sexta-feira, 8 de maio de 2015

Vamos por aí, eu e meu cachorro



Acordo. 


Já vai longe o tempo que acordava e pulava da cama, como recomendava meu avô, para fazer o dia maior. Acordo muito lento e com um amargo na boca dos remédios de ontem. Tateio meus óculos e caminho lento para o banheiro. O 1009 me espera atento.



Já vai longe o tempo que gostava de cães. Lembro das caçadas com meu avô e com meu irmão, e das piaçocas e saracuras. E da morte do Bolinha atropelado pelo Jeep da Força e Luz.

Deve ser dessa época que deixei de gostar de cães. O latido me assusta, o cheiro me enoja, a possibilidade de passear com um cão me dá repulsa.
Quando morei em Odete Lima, tinha gansos. Os gansos latem e até atacam quando precisam. Não havia necessidade de cachorro.
A única aproximação favorável que tive com os cães nesse tempo todo foi através do conto "meu companheiro" do Drummond, que li e ouvi inúmeras vezes.
Bom, isso tudo foi até conhecer o Horácio. 

Quando Laura me pediu por ele, rejeitei de pronto. Nada de cães!, devo ter bradado. Com o tempo e o sentimento sincero de que Laura precisava de uma companhia, assenti. 
Nas primeiras visitas a Niterói, procurei ignorá-lo, mas ele não permitia. Fazia uma festa barulhenta com minha chegada. Conformado, acabei tentando me adequar aos seus agrados. Logo passei a gostar dele, mas ainda era um gostar distante. Ele lá e eu cá.
Dia desses viajamos juntos pra Miracema. Foi a deixa para que a amizade e a admiração se consolidassem.

Nesse último domingo retornei a Niterói vazio e triste, a procura de Laura e de uma boa conversa, mas Laura não estava. Horácio sim.

Precisava chorar um pouco e Horácio viu, constrangido, meu choro frouxo. Do jeito que me olhava, parecia chorar comigo. 
Depois vimos Nana Caymmi, Rio Sonata, eu deitado no sofá e Horácio próximo ao meu pé, silente, escutando atento às canções. Vez ou outra, numa cena de rua, Horácio exultava e latia.
Depois peguei o computador e comecei a digitalizar e ouvir os clássicos discos de Eduardo Gudin com o Notícias dum Brasil. Horácio ficou ali comigo, parceiro atento, sem atrapalhar.
Quando me dei conta, a noite já tinha caído. Despedi-me do amigo e voltei para casa com a alma mais leve e o coração tranquilo.


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Fui deitar contas à vida, fiz as quatro operações

Ha um grande cansaço de explicar o mar.
Wisnik

Oh, mar porque reclamas todas as aguas para ti.
Miguel Jorge

Acordo. 
Atrasados, vc para a academia, eu para o Santos Dumont. Mesmo assim tomo um café rápido para evitar os cafés do aeroporto e pior, o café da Gol. Tudo da certo no taxi e no embarque. Acabo, por uma manobra milimetrica e do destino, antecipando meu voo para o 1007. 
No ar, leio o jornal de hoje.
Primeiro caderno: Zuenir, Anselmo, a saida de Marta do PT, o lava jato.
Segundo caderno: a morte de Abujamra, Fred Coelho (que me da conta da despedida de Wisnik que ainda não li), que Zelia será colunista do jornal, Domingos.
Noticias do Fluminense e Fernando Calazans. Fim.
Obviamente hoje é quarta e sinto falta do Xexeo. Acho que a qualquer momento, tal qual aconteceu com Joaquim, ele vai voltar.
A unica nota que me comoveu nessa extensa leitura foi a declaracao do diretor João Fonseca sobre Abu: "Eu não sei o que falar. Perdi meu pai. Ele me inventou. Ele me deu a maior oportunidade da minha vida, me ensinou tudo que sei.". Penso rapidamente nas pessoas que me inventaram e ainda me inventam e na divida de gratidão que sempre tereicom elas. Nas que me desafiam, nas que me instigam, nos poucos amigos que ainda tenho.
No voo, é Ná quem me complementa. Ná e Wisnik. Pode ser baixado gratuitamente, mas obviamente comprarei o disco físico. É peça de colecionador.
O mais impressionante desse disco é de que ele não é feito de canções inéditas, a maioria são do século passado,escondidas num velho baú, esperando por esse momento único. Que bom poder ouvi-lo. Até esqueci dos fados. Para comparar, como diria Vinicius, na América Latina, só Jobim e Piazzola.

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...