segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Enfim um tributo a Clara Nunes

"Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho - um abridor de amanhecer, um prego que farfalha, um encolhedor de rios e um esticador de horizontes."
Manoel de Barros

Depois de muitos anos sem uma semana corrida de férias, é bom estar de volta.
Com efeito, estive de férias. Uma longa semana longe do meu chuveiro e da minha cama favoritas.
Bem que eu tentei seguir os conselhos de Manoel, mas tempo e compromisso são duas coisas que não se diluem na minha agenda. Daí no primeiro dia, desisti de levar um celular alternativo e levei o que bomba mesmo. No segundo dia, desisti de estabelecer uma agenda diária de uma hora para ler e-mails e li o tempo todo. E por aí foi...
Nesse meio tempo,  o Fluminense perdeu para o Madureira e empatou com o Bonsucesso. Bom começo para Renato Gaúcho, que de boa lembrança mesmo, só tem aquele gol de barriga.
Fiquei entre as crônicas de Lúcio Rangel e a autobiografia do Fauzi. Tentei ler um pouco dos dois, é uma escolha dificílima.
Voltei depois de 2 anos a Odete Lima para chegar à conclusão de que ainda não dá. Mas valeu a piscina verde.
Fiquei uma semana em Mangaratiba, no Hotel Portobelo. O resort (como ele próprio se denomina), tem preço absurdo, comida ruim e um certo cheiro de decadência.
De música nova, só ouvi Fabiana Cozza, Canto Sagrado. Já tinha ouvido algumas homenagens à Clara Nunes, duas inclusive recentemente (uma delas acho que só ouvi a capa!, mas uma qualidade incrível da minha personalidade - eu ouço capas!!), mas nada que chamasse a atenção. Fabiana sobra. É (infelizmente) um disco ao vivo, mas nem isso tira o prazer de ouvir. O ano promete e Fabiana é um delicioso começo.
No mais. estou gostando (e muito) do disco do Apanhador só. Escolhido pelo Globo como melhor do ano, tinha passado desapercebido pelo meu Itreco safado. É um ótimo disco de rock.
E também comecei o ano com Celso Viáfora, Amores absurdos. Fui ao simpático Centro Cultural Solar de Botafogo assistir o cantor pela primeira vez e comprei disco e livro. As canções mais cruas só com o violão de Celso ficaram mais bonitas no show, que contou com a boa participação do filho, Pedro Viáfora. Lá pelas tantas Celso soltou uma pérola que me emocionou bastante. Ele disse que quando viu o filho compor, descobriu que nunca mais ficará sozinho. É isso que eu penso quando penso em Laura e Luisa. Poesia e música sempre sobraram na nossa relação.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Minha sofrida antologia do samba canção

Um dos meus pretensos cacoetes é fazer antologias de bordo. São sempre pessoais e dificilmente servem para qualquer outro que não seja eu. Andam comigo no telefone, no Ipod, no carro, no computador de Miracema, onde quer que eu vá. Nesse fim de ano resolvi reorganizar as antologias. Já estão bem resolvidas as de boleros chulos, tangos, foxes (Lucas adora), roques e fados. Resolvi então pegar no samba, começando pelo melancólico samba canção.
O samba canção nasceu nos anos 20 e já foi chamado de samba de meio do ano, sendo que Linda Flor parece ter sido o marco inaugural do subgênero. O andamento lento, sentimental, com menos batuque é ótimo para períodos depressivos
Infelizmente esse calor infernal de janeiro, e uma estranha blefarite, que me coça o olho já meio cego, estão me impedindo de escrever mais. É possível então que esse post leve uma ou duas semanas para concluir.
Primeiro a lista, depois os comentários

