quarta-feira, 30 de junho de 2010

Saudade do estrogonofe de mamute

Invernou de vez em Miracema. Cheguei aqui agora há pouco e não encontrei nada pra comer. O frio e a lombra de quem passou o dia viajando não me deram coragem pra descer e comer na rua, Achei uns biscoitos recheados murchos que comprei pro Chicó da última vez. Foi o jeito! Hoje fiz o circuito Rio - Petrópolis - Três Rios - Sapucaia - Anta - Carmo - Volta Grande - Estrela Dalva - Pirapetinga - Pádua - Miracema, com uma única parada em Três Rios onde fui a trabalho. Muitos quebra-molas, buracos, pedágios, interrupções de obra na estrada, a insônia da noite anterior, o frio, fiquei moído.
Há dias, S. esteve em Niterói, e foi se meter na cozinha, achou um frango desfiado há cerca de 3 ou 4 anos no frizo, já devidamente transformado em mamute. S., que não gosta de jogar comida fora, preparou-nos um especial estrogonofe de mamute. Com essa fome que estou, até saudade da pasta me deu.
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Chegou, depois de uma longa espera da pré-venda da Saraiva, Celso Sim e Arthur Nestróvski. Fiz a primeira audição na viagem.Ainda não me acostumei às composições de Arthur, embora já tenha gostado de algumas, mas o repertório revisional é irretocável para a voz de Sim e o violão de Arthur. Começando com Um favor, Lupicínio, que foi consagrada pela interpretação abafada de Gal naquele disco Caras e Bocas. Se essa música carecia de uma interpretação decente, aí está ela. A dupla acerta também em outro Lupicínio: Quem há de dizer, clássico na voz de Nelson Gonçalves. Sim oferece uma abordagem diferente, de uma beleza diferente. A canção de Caetano para o poema de Maiakóvski, O amor, também procura uma linha melódica diferente da versão de Gal. Ficou lindo. Renato Braz gravou essa música lindamente também. O ápice do disco é mesmo a versão de Arthur para a Serenata de Schubert. Sacada de gênio, letrar uma canção tão próxima das nossas raízes. O disco vale uma corrida à Saraiva. É desde já candidato aos melhores trabalhos do ano.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Vazio

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."

Fernando Pessoa

Não é muito comum, não sei porque acontece, mas a verdade é que perdi o sono. Deve ser a viagem de amanhã, deve ser porque Laura não vai comigo, deve ser porque o dia esgotou e o rivotril não fez efeito, deve ser porque está tudo tão vazio. Está tudo perplexamente vazio em mim.
O frio niteroiense raro aumenta um pouco mais a dor. "No inverno, tudo dói mais. As juntas, a última faixa do disco..."
Estou há quase mês sem ir à Miracema. Minha relação com minha cidade, os amigos, os filhos, os pais, é bipolar. Tenho medo de encontrá-la como encontrei da última vez. Estava vazio como hoje de noite.
E aí o BDF é só um pé sujo onde se come uma carne suculenta, minha cama é só uma cama mais bem arrumada do que as outras, e as ruas da cidade são iguais a de toda cidade.
Ah, como eu quereria entender esses mecanismos que de repente, transformam a cidade em morada, a casa em aconchego e o BDF na melhor conversa dos últimos tempos. Não sei as razões que me deixam na dúvida.
Na dúvida, pensei não ir. Trabalharia normalmente na quinta, veria o jogo sozinho na sexta, como já tenho feito, e tem sido bom e equilibrado estar assim, parte da rotina.
Tudo isso não tem a menor importância e não leva a lugar algum. São só lacunas.

domingo, 27 de junho de 2010

Guardados


"No espaço daquele quarto
Onde eu matei minha sede,
Ficou meu cheiro de extrato no chão, na cama, na rede
E parte do meu retrato não descolou da parede..."

