sexta-feira, 31 de julho de 2009

Chegar e partir

"Ninguém pode fugir do erro que veio."
Manoel de Barros.
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Retornei hoje a Miracema, vim trazer Chicolino e passar o fim de semana com Laura e Luisa. Há quase um mês não baixava aqui. Férias de julho, as crianças foram. E aproveitei bastante delas lá.
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Carrego meus vícios desde sempre. Para o bem e para o mal. Um dos meus males é ficar irritado por pouca coisa. Tenho feito treinamento intensivo contra. Tipo ser o último a sair da barca, aguentar velhas conversas fiadas sorrindo, procurar entender e aceitar sempre que possível. Mas as partidas são sempre difíceis, são um exercício de paciência. Carregar malas, checar portas, tirar carro da garagem sempre foi um tormento pra mim. Hoje não foi diferente. Fiquei incólume até ter um pequeno ataque de pelanca por qualquer coisa. Depois serenei de novo.
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Acho que minhas filhas nunca vão me tirar da categoria nervoso. Por mais que eu viva me policiando, é difícil pra elas entender que eu mudei, pombas! Ficou gravado na memória delas minha irritação com as partidas.
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No entanto, adoro as chegadas. Não me incomodo em carregar malas e compras, estacionar a S10 na garagem "pega-varetas" do meu prédio. Sei que vou encontrar a casa cheirosa, daqui a pouco o Celso Barbeiro, daqui a pouco o bom banho, daqui a pouco, Laura e Luisa, daqui a pouco o Bunda de Fora.
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Por alguns tempo, tive um desprazer imenso em chegar aqui. Não era irritação. Era tristeza! Dor de chegar e não ter para onde ir. Dor estilhaçada de ter e não ter: casa, filhos, trabalho, prazer, tudo revirado naqueles tempos de cão. Chorava copiosamente nas minhas chegadas.
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Depois de cinco ou seis anos, voltei a ter um chegar sereno. Consigo ver a cidade com olhos de filho. Velhos pacientes ainda me cumprimentam, aqui e ali tem sempre um ar de aconchego. No meu viver, há um pedaço de tudo isso.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Enquanto gira o Mundo bizarro

"Me procurei a vida inteira e não me achei - pelo que fui salvo" - Manoel de Barros

Não gosto de me afastar da minha mesa. É como se eu tivesse uma mesa, duas mãos e o sentimento do Mundo. A bagunça demencial de artigos, livros, papéis avulsos, máquinas, dá-me uma esquisita sensação de organização.
Também fico muito tranquilo ao olhar do outro lado do vidro e encontrar Renatinha, Sandra, Longarino, Ronaldo, todos muito importantes para a rotina do meu equilíbrio.
Segunda de manhã, teve reunião de diretoria, fim de tarde dei aula, terça de manhã com a associação das clínicas pediátricas, de tarde com a câmara técnica de cirurgia vascular, fui sendo desplugado da minha mesa. Hoje retornei a ela. Foi um dia agitado, mas levei tranquilo.
Renatinha voltou junto com a mesa. Esse negócio de ficar sem Renatinha segunda e terça está me deixando meio desnorteado. Quando ela chega, as coisas parecem clarear.
Não há nada mais interessante do que essa rotina de trabalhar, almoçar com meus amigos, passar no sebo, continuar trabalhando, ler o jornal na barca. Sempre termino o dia como se tivesse cumprido melhor o meu papel.
Algum sábio já disse que a excelência se consegue com a repetição. É a pura verdade. Enquanto gira o Mundo bizarro, vou tentando fazer minha parte. O que já é muito!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Variações de segunda