1) Canção de amor, de Chocolate e Elano de Paula, com Ná Ozzetti
2) Só pode ser você, de Noel e Vadico, com Marcos Sacramento.
3) Cara limpa, de Paulo Vanzolini, coim Jussara Silveira
4) Verniz, de Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro, com Fabiana Cozza
5) Coração sem saída, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, com Nana Caymmi.
6) Molambo, de Meira e Augusto Mesquita, com Ney Matogrosso.
7) Questão encerrada, de Rubens Nogueira e Paulo César Pinheiro, com Juliana Amaral
8) Você não sabe amar, de Dorival Caymmi e Jorge Guinle, com Novelle Cousine
9) O que é que eu faço, de Dolores Duran, com Nana Caymmi.
10) Notícia, de Nelson Cavaquinho e Alcides Caminha, com Roberto Silva.
11) Cão sem dono, de Sueli Costa e Paulo César Pinheiro, com Dori Caymmi.
12) Águas passadas, de Tito Madi e Mário Teles, com Tito Madi.
13) Tristeza e solidão, de Baden e Vinicius, com Mônica Salmaso
14) Trocando em miúdos, de Chico e Francis Hime, com Chico.
15) Guardados, de Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro, com Sérgio Santos.
16) Navalha, de João Bosco e Aldir Blanc, com João Bosco.
17) Última forma, de Baden e Paulo César Pinheiro, com MPB4
18) Aonde você for, de Chico Saraiva e Fausto Silva, com Luciane Alves
19) Águas passadas, de Eduardo Gudin e Roberto Riberti, com Maria Martha
20) Desapreço, de Cláudio Jorge e Hermínio Belo, com Áurea Martins

Olhando de novo, me dei conta que essa lista parece um tributo a Paulo César Pinheiro, o que só ratifica a minha admiração pelo compositor.
Duas canções de Sérgio Santos, quase um iniciante no meio dos outros, pode parecer exagero, mas gosto tanto de Verniz e Guardados, que não poderia escolher só uma. Fabiana Cozza cantava Verniz pra mim, até a capela se não tivesse acompanhamento,quando íamos à FLIP. Guardados é doída igual Trocando em miúdos, as duas juntas colapsam.
Cão sem dono dói até quando Dori erra a letra e troca a torre do meu abandono pela terra do meu abandono.Já doía antes com Elis.
E Você não sabe amar parece mesmo ter sido feita pra voz de Carlos Fernando. 
Acho que é isso.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Quero ser Antonio Maria

"Agora, nova e necessária estatística se impõe.O disco é material frágil, fácil de quebrar. Para transportá-los, da cidade até a nossa residência, serão necessários, no mínimo, dois grandes caminhões com carregadores adamados. Colocados em álbuns, serão necessárias 1.333 unidades ao preço de 605 cruzeiros, ou seja, Cr$ 86.645,00. Três grandes salões serão transformados em discotecas. Ora, como possuímos apenas duas pequenas salas em nossos apartamentos, teremos de alugar um outro, pelo menos igual ao do Sr Walter Quadros, isto é, pagar um aluguel de Cr$ 40.000,00 mensais. Para que possamos ouvir todos esses discos, serão necessários 48 mil minutos, com a média de 3 minutos por face de disco, multiplicados por dois, ou 96 mil minutos, ou 1.600 horas, ou 66 dias integrais, sem dormir, sem trabalhar, sem comer, o que seria a morte."

Lúcio Rangel, 16.000 discos, apenas, janeiro de 1954

O bom desse início de ano é que as obrigações de trabalho não ficam se atropelando, e com calma, dá tempo até pra escrever. É a única coisa que presta nesse janeiro cheio de Is e sensação térmica de 50º. 
Na ponte aérea, leio Os Globos atrasados da última semana.
Artur Xexéo fez uma bela crônica sobre a biografia de Wilson Batista recém lançada. Não deixa de ser louvável, mas depois que o cronista passou a ser mais roteirista e autor de teatro do que cronista, dá pra desconfiar que pode ser mera propaganda de um dos seus próximos musicais. 
Joaquim Ferreira dos Santos voltou às segundas no Globo.O cronista parece procurar se aproximar dos textos do Maria e do Braga, mas ainda não consigo ler uma crônica inteira sem ficar levemente enjoado.
Passo batido também por Daniel Galera, Francisco Bosco, Caetano Veloso, Tony Belloto ... bem, vai ver que sou eu que estou sem paciência para ler.
Sobrou-me, ao final, o indefectível amendoim da Gol. Não consigo dispensar esse raio de amendoim.
Eu não ia comentar, mas depois de tantos desapontamentos aéreos, a Gol fez uma coisa próxima do ótimo: aumentou o espaço entre os bancos na ponte aérea. Tomara que dure bastante.
E, sim, estou lendo e me deleitando bastante com Samba Jazz e outras notas, seleção das crônicas de Lúcio Rangel feita por Sérgio Augusto.Dessas, não dá pra perder uma nota.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Entretenimento em 2013