Sérgio Santos/ PC Pinheiro

É bom estar de volta. Um velho conhecido dizia-me sempre que o melhor das grandes viagens era o retorno. Hoje posso compreendê-lo melhor. No fundo, procuramos sempre uma coisa qualquer que traga de volta os nossos aconchegos.
E Fortaleza foi ótima. Bom congresso, ótimas companhias, muito camarão. Se não deu pra crescer muito no quesito conhecimento, foi bom pra estreitar convivências. Já escrevi aqui que em congressos, se aprende mais nos bastidores do que nas palestras. Lá não foi diferente.
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Hoje voltei aos jogos. Argentina e Alemanha mereceram ganhar, ainda que meio roubado. Se o Brasil não melhorar logo, o duelo entre as duas, parece que vai ser a decisão antecipada da copa.
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No meio da viagem, o aleatório me mandou essa canção, Guardados. Sérgio Santos, seu violão e o piano onipresente de André Memahri. Essa também foi muito ouvida num certo tempo difícil. Acho que dá até pra fazer um cd "Canções dos tempos difíceis". Às vezes me comovem muito essas canções. Noutras, nem tanto.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Outros tempos


"Minha cara no espelho já diz tudo
Desconfio de um carma secular
Pelo jeito, eu também sou um embrulho
Mas eu juro, deste muro
Amanhã vou me jogar."

Paulinho da Viola, Memórias conjugais

No campeonato de perdas inúteis de tempo, o empate Brasil e Portugal entrou em segundo lugar nas perdas de tempo do século, sendo superado somente pelo fime O Sacrifício, com Nicolas Cage. Duas horas de apatia e tédio, com os dois times retrancados e satisfeitos com o empate desde o início. Se é a isso que o Dunga chama eficiência, logo logo teremos problemas com ela. Chile e Espanha fizeram uma partida muito diferente, boa de ver e o Chile não vai entregar a vitória fácil .
Mas o pior de tudo é que é Copa do Mundo, são poucos jogos, decreta-se feriado nos dias, o trabalho é interrompido pelo jogo, o congresso é interrompido pelo jogo, a rotina de todos é interrompida pelo jogo, e você é obrigado a ver isso. Não há como fugir desse Brasil sem graça!
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Por outro lado, aproveitei pra dormir bastante de tarde. Um sono confuso, de quem já não tem esse costume há séculos, mas enfim, uma espécie de descanso forçado.
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Celso Viáfora está lançando disco novo. Foi a melhor nota musical da semana. Chama-se Batuque de tudo. O compositor estava tão sumido que comecei a achar que ele tinha abandonado a música. Paulista e salgueirense, parceiro eventual de Ivan Lins, Viáfora é desses compositores que, quando lançam disco, a gente compra sem ouvir. O que mais gosto é Basta um tambor bater. Aquele disco foi uma espécie de companheiro das horas difíceis em outros tempos nem tão longes. Foi uma fase de grandes perdas. Até hoje me emociono quando ouço seus sambas.
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Teve um tempo que só tinha a música e o calçadão da Praia das Flechas. E Viáfora não saía do meu ouvido.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

No Ceará não tem disso não


Terceira vez que venho a Fortaleza, todas três à trabalho. Observo muito pouco a paisagem por onde passo. Aqui não está sendo diferente. Na verdade, me interessa mais a música do lugar. E Fortaleza está sempre carregada de boa música. No bar do hotel tem um trio permanente de sanfona, zabumba e pandeiro. Os cantores cearenses fizeram parte das raízes do meu gostar das canções. Os primeiros discos de Ednardo, Fagner e Belchior, tocaram muito lá em casa. E Fausto Nilo, e Patativa e Nonato e tantos outros.
Uma vez vim aqui e, por intermédio de Mário e Marila, conheci Eugênio Leandro. Um sujeito simples, com sua música terna e boa de assobiar. Conversamos horas num desses bangalôs que se multiplicam ao longo das praias. Lembro que eu ainda tinha esperanças. Com o tempo, se aprende também a não ter mais esperanças.
Mas Sandra e Renatinha não me deixam reverberar. Estão sempre atentas. Conseguem deixar o dia mais leve. Ontem jantamos na Peixada do Meio, hoje no Colher de Pau. Tenho admitir que também os sabores me atraem mais do que as naturezas.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

No Vila Galé em Fortaleza

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada.
Quando se parte rumo ao nada
Moska, A seta e o alvo.


