domingo, 29 de novembro de 2009

Assim seja


Vou tentar fazer o meu melhor diante das circunstâncias em que me encontro aqui na minha torre.
Luisa, eu acordo, levanto e sigo em frente por você. Eu pego o ônibus 47 carregando você no lado esquerdo. A cantareira reconhece sua sombra ao meu lado na baía. Meus amigos no trabalho já descobriram minha cara de babão. Até o Raimundinho e o João da Escuta Som sabem que você me habita. As igrejas do velho centro por onde passo ficam mais iluminadas por você. O moço que faz capuccino no Palheta sorri pra mim porque reconhece você em mim. Nas estradas, é você que me toma conta. Eu vejo você nos cruzamentos perigosos, nos sinais vermelhos, nas grandes retas e nas esquinas. Em Miracema, O Bunda de Fora fica triste quando vou sem você. Mas logo se alegra, pois sabe que você está comigo.
Desde menininha aí nessa foto de dois anos até seus 14 de antes de ontem. Desde que você tossia de noite, desde que você perdeu seu primeiro dente, desde que você ainda muito novinha, vinha procurar seu presente quando eu chegava, desde que você sentiu necessidade das lentes de contato, desde sempre eu estava lá. Eu estou lá.
Estava lá quando viajamos pra Niterói, Guarapari, Itacaré, Ajuda, Paraty, Angra, Paraiso do Tobias.
Porque às vezes existir para mim, foi nada mais do que uma esperança enorme de ver você crescer, de ver você com 14 ou 22. São sempre meus sonhos mais pungentes.
Você está o tempo todo comigo, minha vida. E espero que assim seja para sempre.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Amanhã

Desonra, o filme, é bem provocante, por mais que você não entenda por que tanta provocação. O que quer o autor com a exposição nevrálgica de tanto preconceito? Tive preguiça de ler o livro do Coetzee lá pela metade. Pensando bem, na verdade foi Vida e época de Michael K que não li todo. O filme, vi todo. Malkovitch como sempre, brilhante. Coetzee parece querer falar de preconceito racial, de resignação, de homens e mulheres feridos, e o faz com grande aspereza.
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Fernanda Young nua na Playboy é, no mínimo, esquisito. É como se a Bárbara Borges escrevesse um episódio de Os Normais.
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Resolvi voltar a escrever depois que concluí que não adianta brigar com a tela. A tela, quando muito, não atrapalha. É que eu só conseguia escrever de mim e acabava achando tudo muito exposto. Também tenho tido aulas de resignação. Dor e amor nunca duraram tanto tempo juntos. E a propósito de dor e amor, não me canso de ouvir meus fados. Os novos discos de Ana Moura e Jorge Fernando já furaram a agulha do meu shuffle. Há também os frevos arretados do Siba, o novo de Joaquin Sabina e a ótima trilha de Life on mars. E esse calor de inferno de repente enquanto ouço e atravesso a baía.
E há amanhã. Amanhã ninguém sabe.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Por um dia

"Perguntares como é que eu estou, não e quanto baste
Quereres saber a quem me dou, não é quanto baste
E dizeres para ti morri, é um estranho contraste
Nada mais te liga a mim, tu nunca me amaste

Telefonas para saber como vai a vida
E mais feres sem querer minha alma ferida
E assim rola a minha dor pássaro ferido
Que não esquece o teu amor, estranho e proibido

Deixa-me só por um dia
Minha fria companhia

Dizes ser tão actual ficarmos amigos
No teu jeito natural de enfrentar os perigos
Sem saberes que tanto em mim, ainda arde a chama
Que não perde o seu fulgor que ainda te ama

Deixa-me só por um dia
Minha fria companhia"
Jorge Fernando

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Crimes de autor


Fui à dentista pra chumbar uma panela, como diria Morengueira, e agora fica esse gosto de sangue na boca ainda meio anestesiada.
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Antes disso, vi Crimes de autor, Claude Lelouch, um filmaço. De sorte que o amor levou minha identidade, meu nome, minha dor de cabeça, mas não levou meu bom gosto, nem meu João Cabral, nem levou os filmes. Há muitos para serem vistos e isso independe do amor. O tempo também não passou para Fanny Ardant, que continua deslumbrante.
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Cada dia é um dia e a gente vai tirando da conversa dos amigos, do afeto dos filhos, das boas canções, dos filmes e dos livros, o aprendizado necessário para suportar a dor.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Recomendação para os bons puteiros

