domingo, 29 de maio de 2016

Balaio

Depois de duas semana literalmente no espaço aéreo, entre Porto Alegre, Washington, São Paulo e Rio, retornei à estrada pra curtir o frio miracemense. Adoro o frio miracemense. Tudo fica mais fácil. Fica mais fácil caminhar pela cidade, ir ao banco resolver pequenos problemas, levar o Chicó na rodoviária, ir ao Le Jardan jogar uma conversa, 
Tenho sentido a falta do Flávio. O Flávio sumiu. Pelo menos desde a morte do meu irmão, ele está sumido. Senti a falta dele na morte do meu irmão. É um dos pouquíssimos amigos que restam, tenho que acha-lo. 
O Flávio é desses amigos que a gente tem que achar. Que somem de vez em quando. Mas que não abandonam o posto nunca. Há muitas lembranças comuns, histórias engraçadas, conversas de afeto recíproco para guardar. Ricardo Seixas é outro. Da última vez, há muitos anos, encontrei Ricardo em Santa Cruz da Serra, no pé da Serra de Petrópolis. Nunca mais o vi. E cada dia me falta como se fosse um dia qualquer.
Pois bem, foi o Flávio que me deu de presente os inicialmente 2 cds gravados (depois viraram 3) por Itamar Assumpção com as Orquídeas, Bicho de sete cabeças. Foi uma redescoberta da obra de Itamar, que só conhecia dos dois primeiros, às próprias custas (um vinil vermelho) e Nego Dito. É desses discos que você decora a ordem de tanto ouvir. Estão ali Eu vou tirar você do dicionário, Vë se me esquece, Venha até São Paulo, Noite torta, Quem canta seus males espanta e....Balaio, que comentarei mais à frente.
Quando saiu a caixa preta em 2010, que repassa a obra completa do Itamar, foi louvado por mim neste blog, como o acontecimento cultural do ano. Hesito em comprar uma segunda toda vez que entro na Cultura no Conjunto Paulistano.
Foi a primeira obra completa que digitalizei para o Itunes. Aprendi a gostar dos outros discos da mesma forma que gosto do Bicho.
Antes da caixa, já havia comprado os três volumes originais do Bicho na Baratos Afins em São Paulo, atrás de remasterizações melhores.
Num encontro desses com o Flávio, e numa tentativa de dizer o quanto foram importantes para mim esses discos, devolvi a ele os dois volumes iniciais do Bicho.
Só agora recentemente descobri que "Balaio"foi misteriosamente ceifada dos discos atuais. Balaio não é do Itamar, mas parece ser. Itamar tinha o condão de transformar em suas, as canções dos outros. Foi assim com Ataulfo Alves e Djavan. Já contei aqui, ele desconstruiu Boa noite do Djavan no único show que vi dele, no CCBB, que deu uma luminosidade exponencial à canção.
Balaio está desesperadamente faltando na minha biblioteca. Adoro aquele corinho que as Orquídeas fazem para as introduções do Itamar.
Está faltando. Taí mais um motivo para achar o Flávio. Preciso dos discos de volta!!

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Rosa em 30 minutos

Entro no computador do Hotel Ritz Lagoa da Anta em Maceió. Tenho 30 minutos para escrever esse texto. Agora já devem ser 25. Paguei 10 por esses 30.
O café da manhã tocava Djavan. A primeira, Oração ao tempo, lembrei do arranjo vocal do Magro sobre o tempo caindo. É o tempo tempo caindo caindo e a gente indo embora. É o tempo que a gente perde desvivendo, e o mínimo tempo bom. E o MPB 4 soube muito bem cantar esse tempo. Melhor ainda do que Caetano soube compor.
Pois bem, as seguintes me lembraram Rosa Passos. Preciso acelerar.
Vi Rosa Passos no Rival cantando Djavan. maravilha.
Só de ter composto Dunas já valeria a aposentadoria de Rosa. Mas ela fez também Juras e Demasiado blues. Pronto! Pode ir pra casa descansar que a obra já se consolidou.
Mas Rosa é uma intérprete delicada de um disco antológico chamado Amorosa, em que ela percorre os caminhos de João Gilberto. E tantos outros que não dá para citar um.
Mas esse cantando Djavan foi pontual na minha vida.
Era um tempo em que o amor florescia. Amava mais que tudo, só tinha olhos para o amor. Levei o amor no Rival para ver Rosa Passos.
Veio logo com um Faltando um pedaço de chorar. Aquelas canções que já tinha enjoado de ouvir com Djavan e já faziam parte de um passado distante, voltaram revigoradas, E as pérolas de Djavan passaram a ser de Rosa num notável sem cerimônia. E a química do amor, misturada com Stela e algum queijo, foram fluindo e deixando o tempo passar calmo e leve.
Tempo tempo tempo tempo.