Terminei o dia ainda meio baleado pela gripe, mas com todas as obrigações cumpridas. Tinha que sair do Rio cedo pra apresentar um tema no Congresso Nacional de Auditoria Médica aqui em Fortaleza e estava preocupado com os atrasos de vôo, etc. Mas deu tudo certo.
Vim conversando o tempo quase todo com Renatinha, o resto do tempo lendo Caim, o último resto ouvindo Guia, o disco de Antônio Zambujo.
Guia não é exatamente um disco de fado. Nem se propõe a arranjos fadistas para outras canções (como fez Maria João em Fado Mulato). Embora a guitarra portuguesa esteja a percorrer todo o trabalho, os arranjos acompanham a linha melódica original das canções. É possível ouvir uma morna aqui, um samba canção ali (Apelo de Baden e Vinicius belíssimo), uma valsa acolá. É um bom disco, mas continuo gostando mais do anterior (Outro sentido).
O Vila Galé em Fortaleza parece um duplo A e olhe lá. Ficamos mais exigentes depois do Íbero Star na Praia do Forte. Tem um defeito grave: o colchão é mole. A cervical e a lombar podem sofrer muito desse mal.
Viajar três horas e meia de avião é fácil quando se pode desfrutar de uma ótima companhia, um bom livro e muitas canções no ouvido. Cheguei muito bem aqui. E passei um dia inteiro sem ouvir falar em Copa do Mundo. Belo dia!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ler, ver, ouvir

"Assisti o jogo do Brasil com o devido distanciamento. Sozinho em casa pra evitar qualquer explosão de ufanismo do meu lado. Já recebi vários comentários de gente muito puta comigo. Os mais ofensivos, eu simplesmente deleto, como sempre faço. Se quiserem discordar de mim, tá tudo certo, mas sem ofensa, que eu não tô precisando disso e eu não tô ofendendo ninguém no meu blog. Gostei de algumas jogadas do Robinho e do belo gol do Maicon. E da segurança do Juan na zaga. E acho que o Nilmar pode ser melhor aproveitado no time principal. Mas é só. O resto foi um futebol chato do tipo que o Dunga adora. Tem gente que já tá me acusando de torcer pela Argentina. Na verdade não tô torcendo por ninguém. Estou só assistindo os jogos e até agora só gostei do futebol da Alemanha e da Argentina. Isso não quer dizer que esteja torcendo pela Argentina. Só não vou torcer pela seleção evangélica do Dunga, é só isso. Podem inclusive ganhar a Copa, o que é bem possível, mas não me sinto representado por essa seleção. Porra, eu vi a Copa de 70, caralho. Tinha oito anos de idade, mas vi. Então só quero o direito de assistir com o devido distanciamento. Só quero apreciar o bom futebol, independente do país que está jogando. Se o Brasil jogar bem (o que ainda não foi o caso), também quero curtir e ficar entusiasmado. A arte é um troço que me entusiasma e pra mim futebol sempre foi sinônimo de arte. "
Mário Bortolotto aqui
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Acho que eu poderia ter escrito isso. Por questões de boa preguiça ou falta de talento pra escrever qualquer coisa nesses últimos dias, preferi roubar o texto do Mário. É melhor do que qualquer comentário que eu já tenha lido ou ouvido ou que eu mesmo pudese comentar. Só se fala em copa hoje em dia. Antes dela, desejei que não viesse, não estava num bom momento. O Fluminense estava embalado, as coisas iam fluindo de forma satisfatória sem grandes arroubos. Agora, querendo ou não, você acaba virando treinador, comentarista, chato pebolístico. Mesmo quem não gosta de futebol, o que não é o meu caso. A Rua Nilo Peçanha no Ingá fecha nos dias de jogo. Se precisar tirar a S10 da garagem (ou colocar), vira um estorvo. Vi o primeiro jogo com Laura, o segundo com S.. Mas vi principalmente comigo mesmo. Sou a favor da entrada de Thiago Silva na zaga brasileira. O Brasil tomou dois gols esquisitos. E também acho que a Argentina ainda vai se arrepender da ausência de Dario Conca. E ainda espero que o Brasil me convença. A convocação em caráter de urgência de Fred talvez ajudasse. O jogo com a Costa do Marfim deu para o gasto. E só.
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Coloquei Caim, o último de Saramago, na frente da fila depois da morte do autor. É um belo livro, já dá pra antecipar.
Vi Preciosa. Achei muito bom. É triste constatar que situações como aquela existam com mais frequência do que imaginamos.
Tenho ouvido o novo disco de Antônio Zambujo lançado recentemente em Portugal. A Deusa da minha rua não sai da agulha. E também o delicioso cd de Carmem Miranda remixado com novos arranjos por Henrique Cazes. A grande sacada é que Cazes não acrescentou nada aos belíssimos arranjos originais. Apenas tornou-os audíveis.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Filmes e canções


