no es menos y lo peor
es que ya no puedo sentir.

Y ahora tratar, de conquistar con mano afán,
este tiempo perdido, que nos deja vencidos,
sin poder conocer,
eso que llaman.....
amor, para vivir.

Para vivir......... "

Pablo Milanes

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Recados de meia linha

"É doido varrido quem uma vez disser
Que esteve apaixonado por uma hora
Não que o amor tão cedo se deteriore
Mas porque pode devorar dez em menos tempo
Quem me acreditará se eu jurar
Que sofri dessa praga por uma ano?
Quem não riria, se eu dissesse que vi
Um cantil de pólvora arder durante um dia?

Ah, que ninharia é um coração
Se alguma vez cai nas mãos do amor!
Todas as outras dores cedem lugar
A outras dores, e pouco ocupam por si próprias.
Elas chegam até nós, mas o Amor absorve-nos
Engole-nos e nunca mastiga
Como fogo de metralha, mata fileiras inteiras.
Ele é a lança tirana, nossos corações à ralé.

Se assim não fosse, o que aconteceu
A meu coração, da primeira vez que te vi?
Trazia um coração quando entrei na sala,
Mas da sala parti, sem levar nenhum.
Se tivesse fugido para ti, sei
Que teria ensinado o teu coração a mostrar
Mais clemência para comigo: mas, infeliz!
Ao primeiro toque, o Amor estilhaçou-o como vidro.

Porém, nada em nada pode se converter,
Nem qualquer lugar ficar de todo vazio,
Por isso penso que no meu peito, estão ainda,
Todas essas partes, embora desunidas;
E agora, como espelhos partidos que mostram
Uma centena de faces menores, assim os cacos
Do meu coração podem gostar, desejar e adorar.
Mas depois de tal amor, não mais podem amar.'

John Donne, O Coração Partido.



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Momento numa cantina

"Eu não devia te dizer
Mas essa Lua
Mas esse conhaque
Botam a gente comovido como o diabo."

Drummond, Poema de sete faces

É só uma tentativa de escrever, pois trata de um texto que não pode ser escrito. Trata de um texto que só pode ser vivido.
Por um momento, os dois deixaram os receios de lado, desataram os nós, esqueceram as angústias, e resolveram ser apenas um. Um de dois que se falavam por olhos, bocas, mãos, gestos e palavras.
O condão de falar pelos olhos só é facultado aos loucos de amor. Para quem não experimentou, é como se ver pelos olhos do amor e não ser dono dos próprios olhos. É verso molhado, que remete à orvalho, cachoeira, riacho, brisa do mar. Não pode ser escrito. Não há descrição para a palavra olhada. E, no entanto, não há declaração mais pungente, nem entrega mais intensa. Dia desses num outro momento num café, a garçonete não resistiu à intensidade dos olhos e ficou tão comovida, que ofereceu um chocolate. Cortesia de quem sabe ler dois olhos entregues.
E houve o vinho, o violão que tocava aquela canção do Danilo, O bem e o mal (eu guardo em mim dois corações...), e a noite niteroiense parecia ser só de dois.
Traduzir o amor (?), nem Bandeira, nem Drummond, nem Vinícius, nem Cecília. O amor daquela forma pura e clara é intraduzível. Só posso dizer que tudo que sei de felicidade compartilhada, de paixão a flor da pele, de vontade de morrer para guardar e ao mesmo tempo de viver cada minuto, eu vivi ali, nas horas eternas daquela cantina.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Tempo tempo tempo tempo

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...

Caetano Veloso, Oração ao Tempo


A Oração ao Tempo ganhou mais uma versão boa no final do ano passado: a de Maria Gadu, que lançou um bom disco, fugindo das obviedades que se esperava de alguém que fez muito sucesso no primeiro cd. Conheço muitas versões da canção, Bethânia inclusive fez um show baseado nela, mas nenhuma se compara à duas outras em especial: a primeira original do Caetano, do emblemático Cinema Transcedental, de 1979, um dos dez discos que mais tocaram na vitrolinha Philips e outra gravada pelo MPB 4 no disco Tempo tempo. Nessa versão, o tempo parece passar em câmara lenta para nós.

Remexo nas minhas memórias e deixo que ele passe. Por fim, concluo que não há tempo melhor do que esse. Como na canção do Gil, o melhor lugar do Mundo é aqui e agora. Assim, os dias vão passando e o amor cresce a cada minuto. Ainda semana passada, o amor, que resistiu muito a ir a Miracema, acabou por se tornar um pouco miracemense, depois que a cidade se iluminou pra nós e vieram filhos, amigos, canções e afeto. O tempo do amor devia ser todo o tempo, já que o amor preenche tanto, que não cabe mais tempo algum sem que o amor fique por perto.

Eduardo Gudin também está revendo seu tempo: acaba de lançar o obrigatório DVD do show 3 tempos, em que repassa as três formações do seu grupo vocal Notícias dum Brasil. É muito bonito rever Mônica, Maria, Renato, Luciane (que cantora maravilhosa é Luciane Alves), Fabiana, enfim, todas as pérolas que Eduardo Gudin juntou e gravou nos últimos anos.

Onde comer bem no Centro do Rio

O tempo tem mostrado que comer no Centro do Rio é tarefa cada vez mais complicada. Ando limitado aos restaurantes antigos que como há mais d...