sábado, 7 de maio de 2016

Vazio

Sexta-feira e eu não consigo ligar o itreco. Eu, que só tenho  trabalhado aqui no Rio com música, hoje só me habitam o silêncio e o cansaço.Nem Céu, nem Zambujo, nem Mercedes. Nem fado, nem Irineu de Almeida. Trabalhei a semana inteira entre São Paulo e Rio e agora veio esse esgotamento, essa vontade de sair de mim e não estar em lugar nenhum. Não quero nada. Não quero dormir, não quero acordar, não quero a carraspana política dos jornais. Talvez uma noite de paz daquela que só Dolores saberia compor. Desprovido de talento, não quero nem mesmo uma Dolores.Pareço um saco vazio. Não quero esse texto idiota. O único compasso que me assiste é o do ar condicionado. Voltou a fazer um discreto calor na cidade.
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Sou possivelmente salvo pelas cinco da tarde. Tento ir pra casa e espero que algum suspiro de vontade de viver apareça no Largo da Segunda Feira. Devagar, vou aprumando.Minha mulher sugere um vinho, pra mim não dá. Abro pra ela um português de boa pinta. Lucas me irrita arranhando os dvds do mesmo jeito que , na infância, eu quebrava os long plays do meu pai e ficava de castigo. Não tenho coragem de colocar o menino de castigo. Zango com ele e vou para o quarto assistir o Jornal Nacional. Brigar com Lucas só piora meu estômago. Volto pra fazer as pazes. Ele já esqueceu do incidente.Daí a pouco dorme.
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Vou na estante e pego "Chico - um artista brasileiro", o documentário de Miguel Faria Jr, que estava faltando ver. Sentamos na sala, silentes, e vamos nos deixando levar pelas canções, pelas histórias e pela genialidade do compositor. Pela tela desfilam Carminho, Ney, Mônica, o próprio Chico em ótimas interpretações. A noite cai e finalmente Dolores Duran chega pra me trazer um sono de paz. 

terça-feira, 3 de maio de 2016

Puro Aldir

"Desalinha o chão
Descolore o céu
Visionária canção
Replicante cordel"
Guinga e Edu Kneip, Via Crúcis


Não poderia ter sido escolhido melhor o repertório de Mar Afora, o disco de Guinga e Maria João, que só está disponível para compra virtual. Absurdamente, não existe o disco físico no Brasil.
O repertório é puro Aldir. Até as letras de Edu Kneip e Thiago Amud (Via crúcis e Contenda) parecem ter sido escritas por Aldir. 
Fora essas, só Passarinhadeira, Senhorinnha e Saci são de Paulo César Pinheiro, o resto é Aldir, que completa 70 esse ano, junto com Bosco, Alceu e Belchior.
Não sai da agulha. Chegam novos (e ótimos) discos, mas não paro de retornar a ele. O disco transcende ao Catavento e girassol de Leila Pinheiro e injeta algo mais na canção de Guinga.
Noventa por cento desse algo mais é de responsabilidade de Maria João, a cantora e compositora portuguesa que tem uma parceria sólida com Mário Laginha. 
Maria João não é fácil. Tem que ouvir acima de três vezes pra entrar na música da moça. Com Guinga, nem tanto. Já se gosta logo quando ela manda o Sete Estrelas, que já foi de Fátima Guedes.
Não há gênio da música popular maior do que Guinga nesses tempos.É de entortar qualquer sentimento banal e sair orgulhoso de ter nascido nessas terras de merda.
Eu adorei o Corpo de baile, da Mônica e do Pau Brasil,cantando Guinga e PC Pinheiro. Mas é um disco difícil de matar.
Mar afora não, Mar afora trás Guinga para a superfície, ouve-se com relativa facilidade.
E essa Via Crucis que me acompanhou a semana toda, de uma insônia perturbadora. De ligar pro terapeuta e pedir socorro e comprimido.