Atravessei a Baía ouvindo Marie Trottoir, Martha Wainwright, belo disco, belo acordeon, triste Baía de Guanabara. Eu vinha lendo a crônica de Felipe sobre separações e não me cansava de voltar à canção.
Esse final de semana, deparei me com o sombrio Sedução (Cracks). Acho pouco provável que vá indicar esse filme pra quem quer que seja. Eva Green faz uma mulher supostamente à frente do seu tempo num colégio interno de garotas. O resto da história, dirigida pela filha de Ridley Scott, é meio mais do mesmo.
Também vi, com atraso de alguns meses, Abraços Partidos, o último do Almodóvar. Sem contar que é sempre bom ver Penélope Cruz em qualquer papel, o filme não é dos melhores Almodóvares que já vi. O pior Almodóvar ainda é um ótimo filme. O diretor sabe lidar com sentimentos perdidos.
Há alguns anos, na fila do CCBB, encontrei Alfredo Del Penho . Na espera pelos ingressos, batemos um ótimo papo sobre música. Hoje se pudéssemos renovar esse papo, eu ia comentar sobre a participação inusitada dele no disco de Chico Sales. O disco do forrozeiro é de um bom gosto surpreendente no quesito pesquisa de repertório. Os dois cantam junto uma das canções mais bonitas de Jessier Quirino: A cumeeira de aroeira dessa casa grande. Só por terem trazido a música para o Rio, já vale o disco.

sábado, 12 de junho de 2010

Life

Excelente a primeira temporada de Life, que veio por acaso recomendada pelo Longarino e foi vista de um golpe só ao longo da semana. Já estou me segurando para não começar a segunda. A história do detetive Charlie Crews é muito interessante. O que deveria ser uma história policial simples, na verdade é um compêndio sobre superação. E o ator inglês Damian Lewis está muito bem no papel.
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A primeira boa notícia da Copa do Mundo foi a frase Cala a boca, Galvao, que bateu todos os records do Twitter ontem. O desconversa não poderia deixar de contribuir: Galvão Bueno é um chato inconteste! Até os usuários estrangeiros do Twitter perguntavam "quem é Cala Boca Galvao", e aí parte dos tuiteiros brasileiros prolongou a piada afirmando que se tratava de uma canção inédita da Lady Gaga. Hilário!
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Até que pra quem não estava nem aí pra essa copa, passei o sábado frio niteroiense assistindo os jogos. Os primeiros cinco minutos e vacilei: saiu o campeão do Mundo! Mas aí a Argentina fez o gol, diminuiu o pique, a Nigéria cresceu no jogo e achei que o empate seria mais justo no final. Mesmo porque o gol da Argentina foi ilegal. Quem se importa? Até agora foi o gol roubado mais bonito dessa copa.
Já o jogo EUA e Inglaterra protagonizou o primeiro frango bizonho da copa: o do goleiro inglês Green. No mais, pra quem esperava muito da Inglaterra e pouco dos EUA, foi um jogo bem jogado e com razoável equilíbrio.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Eu preparo uma canção

Preciso de um texto longo, eu sei. De um texto farto. De algo que faça a Kellen sorrir(do mesmo jeito que sorrio quando a leio) ou a Renatinha voltar a comentar ou que provoque a Silvia de forma que ela tenha que responder com um texto maior ainda. Ou ainda que Camila, a mentora desse blog, volte a lê-lo. Tenho tentado inutilmente escrever alguma coisa que preste, mas meu cacoete para a palavra está desfocado. Na verdade, o que tem me dado prazer é o trivial: trabalho e filho. E, naturalmente, esse doce de carambola feito com carinho pela D. Lourdes. Dois meses sem anti-depressivos e sinto-me razoavelmente bem. Razoavelmente mal.
Terminada a semana, restou-me Niterói. Podia ir ver Luisa dançar a quadrilha, Chicó desfilar no aniversário da cidade, ou passar o dia 12 com S., mas não vai ter jeito: esse fim de semana é de Laura. O que posso esperar de Niterói num fim de semana solitário com Laura? Uma ida matinal às Casas Sendas, empadinha de fogão a lenha de uma dona aqui embaixo, letra e melodia, muitos filmes na estante. Há, é fato, a Copa do Mundo. Mas penso que estou como todos. Ninguém está dando muita bola para essa copa. A não ser, obviamente, os tocadores de corneta do centro do Rio. Esses vivem dando sustos terríveis nos passantes.
Preciso de um texto sincero. Algo que faça S. relaxar, que me traga os cheiros da comida da Diô, que Luisa leia do alto de sua torre de roquenrol e fique feliz. Preciso de um texto que me convença com urgência de que eu preciso voltar a andar pela praia. Que me restaure a vontade de ir ao cinema, mesmo só passando filme B em Niterói, que -pelo menos uma vez- me traga o menino de volta. O menino bom que eu fui um dia.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pouco