Passei o domingo em dúvida se levava o Chicó ao Maracanã ou não. Acabei decidindo não ir e mais tarde concluí que foi a decisão mais acertada. Pelo menos uma coisa interessante ia passar desapercebida: o triunfo do vôlei brasileiro. Já o jogo do Fluminense com o Cruzeiro foi uma pelada de proporções rocambolescas, possível record de passes errados, amostra inconteste de como não se deve jogar bola.
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A Barca me oferecia Mauro Ferreira, Lawrence Block e a Carta Capital. Preferi Lawrence. Passei o fim de semana atualizando jornais e revistas velhos. Hoje retornei ao livro. Voltei na barca das 22, com Mauro e a Carta.
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Sempre leio Mauro Ferreira n'O Dia de segunda e Tárik de Souza no JB de sexta. As melhores informações sobre música brasileira estão ali. Prefiro os dois como notícia do que como crítica, embora Tárik tenha uma formação crítica mais refinada.
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Os jornais dão conta da morte do ator Ségio Viotti em São Paulo. Aprendi a gostar da poesia de Augusto Frederico Schmidt ouvindo Viotti. As noivas de Jaime Ovale devem estar chorando em algum canto.
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Muto simpático esse primeiro disco da cantora Maria Gadú à primeira ouvida. Promete!

domingo, 26 de julho de 2009

Disperso

Terminei a primeira temporada de Fringe. Tenho visto a indústria farmacêutica manipular as pessoas de tal forma que causariam mais estarrecimento ao Dr Walter Bishop e mais preocupação à agente Olivia Dunham do que os monstrengos criados por Fringe. A série não é grande coisa, mas passa batido, dá pra ver e até gostar.
É domingo, faz frio em Niterói, Chicó está vidrado no play station, e eu tento melhorar a dispersão que me tirou da leitura do jornal de hoje, escrevendo. Admito que não vai sair grande coisa desse texto.
Sempre achei que a escrita fosse uma forma de chamar atenção. Quando menino, editava um jornal em folha dupla de papel ao maço e distribuia entre meus amigos. Adorava fazer acrósticos, poesias (tá bom, gostava de chamá-las assim!), e escrever longas cartas platônicas. Nunca ganhei um concurso de redação, nunca tive talento para o improviso. Mais tarde deduzi, e disso já escrevi aqui, que meu escrever na verdade sempre foi endereçado a mim mesmo.
Deduzi ainda que esse gosto de escrever era antes uma necessidade do que um talento ou um dom a ser desenvolvido. E sempre que me manifestava pela escrita, conseguia sair melhor do que pela fala.
Assim, venho escrevendo desde sempre, exceto que depois de uns anos, desisti de mostrar para as pessoas. O tempo vai endurecendo a gente e logo se descobre que a escrita inútill costuma não acrescentar nada pra niguém. Por muito tempo, escrevi só pra mim. Fique tranquilo, não tenho um livro para ser publicado. Não tenho sequer uma palavra escondida. Tudo se perdeu no tempo porque era mesmo para se perder. Tenho um espírito desorganizado para papéis.
Esse blog serviu para resgatar a minha vontade de escrever e mostrar alguma coisa. Não há propósito, nem responsabilidade pelo que escrevo aqui. Só o diletantismo e a vontade de distribuir as palavras. Por isso, torno a ele quase todo dia. E consigo até me livrar da dispersão.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Um conto taoísta