Vi pouca coisa em 2013. 
Os shows que mais gostei já estavam planejados há muitos anos. É gente que vem pouco ao Rio, como Rosa Passos, Vitor Ramil e Ná Ozzetti. Ou a oportunidade única de ouvir fado português sem estar em Lisboa. Ou ainda a última chance de ver O fim da canção. 
Cinema da mesma forma. Vai ficar faltando muita coisa nessa lista, que não deu pra ver.
Televisão foi o que mais vi e mais me desapontei. Era mais fácil apontar as cinco decepções de 2013, começando pela última temporada de Homeland (um horror!) e a quarta de Boardwalk Empire (tirando obviamente Daughter Maitland). Ou outras que comecei a ver e parei no meio - The Following, Hanibal, etc. Minha lista acabou com um único e honroso representante. 

Shows:

Rosa Passos no Rival
Vitor Ramil no Teresa Rachel
Antonio Zambujo e Ana Moura na Cidade das Artes
Wisnic, Tatit e Nestróvski no Espaço Tom Jobim
Ná Ozzetti no Rival

Filmes:

Django livre
Frances Ha
A sorte em suas mãos
A caça
Argo

Televisão:

A primeira temporada de Masters of sex

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Cravo branco

Não dá pra esquecer que 2013 foi um ano de outras grandes perdas culturais. Dominguinhos, Gandolfini, Vanzolini e Dória foram as que mais senti.
Vi Jorge Dória interpretar Moliere na Escola de Mulheres acho que foi no Teatro Leopoldo Fróes, de sair dali encantado, não sei se mais com Dória ou com Moliere. Acho que mais com Dória. Dessa velha guarda, foi o que mais assisti. Assisti também Rubem Correia, Paulo Autran e Fernanda. Por sua veia cômica irresistível, nenhum me encantou mais do que Dória.
Paulo Vanzolini apareceu na minha vida quando comecei a gostar de samba. Faz muito tempo isso. Até hoje, Praça Clóvis sempre abre o meu indefectível repertório de oito canções ao violão. Quando a Biscoito Fino resgatou a música de Vanzolini no importantíssimo Acerto de contas, fomos eu e Letícia ao Teatro Leblon vê-lo de perto. Quando vamos ao Margarida Café em Paraty, Maria Martha (ainda estará lá?) já sabe que queremos ouvi-la cantar a obra de Vanzolini. E começa com Cravo branco, que é impossível ouvir e não lembrar do Mário.
Desde o disco Refazenda, a melhor coisa que Gilberto Gil gravou em toda a existência, que sou apaixonado pela sanfona de Dominguinhos. Os dois discos em que repassou a obra de Luiz Gonzaga são de cabeceira, assim como aquele que gravou com Sivuca e Osvaldinho. Mas o que mais me emocionou, o que foi mais ouvido, é um disco da Victor que nunca saiu em cd: chamava-se Estrelas somos nós.
Assisti a todas as temporadas dos Sopranos, provavelmente mais de uma vez cada. James Gandolfini tinha a minha idade quando se foi. Mais um erro absurdo dos desígnios de Deus.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

No chão sem o chão

O blog está fazendo seis anos. A proposta continua a mesma: escrever pra mim mesmo, escrever pra não esquecer, escrever pra ler de vez em quando alguma bobagem que escrevi no longínquo 2009.
De uns tempos pra cá, deixei de cantilenas pessoais. Toda vez que retorno à elas, elimino o texto no dia seguinte. Textos pessoais não duram 1 dia.
Tudo mudou nesses seis anos. Eu principalmente. Perdi muito mais do que ganhei. Fiz escolhas erradas, bebi fel e gasolina, rezei duzentas novenas, não adiantou de nada, continuei perdendo.  Pai. mãe, saúde, investimentos pessoas.
Quando olho pra trás, ainda consigo ver no meio da poeira que alguma coisa valeu.
A convivência com meus filhos, vê-los crescendo e aparecendo, cada um a sua maneira. E reconhecer aqui e ali, um pouco do legado que deixei e está transferido de forma irreversível.
Meu gosto desordenado por música e poesia, cada dia mais apaixonado e vivo em mim.
Meus três ou quatro amigos que ficaram, e que nunca deixarão de ser.  
Meu porto seguro miracemense e uma saudade triste de Odete Lima, onde não volto mais desde os meus 50.
Quatro parágrafos e nem tudo está perdido. Nem tudo está irremediavelmente perdido.


Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...