Uma quarta como outra qualquer, complicada pelo atraso do 49, pela quebra do elevador, por um resfriado meio besta. E assim passam-se os dias. Uns mais cansativos que os outros. Pensei em Ron Carter no CCBB, já era tarde. No Ipod, Luiz Carlos Borges e amigos argentinos, Martha Wainwright's cantando Piaf e outros já citados ontem. Não há muito que dizer. São tempos difíceis. Trabalha-se muito e quase todo dia, pode-se dar uma passada no sebo na hora do almoço pra jogar conversa fora com João e Raimundinho. Raimundinho é amante das orquestras dançantes dos anos 50. Dê um Waldir Calmon a ele que sai rodopiando pelo centro. Já João gosta de Miltinho, Cauby, Ângela, é mais moderno.
Uma velha amiga reclama que eu escrevo pouco. Não há muito o que escrever. Como na canção do Dori, restou-me lutar para não ser infeliz, muito mais do que ser feliz.
Estou lendo dois livros ao mesmo tempo, o que pode ser interpretado como um mau sinal: o ótimo Olívio de Santiago Nazarian e o aindanãodápradizerque é ótimo Os suicidas de Antonio di Benedetto. Ambos são literatura de abismo. Mas já me impaciento porque Philip Roth, A Humilhação já está a espera na estante.


É isso. E ainda é muito pouco.

terça-feira, 8 de junho de 2010

O leite derramado sobre a natureza morta

Ontem 21:30 no frio niteroiense, Laura veio ao meu quarto, pegou um par de meias e cobriu meus pés gelados. Foi a melhor coisa que me aconteceu essa semana.
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O Ipod não para de tocar os duos Eugene Friesen e Tim Ray e Walter Silva e Yamandu Costa. Nem deu pra escolher uma, são tantas muito bem tocadas, que fica difícil.
E também resolvi dar mais uma chance pro disco do Otto, Certa manhã acordei de sonhos intranquilos. Acho que é o título que me comove. Essa canção O leite, com participação da voz esganiçada de Céu é das melhores do disco.
A voz de Céu é algo que devia ser estudado. Quando Beto Guedes surgiu em 1977 com o estupendo A página do relâmpago elétrico, a percepção era parecida. Chamavam a voz de taquara rachada. Céu também tem uma voz difícil, você tem que se adaptar a ela.
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Soube pelo Tárik e pelo próprio Arthur, que estão chegando discos novos de Regina Machado e Celso Sim (com Arthur Nestróvski). Regina é uma cantora excepcional. Tem uma versão de Estate que compete com a do Amoroso. Um terceiro disco é muito bem vindo. Já Sim parece que gravou a versão de Arthur para a Serenata de Schubert apresentada há pouco tempo no programa de Chico Saraiva. Quem ouviu, ganhou o dia.

domingo, 6 de junho de 2010

Na ilha de Lia, no barco de Rosa

Seis dias, duas viagens, uma crise de ausência, alguns filmes, outros fados, perdas que não têm fim, o Moreira solando a Santa Morena, Chicó na quarta, dores tangíveis ou não, bananas cozidas pela Diô, Luisa no sábado, dois bons jogos do Fluminense, S. o tempo quase todo, a percepção da inutilidade, Mariza cantando Chuva, Polanski na Bravo, Bunda na sexta, vazios que não acabam mais, Tina Fey e Steve Carrel, lágrimas que não sei de que (?), aniversário da Marila, o bife acebolado da Diô, Original na sexta, um novo John Woo chinês, a arte da guerra, obras entre Pirapetinga e Além Paraíba, máquina 1 no barbeiro, longas filas de carro na estrada, Heineken no sábado, Dori cantando Armadilhas de um romance, perdi, passou, onde fui (?), polenta frita pela Diô, Rivotril 0,5, Apocalypto de Mel Gibson, lágrimas que não sei de onde, Jadim, Alex, Laura longe, o coração partido em dois lugares, trabalho no claro 3G, o olho meio vazado, Luiz Tatit cantando Sem destino.

Cadê?

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...