O duque Mu da China disse a Po Lo: "Você está bem entrado em anos. Haverá alguém de sua família capaz de substitui-lo na tarefa de procurar cavalos para mim? " Po Lo respondeu: "Um bom cavalo pode ser selecionado por sua aparência e constituição física. Mas o cavalo fora de série - o que não levanta poeira nem deixa rastro - é algo evanescente e fugidio, tão intangível quanto o ar rarefeito. Os talentos de meus filhos situam-se em plano definitivamente inferior: reconhecem um bom cavalo quando o vêm, mas são incapazes de identificar um cavalo excepcional. No entanto tenho um amigo, chamado Chiu Fang Kao, um vendedor de lenha e de legumes, que não fica nada a me dever em matéria de cavalos. Por favor, fale com ele.
O duque Mu assim o fez, enviando-o logo depois em busca de um cavalo. Passados três meses, ele voltou anunciando que o encontrara. "Está agora em Sach'iu", acrescentou. "Que tipo de cavalo é ele?", perguntou o duque. "Ah, é uma égua meio baia.", foi a resposta. Porém, quando alguém foi buscar o animal, verificou-se que era um garanhão negro como carvão! Muito contrariado, o duque mandou chamar Po Lo. "Esse seu amigo, disse ele, que contratei para encontrar um cavalo, meteu os pés pelas mãos. Ora bolas, não sabe distinguir a cor ou o sexo de um animal! O que ele pode entender de cavalos?" Po Lo soltou um suspiro de satisfação. "Será que ele chegou a tal ponto?" perguntou em tom excitado. "Ah, então ele é dez mil vezes melhor do que eu. Não há comparação entre nós. O que Kao tem em sua mira são os elementos espirituais. Certificando-se do essencial, esquece os detalhes comezinhos; concentrando-se nas qualidades internas, perde de vista, os sinais exteriores. Ele vê o que quer, e não o que não quer ver. Vê o que precisa ver, e esquece o que não precisa ver. Kao é tão sábio como avaliador de cavalos que deveria julgar algo melhor do que simples animais."
Quando o cavalo chegou, provou ser extraordinário.
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Esse conto taoísta, que está escrito em Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira, J. D. Salinger, povoa minha memória fóssil há muitos anos, desde que li o livro (a primeira edição no Brasil, a que li, chamava-se Pra cima com a viga, moçada!). Tentava reproduzi-lo ontem para Wanderley e Cláudia, da Câmara Técnica de MBE, com idéia de transferir os cavalos para a evidência científica de boa qualidade. Tudo são escolhas e a toda hora, somos instados à condição de juizes. Acho que o melhor tempo é aquele em que não precisamos escolher. Vivemos simplesmente!
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Peguei foi chuva! Uma chuva fininha, gelada e corrida, atípica, veio me acompanhando até o Ingá. Esse tempo está propício para hibernar e ouvir música.
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A cantora Joyce Moreno se redime de todo esse tempo que ficou fazendo música para inglês ouvir nesse novo Slow Music. E apresenta um pianista (Hélio Alves) finíssimo, desses que a gente não sabe porque não ouviu até hoje.
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Welington Monteiro tem o dom de sumir na hora que o Fluminense leva gol. Botei a câmara em slow motion nos dois gols do Atlético Mineiro e Welington Monteiro tinha sumido. Ou Renato Gaucho dá mais visibilidade à defesa, ou vai ficar sempre um buraco ali onde passam os gols. De qualquer jeito, o time que perdeu para o Atlético foi outro. Já estou quase entrando na campanha Renato Gaúcho, eu acredito, proposta pelo corregedor Delto Muriaé.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A canção do lobisomem


Lawrence Block merece mais do que cada minuto de leitura de seus livros policiais na barca das sete. Merece um comentário e uma reflexão aguda, pela maneira com que manipula cada personagem. É um autor singular. Nesse "O ladrão que estudava Espinosa" , em que o personagem central é um livreiro e ladrão, ele entra no universo de Bernard (o livreiro), Carolyn (a amiga) e Abel (o interceptador), provocando uma mistura de sentimentos muito interessante de cada um em nós. Da mesma maneira que Mathews Scudder, o detetive sebento de vários outros livros dele, provoca.
Scudder tem qualquer coisa do Renzo Marques de Epitáfios e do Detetive Guedes de Bufo e Spallanzani. Qualquer coisa de empoeirado e sombrio.
Sombrio como esse disco da mineira Maisa Moura, uma grata surpresa. Maisa ousa gravar O pidido (Elomar Figueira de Melo) muito bem arranjado e noturno. E ousa mais, ela grava A canção do Lobisomem, do Guinga e do Aldir. Essas ousadias só são possíveis às grandes intérpretes.
A canção do lobisomem é do segundo disco do Guinga, até ontem só conhecia com ele. Quando "estudava" violão nos anos 90, pedi ao Moreira que tirasse a música. É intocável para um sujeito pouco talentoso como eu, apesar do esforço do Moreira. Sou apaixonado pela canção. Ela dá uma caída em "nem a cobra coral, nem mesmo a naja", lá pelo meio da letra, que me faz chorar lá no íntimo cada vez que ouço. Aldir e Guinga conseguem ser milagreiros quando compoem.
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Aldir voltou a compor com João Bosco, que acaba de lançar Não vou pro céu, mas já não vivo no chão. Estou ouvindo aos poucos, de acordo com a boa vontade do meu shuffle, mas hoje de manhã ele já mandou dois clássicos de uma vez só.
Vinha chegando no Rio, já pegava a reta da Praça XV, mas deixei os outros saltarem primeiro (continuo treinando para ser o último a sair do avião, como ensinou Gilberto Gil), e de repente me veio essa Navalha. Quando deixei a Praça XV e entrei pela primeiro de março terminou a Navalha e entrou Mentiras de verdade, uma canção cheia de referências a Tito Madi.
Além de Aldir, João Bosco compôs com o filho Francisco, com Nei Lopes e com Carlos Rennó para o disco novo, mas essas duas possuem a cara e o focinho do Aldir Blanc.