domingo, 1 de maio de 2016

Vozes do Magro

Deve ter sido por influência da ótima série da HBO, andei sonhando que as lojas voltaram a vender compulsivamente discos de vinil, esquecendo de vez o cd. Se meu sonho for concretizado, já vou eu na contra mão de novo. As novas masterizações trouxeram alta qualidade para o áudio dos cds, possivelmente melhor que o dos vinis, pelo menos para meus ouvidos.  Nos últimos anos, tenho saudado efusivamente cada novo laçamento, já tendo comprado três vezes os mesmos discos de Paulinho da Viola, só para ouvir o melhor áudio possível.




Nesse sentido, há um motivo nobre para correr às boas lojas de disco: saiu uma caixa com três discos essenciais do MPB4: Canto dos Homens, Dez anos depois e Vira virou. Na minha conta, ficou faltando só o volume 2 da Antologia do samba.




Eu li parte do excepcional "Vozes do Magro", livro em que o vocalista repassa a história do grupo através dos seus belíssimos arranjos vocais. Esta lá em Miracema aguardando a leitura completa e obrigatória.

Conheci o MPB 4 do disco "Antologia do samba  1", de 1974, o primeiro a sair bem masterizado Antes só conhecia a canção "Amigo é pra essas coisas".
Para se ter uma ideia da importância desse disco na minha vida, só adianto que foi por ele que eu conheci Nelson Cavaquinhos, Ismael, Ataulfo, Monsueto. Foi quando o samba apareceu na minha vida como uma força arrebatadora. Eu tinha 13 anos e era um long play da Tia Cicida que foi morar na minha vitrola., Certamente um divisor de águas no meu gosto musical. 
Depois vieram as boas remasterizações de Cicatrizes e Bons tempos, hein!. O primeiro é habitualmente cultuado como o melhor disco do grupo. Tenho cá minhas duvidas, mas adoro os arranjos da própria Cicatrizes e de "Última forma", que choro quando ouço desde que ouvi a primeira vez.
Bons tempos hein! Inaugurou uma fase mais moderna nos arranjos e nas musicas do grupo. Se tivesse que escolher um, seria esse. Sei de cor até hoje desde Fantasia até Velho ateu, passando por Tropicalia, Angelica, e um Cebola Cortada que compete com o arranjo que Hermeto fez para o Orós do Fagner.
Dos que saíram agora, o que mais lamentava não ter saído ainda e aguardava, era o Vira virou. Achei que não ia sair nunca. Esse disco veio quando a gravadora Ariola (depois absorvida pela Universal) se instalou no Brasil e contratou vários artistas e lançou discos seminais de Alceu, Chico, João Bosco e Ney, dos que eu me lembro. Vira virou também furou na vitrolinha, ainda me emocionam os arranjos feitos para A Lua, Por toda lã e a própria Vira virou, um fado do Kleiton e Kledir, que também apareceram na nova gravadora.
Ouvi muito o Canto dos homens e adoro o arranjo de Corrente, e esse Dez anos depois é quase novidade pra mim, mas Pressentimento já vale o disco.
A morte do Magro e a saída do Rui Faria ( meu Tio Marcio jurava que foi colega dele no Colégio de Pádua e que ele vivia batucando uma caixinha de fosforo) empobreceram o MPB4. Posso estar sendo injusto porque ouvi pouco, mas não gostei muito do disco de boleros, o último do grupo.
Fato é que ainda batucam no meu peito as canções e os arranjos vocais desse maravilhoso quarteto.




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Consultando a discografia no site do grupo, percebo que, dos que ouvi muito, ainda faltam o Tempo tempo, o Caminhos livres e o Cobra de vidro, o primeiro com o Quarteto em Cy. Que tal uma nova caixa?




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Assisti "Ave César", dos irmãos Cohen. Se não foi ainda, corra para o cinema;







Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...