Adorei que tivessem - sei lá quando -, inventado a camisa de dois bolsos. É possível carregar celular e Ipod sem prejuízo para nenhum. Renatinha descobriu pra mim.
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Mais um Ney Matogrosso estupendo. Beijo bandido não deve nada a seus melhores discos. Já vi Ney muitas vezes, mas a que mais me emocionou foi em meados dos 80, no Teatro Carlos Gomes, eu e Fábia, naquele memorável show com Moreira Lima, Rafael Rabelo, Paulo Moura e Chacal. Volto a ele porque aí talvez esteja o único defeito do disco novo. Eu acho que Ney nunca vai fazer um Segredo tão bonito quanto o daquele show.
Pequeno defeito à parte, o disco é impecável. Ney foge dos violões dos ultimos discos e o centro dos arranjos passou a ser o piano de Leandro Braga. Faz um Bicho de sete cabeças assombrosamente bonito, um Roberto Carlos (A distância) à moda de Ney, íntimo, contido, certeiro. Volta aos tangos (Tango pra Teresa) e boleros (De cigarro em cigarro), que não fariam feio aos melhores puteiros do país. Infelizmente, até os puteiros se renderam aos sertanejos e pagodes de péssimo gosto.
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A viagem pra Miracema hoje foi precisa como sempre. Evitei os fados. Ouvi Arnaldo Antunes, Mutantes, milongas e, -tá bom!!!- alguns ótimos e sofridos fados!!!


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Quem ainda pode gostar de Abgar Renault??

"Não me dói o que sou:
dói-me, sim, o que fui
no uso que fiz de mim."



"Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê, levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes veio,
sem quê, nem por quê, encher meu coração vazio...vazio...
Eu hoje estou inabitável...
A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada fazendo a pé um raio impossível.
Ah! se eu pudesse me embebedar e cambalear...cambalear... cair,
e acordar desta tristeza que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso: eu hoje estou inabitável... "

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sorte no jogo

Desde que você se foi, incrível(!),
O Flu passou a ganhar todas,
O Cuca passou a ser um técnico vencedor e
Fred finalmente está se mostrando a que veio.
Milagrosamente, o matemático Tristão
Deve azedar mais uma vez suas previsões
E o reabaixamento será só ameaça.

Desde que você se foi, incrível(!),
Ganhei um net book num sorteio.
Logo eu,
Que nunca ganhei nem palito de dente.

Desde que você se foi,
Eu oro todo dia.
Para que você se vá de vez,
Pois sorte maior
Seria que você se fosse simplesmente,
E não ficasse nenhum rastro seu no meu oráculo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Me acalmo danando


Conforme fiquei o tempo me embalava.
Se a chuva é mais forte, a enchente levava.
Colete de couro com fios de nylon
No dia seguinte, o seguinte falhou.
Luiz Melodia
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Sou do tempo em que uma boa conversa era o elixir ideal para se ganhar uma mulher. Hoje as mulheres não conversam mais. Só querem saber de dançar. E lá fui eu pra boate do hotel consumir na dança o alcool que havia consumido. Nenhum prazer além de ficar ali dançando aqueles funks embestados. Sinceramente, a única mulher que me deu tesão foi Sandra Carreirinha. Não pela pretensão de qualquer coisa (temos um imenso respeito um pelo outro), mas parecia ser a única mulher verdadeira ali. O resto era um bando de assexuadas se insinuando, mas nada muito molhado, tudo muito seco. E dá-lhe créu. Não sei não, Nelinha. essa sua idéia de me levar pra Lapa pouco me apetece. Sou um homem do século passado. Minhas intenções (más ou boas) ficaram lá.
E Kelen, você tem toda razão. Beleza é uma das canções do ano. É o desejo possível aflorando por trás dessas bobagens todas!
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Acabei indo e assistindo inteira a cerimônia de inauguração. Foi a primeira vez. A mesma falácia inútil de sempre. Não vou ficar entrando em detalhes, mas pra mim não dá. Cerimonial é dose pra leão!
Essa porra desse blog de vez em quando muda a letra, muda o tamanho, muda o lay out sem apertar um botão sequer.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