"Essa angústia hoje é boa companheira
Da conversa entre o Príncipe e a caveira
Deduzi que a esperança
É uma besteira corroendo o amor
- Deus o tenha!

Entre amar e matar não sobra espaço:
Quantas lâminas rente ao meu abraço
E cristais de arsênico em meu beijo
Vão matar o que mais quero
Quando não espero é que Deus dá"

terça-feira, 21 de julho de 2009

Coisas do futebol

Os jornais anunciam a volta de Renato Gaúcho ao Fluminense. Acho um tanto medíocre como técnico, mas costuma ter uma estrela poderosa. Tomara que consiga pelo menos, melhorar o ambiente. Por intuição, imagino que ele vá voltar com Fernando Henrique para o gol e manter o jovem Cássio na zaga, não dá pra fazer muito mais do que isso. Renato assume o time com uma pedrada pela frente: o líder Atlético Mineiro. Hora não muito própria para mostrar serviço.Os tricolores têm ótimas e péssimas recordações de Renato. As últimas vezes que gritei de ficar rouco num jogo foram com ele. Estou quase a ponto de achar que foi a decisão mais coerente. O Fluminense precisava de um conciliador, papel momentaneamente difícil para Muricy Ramalho, que nada conhece do clube.
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De qualquer jeito, o Fluminense tem sido uma lição de como não se deve administrar uma empresa. Todo esse ranço político chacoalhado ultimamente pela imprensa não faz jus a um time desse porte. Parreira parecia ter um projeto de longo prazo, impensável no futebol do Rio hoje.
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Chicó parece gostar cada vez mais do futebol. Hoje liguei pra ele e estava vendo reprise do jogo do Atlético Mineiro pra estudar o time. Mal sinal!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ginkobiloba

Segunda-feira é um dia perigoso pra ficar bajulando ATS o tempo todo, mas a verdade é que as ATSs me perseguiram hoje. ATS é uma sigla que serve para designar avaliação de tecnologias em saúde. Estava devendo uns trabalhos pra reunião da quinta que vem da Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências e depois vieram uns arquivos do novo rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde para avaliação. Somado às incoerências de segunda, deu pra terminar o dia semi-vivo.
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Existem milhares de artigos científicos publicados todo dia e é impossível ler todos eles. Se você vai entrar para o ramo, é bom ir sabendo que é preciso filtrar o filtro para conseguir alguma coisa. Boa ou ruim, costuma existir evidência pra tudo de novo.
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As evidências pouco importam a minha mãe. Já falei pra ela que ginkobiloba é um embuste, mas não adianta. É só um clínico passar a mão na cabeça dela que ela sai dali acreditando que gikobiloba faz milagres.
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Chamo atenção da ginkobiloba porque aparentemente é um sal inofensivo, desprovido de qualquer efeito colateral, ao contrário das mutilações de estômago e coluna que estão sendo introduzidas com um simples passar de mão na cabeça das pessoas.
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Com esse meu inglês de merda, só consigo ler e fazer avaliação crítica de meia dúzia de abstracts por dia, depois dá dor de cabeça. Hoje não foi diferente. Eu não gosto muito desse negócio de ficar lendo ata, memória de reunião e assemelhados, mas dentro do que eu faço, não tem como fugir. E geralmente se sai melhor quem fica ali lendo cada detalhe. Hoje parei pra ler.
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Foi uma segunda-feira atordoada, chuventa e friosa. Minha salvação foram os e-mails do Ortega, um sujeito especialista no envio de auto-ajuda e putaria, parada obrigatória entre uma leitura e outra.

