segunda-feira, 31 de julho de 2023

O irresistível Botafogo

O Botafogo, quem diria (??), depois de quase amargar o rebaixamento no Carioca, dá sinais claros de que será campeão com muita antecedência. Ontem meteu quatro no Curitiba, o mesmo que ganhou de forma convincente do  Fluminense na semana passada. Até umas três ou quatro rodadas atrás, eu ainda acreditava que era lenda urbana, que uma hora ia começar a perder e não parar mais. Porque afinal, o Botafogo tem sido um zero à esquerda em tudo que joga nos últimos anos. Não vejo os jogos do Botafogo (em geral, ruins), mas já começo a acreditar que já temos um campeão brasileiro esse ano. 

Apático, sonolento, quase parando, caminha o Fluminense. Sábado não foi diferente contra o Santos. De dar nos nervos do torcedor, que compareceu em massa, para mais de 34.000. Contra um Santos, que ficou o tempo todo aglomerado no meio campo e não finalizou uma única vez, o Fluminense era pouco objetivo, longe do time que encantou o país no primeiro trimestre. Foi preciso mudar, já para mais da metade do segundo tempo para acordar, e ser salvo mais uma vez, por German Cano. Na entrevista ao final do jogo, Diniz mencionou que o time teve uma atuação soberana. Como assim?? A única coisa que teve de soberano naquele jogo foi o gol do Cano.

Entre um jogo e outro, por falta absoluta de boas séries, assisto mais uma vez a obra de Quentin Tarantino disponível no streaming. Comecei com Bastardos, depois Kill Bill, depois Django livre (acho que é o que mais gosto), depois Os oito odiados. Dá pra ver cem vezes e continuar gostando.

E, sim, estou assistindo Kohrra, afinal uma série prá lá de razoável na Netflix. É uma série policial indiana, com dois bons atores, dois policiais obscuros pelejando para solucionar um assassinato, num cenário marcado por violência, corrupção e miséria. Vale uma olhada.

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Fim de semana intenso. Há um corpo estendido no chão. Um banhista afogado na praia. Um carro que se assoma na garagem. Flores frescas onde morreu o menino. Não enxergo nada disso. Ela, no entanto, descreve tudo com detalhes.


sexta-feira, 28 de julho de 2023

Num velho fusca de pneus careca

Casei-me pela primeira vez em 1985. Hoje eu sei que tenho uma ótima relação de respeito e consideração com minha primeira esposa, mãe das meninas. 

Em 85 eu era um médico recém formado, lutando para ganhar alguns trocados nos plantões noturnos. Não tinha sobra pra passar a lua de mel em lugar nenhum. 

Um primo distante ofereceu a casa em Cabo Frio. Aceitamos de pronto. Eu tinha um fusca com 4 pneus carecas e sem sobressalente. Nenhum deles furou, para nossa sorte.

Passamos três dias em Cabo Frio, que no frio parecia sem graça. Decidimos então ir para o aconchego niteroiense, onde ainda moro. Eu não fazia a menor idéia de como dirigir pelas ruas do Rio, mas tinha show da Leny em Vila Isabel. Não me lembro do nome da casa, acho que era Petisco da Vila.

Não eram tempos de google maps nem de waze, e a  minha experiência com a zona norte era com o Hospital do Andaraí, que eu ia de ônibus. A gente ia a Roma porque tinha boca, e foi assim que chegamos ao berço de Noel Rosa. Não tenho muita certeza nem de como chegamos nem de como retornamos, mas chegamos e retornamos intactos. E Leny nos presenteou com o melhor que podíamos ter na nossa humilde lua de mel.

Já tinha visto Leny no Teatro da UFF, acompanhada pelo piano de Guilherme Vergueiro (inesquecível), mas esse show na Vila foi muito especial. 

E agora que Leny partiu e não a temos mais, ficou sua música a nos dar algum alento.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Da arte de perder

Não era um grande amigo, mas era sim, um bom amigo. Sempre me recebia efusivamente, tratava-me com cordialidade e quando precisava, estava sempre pronto a ajudar. 

Em algumas viagens de carnaval nos anos 90, fomos juntos e a conversa era sempre boa. Não havia nele um traço sequer de tristeza ou dor. Seu semblante era desprovido daquelas linhas depressivas, comum aos deprimidos, e que em muitas vezes, só um deprimido como eu, reconhece.

É verdade, tinha uma natureza solitária, mas parecia solitário por opção. Parecia gostar do jeito que era. 

Era magro, esguio, do tipo saudável, resolvido financeiramente, com nenhum motivo aparente para sair de cena.

Nos anos 90, compartilhávamos uma assinatura da revista Playboy. Era um entusiasta. Sempre que saía uma moça nova, fazia questão de ligar e comentar.

Acredito que fosse uma ano mais novo do que eu, mas éramos dois meninos do interior criados no mesmo conforto que só aqueles que são da roça conhecem. 

Andávamos distantes desde que ele saiu da farmácia e assumiu outras funções. Foi falta de oportunidade mesmo. Lamento muito que tenha ocorrido logo agora.

A notícia de que ele tirou a própria vida surpreendeu-me agudamente. Vai fazer muita falta.


sexta-feira, 7 de julho de 2023

No umbigo do deserto

 


É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nada do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Bertold Brecht

Cheguei cedo no serviço de imagem no Leblon ontem. Só comigo e mau comigo. Terceiro ano de controle de tratamento de um câncer que apareceu no climax da pandemia.

Enquanto os europeus morriam em escala geométrica, o Brasil claudicava diante de um presidente absurdo, as pessoas aprendiam a trabalhar de casa e eu aguardava meus 59 chegarem, começava a me incomodar com dois caroços que apareceram no pescoço.
Tive a sorte de ter um oncologista e um amigo. Um oncologista amigo que me diagnosticou num período recorde de quatro dias, e um amigo que se dispôs a me acompanhar nas incontáveis idas a Muriaé para o tratatmento com radio e quimioterapia.
Além disso, minhas filhas que migraram para minha casa e passaram a morar ali como se assim sempre fosse. 
Era um carcinoma epidermoide de base de língua, a me castigar pelo tanto que falei nessa vida, e como se não fosse a fala meu melhor instrumento de persuasão. A fala e o canto (esse último desprovido de qualquer talento, mas de muita valia interior), que me deixariam mudo num primeiro momento e rouco até hoje. 

Quando a moça falou comigo que o exame não estava autorizado, eu tive vontade de fugir dali rápido. Só quem já fez uma ressonância magnética de cabeça e pescoço com contraste e ficou quase duas horas asfixiado naquela máscara ouvindo todos os barulhos sabe do que eu estou escrevendo. Além disso, era uma overview do tratamento inteiro.Mas fiquei, fiz e deu bom. Mais um ano de carência.
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Não há um único comentarista esportivo que não tenha escrito que Diniz assumir a seleção e o Fluminense ao mesmo tempo é um inequívoco conflito de interesse que vai dar  problema. Todos flamenguistas, corintianos, cruzeirenses. Nós, tricolores, queremos Diniz na seleção e no Flu. E ganhando nos dois.
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O título desse texto é referência a uma canção de Caetano chamada José.

Travado

"Diferente o samba fica Sem ter a triste cuíca que gemia como um boi A Zizica está sorrindo Esconderam o Laurindo Mas não se sabe onde ...