No Vila Galé

Cheguei aqui no Resort Vila Galé em Angra (3A) meio desconfiado de mim. Não tenho estado muito bem sozinho em quartos de hotel e a espectativa não era das melhores. Mas o almoço (1/2A) com Sandra Carreirinha e o Professor renovaram o ânimo. Quando entrei no quarto (3A), dei falta do soro fisiológico. Adormeci e acordei entupido e com dor de cabeça perguntando onde estou e quem sou eu. Enquanto não providenciaram o soro, não dei conta de mim.
Viajei com old orquideas, velhas amigas da empresa. Fiz uma seleção de canções óbvias para a viagem. Mas acho que gostaram mesmo das minhas canções de afeto. E Fernanda Takai, que tocou durante o último pedaço da viagem, adoraram. Realmente é um disco adorável. Uma homenagem muito especial para Nara Leão.
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Meu sono vem meio tumultuado desde o apagão de antes de ontem. Sonho com interrupções bruscas. Três dos meus melhores amigos baixaram hospital nos últimos dias. Ando com medo. Voltei a ler, depois de 29 anos de interrupção, Balzac (A mulher de 30 anos) e estou vendo o seriado francês. Depardieu faz um Balzac atormentado e feliz. Também vi um filme perto de horroroso com Bruce Wilis (O substituto).
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Nesse momento, Adriana Varela destroça Un vestido y un amor aqui nesse netbook. Eu agradeço.
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Conhece Francisco, aquele que nunca vai à cerimônias de abertura? Pois é, sou eu! E hoje é a noite de abertura do evento aqui no Vila Galé!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Vou vivendo

Depois que voltei a escrever, não imaginava que um dia viesse a preguiça de escrever. Pois ela veio. Ando preguiçoso e sem saber o que escrever. Farei apenas um relato dos últimos acontecimentos para ver se retorno à velha forma.
Estive esse fim de semana em Miracema com meus filhos. Fui ao Bunda de Fora na sexta e ao Sabor e Arte no sábado. Bebi exageradamente no sábado, o que me deixou oco no domingo e meio oco hoje.
Em Miracema, conversei muito com Laura. Até toquei pra ela uma versão de Five hundred miles, do Peter, Paul & Mary. Estamos nos entendendo por música. Laura é tudo de compreensão, generosidade e afeto que se pode esperar de uma filha.
Suportei com dó de mim, esse calor intenso que anda por essas plagas. Está difícil de andar pelas ruas.
Caí no conto do pen-drive falso. Isso vale como alerta. Um sujeito com pinta de marginal estava na Rio Branco esquina com Ouvidor vendendo pen-drives de 32 gb à 50 pratas. Vi, desconfiei, mas não resisti. Pechinchei e ele caiu para 4o. Pendrive kingston lacrado, tudo certinho. Trata-se de um pen drive volátil. Você enche a memória dele depois vai levar para outro computador e os arquivos somem.
Também vi o Fluminense ganhar do Palmeiras, mas nem isso deu-me vontade de escrever. Tenho tido sorte no jogo.
Renatinha baixou hospital com uma cólica renal e tive pena dela. Nunca tive dessas dores, mas já ouvi falar que é a pior das dores. Não é verdade. Paulo Polzonoff já ensinou que a pior das dores é a dor individual. Mesmo assim, estou torcendo para que tudo passe bem rápido e Renatinha volte logo. Faz-me muita falta.
Estou tentando "ir vivendo". Faço por mim o que posso para continuar de pé e ir em frente.
Voltar a escrever depois de 5 dias, fez-me bem. Como Manoel (de Barros), sou mais condizente com o meu escrever do que com o meu existir.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Lauririri

Retorno a essa foto porque é a que eu mais gosto de nós dois. Era uma época em que eu tinha mais cabelo e menos barriga e você já tinha esses olhinhos brilhantes de quem quer ver o Mundo. Depois eu iria descobrir que eram de quem quer sair pelo Mundo dançando. Depois eu iria descobrir que eram de quem tivesse o afeto e a maturidade de ter olhos amigos para o próprio pai.
Laura, nem sei o que dizer nesse dia. Se pudesse "volver a los 17" que você está fazendo hoje, iria apaixonar-me perdidamente pela menina que dança, que faz, acontece, que brilha a cada passo do caminho, como brilham seus olhinhos nessa foto mágica.
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No fundo do poço, reencontrei Nelinha. Ainda é ela mesma. Solidária, afetuosa, de uma retidão de caráter indescritível nos dias de hoje. E parece feliz com o Mundo. Seu rosto liso denuncia uma serenidade interior muito grande. Está, sem dúvida, muito bem com ela mesma. E faz-me um bem enorme sabê-la assim.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Leva-me aos fados