domingo, 19 de julho de 2009

Enquanto Luisa dormia

Fiquei por conta da ida das meninas hoje. Ainda vi Bob Marley (Legend), Gil (Kaya na Gandaya) e Ney Matogrosso (Batuque) com Laura, enquanto Luisa dormia. É bom rever tudo isso com quem se ama. De alguma forma, é passar um pouco do que se viu ou ouviu e gostou. E é reconfortante quando se percebe que há harmonia, que a sala parece se envolver com uma sintonia única: a sala está feliz como nós. Queria congelar esse momento pra poder pegá-lo a hora que eu quisesse. A hora em que tudo ficasse ruim.
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Laura não deixa passar nenhum movimento. Dança com os olhos na tela. Eu de cá vou percebendo detalhes que passaram desapercebidos, como essa sanfoninha no disco do Gil ou Ronaldo do Bandolim destroçando o um a zero ou esse samba do Nelson que o Ney desencavou.
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São lados da minha vida que estão muito bem alinhavados. Em mim. Música, filhos, trabalho. Não se pode ter tudo, mas de vez em quando é bom saber que se tem alguma coisa.

Guimbas

Minhas filhas estão aqui comigo. Afora o prazer de estar com elas, significa fila de espera para usar o computador e o nôte. Prefiro não arriscar e ficar em atraso com o blog . A não ser agora de manhãzinha, quando elas ainda dormem.
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Na sexta, fui a São Paulo. Fui e voltei em tempo record, restringindo-me a participar da reunião. Fui lendo Woody Allen, Fora de órbita e voltei lendo Aldir Blanc, Guimbas. Gostei dos dois.
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Guimbas é um livro de tiradas, deu pra ler inteiro na hora de vôo. Não é a especialidade do Aldir, mas não deixa de ser um bom livro. O humor corrosivo de sempre
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Muito bom em tiradas foi Leon Eliachar. Adorava seus epitáfios ("de um comunista: foi-se").
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Fora de órbita surpreendeu-me muito positivamente. Woody escreve contos como se escrevesse roteiros de cinema. Dá pra imaginar o sujeito levitando, o outro de terno eletrificado, personagens do seu livro.
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Ontem fui ver Harry Potter com as meninas. Um Potter maduro, sem happy end. O que estou dizendo? Harry Potter é uma fantasia, não passa disso. No quesito interpretação, Emma Watson dá de dez nos meninos.
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Depois eu e Laura vimos Sinfonia de Paris, título insosso para Um americano em paris, obra prima de Gerswhin transformada em cinema por Vicent Minelli e Gene Kelly. Ganhou muitos Oscar, mas não deixa de soar datado como história. Música e dança perfeitos, já o roteiro é meio forçado.
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E no fim da noite, houve o jogo do Fluminense, que prefiro não comentar, mas que, somado aos resmungos da minha mãe e aos desacertos do vélox, fizeram-me pegar a reta e sair correndo em busca de ar fresco no calçadão da Praia de Icaraí.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

De livro e solidão.

Os donos dos grandes sebos aqui do Rio não são necessariamente simpáticos. Pelo menos os que mais gosto: o Cláudio da Escuta Som e a Sílvia da Beringela. Dificilmente têm uma palavra de agrado, falam quase sempre muito pouco e geralmente não guardam o que você pede, mesmo que você seja um comprador contumaz, um rato de sebo, por assim dizer. O livreiro que não compra da editora, raramente tem o livro que você quer, e quando tem, não o guarda. Quer logo vendê-lo! Principalmente os livros que saem rápido, tipo um Lobo Antunes ou um Philip Roth.Você tem que ter uma espécie de paciência santa misturada com avidez para conseguir o que quer a um preço bom. Estou sempre meio cansado da rotina dos sebos, mas sempre retorno a eles. Como hoje e quase todo dia depois do trabalho.
Quando não se pode contar com a simpatia dos livreiros, há sempre um garimpo honesto de bons livros. No Beringela, tem a vantagem do celular não pegar, o que garante uma privacidade invejável para os dias de hoje. É um santuário aquele sebo!
Do lado da Beringela, no suntuoso Marquês do Herval, tem a livraria Leonardo da Vinci. Já ouvi falar, Antônio Cícero já poetou, que em outras épocas, era uma livraria de grandes livreiros, pessoas que conheciam e estavam sempre dispostas a ajudar. Foram outros tempos. Hoje quando entro na Leonardo, dificilmente consigo discutir com quem quer que seja sobre um novo livro que quero ler.
Um bibliólico é um solitário por natureza. Deve se acostumar com isso.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A menina dança


"Quando eu cheguei tudo, tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma viro os olhinhos.

Só entro no jogo porque
Estou mesmo depois
Depois de esgotar
O tempo regulamentar.
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No canto do cisco
No canto do olho
A menina dança
E dentro da menina
A menina dança
E se você fecha o olho
A menina ainda dança
Dentro da menina
Ainda dança

Até o sol raiar
Até o sol raiar
Até dentro de você nascer"

Galvão e Moraes

Existe um tipo de arte que não me apega. Pintura, dança, balé, exposição, moeda, selo, acho tudo muito bonito, mas nunca me envolvo. Certamente será por falta de competência ou porque eu gosto tanto de música e leitura que sobra pouco espaço pras outras.
De fato, não sei de onde Laura tirou esse cacoete, mas é tão encantador vê-la dançar, que parece que os mais primitivos Freitas e Bragas já dançavam avidamente por esse Mundo.
Quando Laura começou a dançar, tratei de fazer algumas importantes atualizações e incluir a dança na minha rotina. Tinha boa memória do Grupo Corpo, do Balé do Teatro Guaíra e de Ivaldo Bertazzo, tudo que ligava música à dança. E sugeri a ela que fizesse o João e Maria nos quinze anos. Ela fez. Acho que Sivuca deve ter se agarrado a alguma santa lá no céu, embestado de ver como sua música podia se tornar tão sublime no corpo de uma menina dançando. Foi muito mágica aquela valsa.
E daí tenho sempre estado com vontade de escrever a ela e dizer o quanto tudo isso me orgulha. E recomendar que ela se entregue da forma mais escancarada possível, pois quando se ama um bem da alma, a natureza dá qualquer coisa de retorno para o viver. Foi assim comigo com música e letra. E assim tem sido. Como uma doença que só tem sintomas bons.
E de que eu só tenho arrependimento do tempo que eu deixei de ler e ouvir , do tempo que me faltou a poesia e a música.
Que nunca lhe falte a dança, minha pequena!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ver, ouvir, ler



Pra fechar o sábado, o indefectível especial de 50 anos de Roberto Carlos. Lembrei dos mantras da Angélica Freitas (aqui, oh!). Bem que Roberto podia ter poupado a gente daquele set emendado de Lady Laura, Nossa Senhora e Mulher Pequena, mas foi ali que ele cantou uma canção de 86, Aquela Casa Simples, que já tinha caido no esquecimento e é bonita. Eu queria mesmo é que ele cantasse O divã.
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No domingo, vi Trama Internacional (em casa) e A mulher invisível (no cinema). O primeiro é um policial morno, só foi aos cinemas porque aborda a tirania dos grandes bancos mundiais e pela ótima participação de Clive Owen. O segundo é uma comédia brasileira média. Tentaram enfeiar a Maria Manoela de todo jeito para não ofuscar a Luana. Foco no nariz imperfeito, cabelo muito encolhido, o corpo bem mais magro do que em Nossa vida não cabe num Opala (prefiro Maria Manoela mais fofa, mas aí talvez seja coisa minha), mas pra mim, não conseguiram! Maria Manoela não deixou de ser um triplo A de candura e beleza. .....................................................................
No fim da noite, vi o capítulo final de Epitáfios. Brilhante o desfecho que deram. Hugo Chavez deu aula de interpretação. Pelo que fez, deveria ganhar todos os emmys, enes e globos da vida.
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Acabo de saber da demissão do Parreira, para a qual já faço meu manifesto inútil: Sou Contra!!!
Não se pode culpar um técnico quando não se tem um time. E era exatamente isso que Parreira estava tentando fazer: dar personalidade a esse time medíocre do Fluminense. Fui campeão com Parreira em 84 (foto acima, meninos, eu vi!!!), saimos da terceirona com ele. O Fluminense deve muito a Parreira, inclusive paciência.