Leva-me aos fados
Que eu vou perder-me
Nas velhas quadras
Que parecem conhecer-me

Jorge Fernando

Ana Moura é a fadista mais autêntica no cenário musical nos últimos 20 ou 30 anos. Há outras (como Mariza) e outros (como Zambujo), mas ninguém encarnou tão bem e respeitosamente essa música sofrida quanto Ana Moura. Aqui no Brasil é privilégio de poucos. Tive que importar seus discos ou encomendar de amigos que gostam de viajar. Eu não gosto de viajar, vocês já sabem muito bem.
Atualmente preciso muito dos fados, mas habitualmente gosto muito deles. Esse "Leva-me aos fados" novo é de um muito bom gosto e veio em muito boa hora. Estou me acostumando a ele. Como se acostuma a tudo, inclusive à solidão e ao desamparo, itens corriqueiros aos bons fadistas.
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Voltou a fazer um calor infernal aqui no São Sebastião e está um suplício sair à rua na hora do almoço. Ir aos sebos então, nem se fala. Sem a possibilidade rotineira de ir aos sebos, o centro fica meio preto e branco. Fui ao Beringela entre o sudoreico e o cansado, procurando o colorido dos livros. Sempre me consolam os livros. Vão colorindo meu dia.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Pra bom entendedor, meia palavra bas

Por que você chora tanto
E sofre sem ter motivo?

Vai, deixa todo esse rancor pra trás
Que a vida vem sorrindo pra nós dois.
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Paixão,
Quem quer viver bem no presente encontra o seu lugar

Seu lugar nos braços do sossego.

Enquanto uns dizem que o tempo não pára
Outros dizem que o tempo

Não passa de ilusão, ilusão.
Deixa estar, que a vida é mais sábia

Cada coisa tem seu tempo.


E esses pensamentos
Não passam de nuvem rasa

E todo esse sofrimento
Não pertence à sua casa

Cesso esse tormento,
Enxugo todo seu pranto

Com a força e com o sentimento
Que carrego no meu canto


Duani


Fui ver Mariana Aydar ontem no CCBB. É uma moça comprida, que tem uma face enigmática e bunda nenhuma. Canta muito bem. Abriu com Minha Missão de Paulinho Pinheiro e João Nogueira. Não poderia ter escolhido melhor para demonstrar sua vocação.
Durante o show fez uma versão esquisita de Vai vadiar e cantou as canções do novo disco Peixes, Pássaros, Pessoas, entremeadas com algumas do primeiro, Kavita 1.
Não há nada de Mário Manga em Mariana. Da música que seu pai fez com o Premê ou como arranjador em outros belos discos, nem um traço.
Mariana parece querer imprimir autenticidade às suas interpretações, com influência direta de seu parceiro e compositor mais presente, o bateirista Duani. Duani lembra Tim Maia menino.
Como compositor, Duani tem altos e baixos, mas essa aí de cima, Florindo, já denuncia um talento promissor.
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Mário Guilherme teve problemas de saúde, mas já vai muito bem. Minha tia anda adoentada, mas tivemos boas notícias médicas de seu estado ontem. Almocei com Renatinha e tivemos uma conversa de amigos que se amam e se respeitam mutuamente e dessa vez serviu para amparar e confortar minha alma besta. E assim vamos tocando a vida.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sobre livros

Muito interessante a crônica de Alberto Mussa no Prosa e Verso de sábado. Ele conta a história de sua biblioteca. O gosto precoce pela leitura, herdou do pai. Conta que o pai tinha estantes de livros até na garagem. E que ele, começou a organizar a sua própria até ficar sufocado pela idéia de que iria levar mais 60 anos para ler aquilo tudo.
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No caderno de domingo, Arthur Xexéo aborda o mesmo tema de forma diferente. Conta que sente inveja das pessoas que começaram a vida lendo romances e que ele lembra que suas primeiras leituras se restringiam a Bolinha e Luluzinha.
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Encontrei-me nas entrelinhas das duas crônicas. Comecei lendo gibis. Tinha obsessão pelos quadrinhos. Os livros só me chamaram a atenção mais tarde. Era um menino normal. Li os livros da escola primária (lembro d'O caso da borboleta Atíria e o Escaravelho do diabo), com indifarçável indiferença. Acho que fiquei viciado em letras depois dos 20.
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Na crônica de Mussa, encontrei uma verdade que poderia ter escrito: a necessidade da construir a biblioteca de forma independente. A minha aconteceu de forma independente e desordenada. Nos primórdios, procurava esgotar os autores. O primeiro escritor que deu-me prazer em ler foi Leon Eliachar. Ria muito com aqueles epitáfios, de seus Homens ao zero, ao quadrado e ao cubo. Depois, motivado pelo Brasileiro profissão esperança, comecei a ler tudo que saía de Antônio Maria, a começar pel'O Jornal de Antônio Maria que o professor Kléber Borges me emprestou e eu nunca devolvi. Depois, esgotei Fonseca ( comecei com Buffo e Spallanzani), Cony ( comecei com Quase memória), Bukowski (comecei com Cartas na rua), Rubem Braga (comecei com 200 crônicas escolhidas), Sérgio Santanna ( comecei com Um romance de geração) , peguei a mania de ler tudo de cada autor.
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Quanto à poesia, estranhamente aprendi a gostar mais da poesia falada do que lida. Comecei a amar mais Manoel de Barros, Manuel Bandeira, Drummond, Pessoa, Vinicius, depois de ouvir Autran, Abujamra, Pedro Paulo Rangel interpretá-los.
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Hoje sou mais disperso e não leio tanto quanto quereria. Mas minha biblioteca continua crescendo. Procuro sempre que posso, alternar entre um clássico e um autor novo, mas nada é lógico no meu ler. Vinicius dizia que whisky é cachorro em forma líquida. Meus melhores amigos são meus livros espalhados pela casa. Um dia eu arrumo. Um dia eu leio todos eles.

domingo, 1 de novembro de 2009

Essa é minha vida

Há um dia em que se chega à conclusão de que não há mais nada a fazer. Todas as tentativas foram infundadas, todas as pretensões subtraídas.
Telegramas, faxes, e-mails, argumentações orais, de nada mais adiantam.
Caminho pela praia e chega uma chuva fininha aromatizada de mar. Sinto-me o maior dos perdedores.
Perdi.
O trem passou e eu perdi o trem.
A vida passou e eu não soube dosar o tempo, de modo que ele foi indo, ano após ano e levou de mim o que mais eu poderia querer.
Levou de mim o que era óbvio, mas eu não sabia. Eu parecia estar submerso num sentimento misturado de erro e de culpa e não admitia transbordar.
Eu estou aqui no meu apartamento ao lado dessa pessoa que não me reconhece mais. E da qual atualmente, eu nada reconheço.
Quando haverá um novo dia-esperança? Já começo a sentir o cansaço, o desprezo e depois o desespero de tudo isso!
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Olho para a tela. Meu único amigo de qualquer hora é esse velho computador. Posso escrever o que quiser que ele compreenderá. Ah, se pudesse rebobinar a fita e consertar pequenos pontos, erros, esquinas, equívocos. e sair do outro lado do Mundo como se pudesse reverter as ações. Mas é tarde para criar expectativas. Tarde para reencontrar o caminho. Tarde demais para crer.

Dádivas


Meus filhos já saíram dádivas da barriga das mães. Eu não fiz nenhum esforço para transformá-los no que são hoje. É algo parecido com autêntico, com quem está buscando seus caminhos de forma independente. Ontem fiquei surpreso ao ver Luisa (13) encarar o palco para uma performance vocal. Um rock pesado que nunca fez parte da cartilha de ensinamentos musicais que acostumei-os a ouvir. Luisa menininha cantava Sinhô e Noel que tocavam em casa ou no carro. Levei susto. Fiquei ali contemplando meio babão meio surpreso.
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Já venho me acostumando a ver Laura dançando lindamente há muito tempo, mas é sempre uma emoção nova. Luisa já tinha tocado umas canções pra mim. Mas ontem ao vê-la encarar platéia e mandar ver, acreditei que alguma coisa muito forte estava brotando daquele palco.
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O mais que eu possa escrever do orgulho que eu tive, de que foi uma apresentação linda ou qualquer coisa parecida, poderá dar uma idéia de puxa-saquismo paterno. Luisa não gosta disso. Não quer o elogio gratuito. Fico por aqui. Mas nada vai tirar de mim a sensação gratificante de ter saído de Pádua com o coração em festa.

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...