domingo, 12 de julho de 2009

Blanc , Mirisola e a MPB hereditária

Bem que eu venho querendo escrever um texto bacana sobre a entrevista concedida à Marcelo Mirisola por Aldir Blanc no Congresso em Foco há alguns meses. Gosto muito dos dois. Do primeiro, por ser um provocador legítimo, coisa difícil de se achar hoje em dia. E de Aldir, não preciso escrever nada: é o letrista brasileiro mais tocante que já ouvi e no quesito provocação, é professor de Marcelo. De alguma forma, o encontro dos dois, tem qualquer coisa de mágico pra mim.
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Mas estou aqui ainda sob o pasmo dessa derrota do Fluminense para o apático Santo André, cujo melhor jogador é Marcelinho Carioca, do alto dos seus 38 anos! Pode ser que vá sair uma bobagem esse texto, mas vá lá!
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Mirisola provoca Aldir o tempo todo, querendo extrair dele uma tirada genial de cuspe a distância. Aldir não rejeita a provocação. O clímax da entrevista é quando Mirisola fala da MPB hereditária. Essa música brasileira que vem sendo feita por músicos filhos de ícones, tipo Maria Rita, Simoninha e outros. Nessa hora, Aldir parece procurar mais a elegância do que a agressão. Poderia se dizer que são filhos de velhos parceiros e amigos de Aldir e ele se constrangeu. Mas não! É aí que consegue extrair os melhores momentos da entrevista e dá aula em Marcelo de que o provocador tem que conhecer muito da vida para sair atirando para todos os lados. Sem perder o condão de alfinetar, Aldir se sai numa elegância soberana, condizente apenas com os grandes sábios. Há pontos comuns entre o que eu penso dessa geração e o que Aldir quis dizer nas entrelinhas.
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1) "Acho que os filhos do Simonal mereceram um destaque excessivo, talvez uma espécie de culpa pelo patrulhamento do pai.." - isso, pra mim, está estampado nas coisas que eles fazem. Cansei de ouvir Max de Castro e Simoninha, até tenho alguns discos, mas eles nunca me disseram nada! É uma coisa que parece querer dar sequência à bossa, mas tem pouca textura.
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2) "Maria Rita é um talento puríssimo, tão grande que tenho até medo de falar nela" - mais uma grande verdade! Maria Rita pode não ter 10% da verve de Elis, mas mete medo vê-la cantar para todo Mundo que já viu Elis. É de um parecer embriagador!
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3) "Cláudio Lins canta muito bem e está amadurecendo como ator." - Nessa aí, o Aldir me pegou. Não consigo enxergar nada em Cláudio Lins, além do fato de ser filho de uma grande cantora (Lucinha) e de um grande compositor (Ivan). Mas prometo prestar mais atenção!
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4) "Sou padrinho do Chico Bosco, conheço bem seu trabalho, ele é um letrista excelente" - Concordo. Francisco Bosco tem feito o que pode para sair da sombra do pai. E tem as letras maravilhosas do disco As mil e uma aldeias, principalmente O Sacrifício. Esse disco foi muito pouco ouvido, merecia sorte maior.
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Dessa nova geração, eu acrescentaria outros que ainda não me convenceram: Luciana Melo, Jair Oliveira, Bena Lobo, Pedro Mariano, tudo parece respingado de uma música insossa, sem brilho, e uma que eu gosto muito: Carol Saboya, filha de Antônio Adolfo, que vem mostrando personalidade desde os primeiros discos.
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Finalmente, uma percepção do Aldir sobre a máscara que algumas pessoas ganham da imprensa de isenção, pareceu me bastante sábia:
"O que me incomoda é o seguinte: tanto faz se algumas das pessoas citadas fizerem um bom trabalho ou não, a crítica será sempre elogiosa. Isso aconteceu várias vezes, inclusive num plágio descarado. Alberto Moravia dizia que alguns, provavelmente se referindo a Ítalo Calvino, são protegidos por um escudo de amianto, enquanto outros não podem cometer o menor deslize. É verdade. Sobre o tal escudo, lembrei da forma como a bebida é tratada. O Tom, o Nelson Cavaquinho e outros podiam encher a cara. Se o João Antônio virasse um conhaque, o clima era de "tsk, coitado, é alcoólatra". João Ubaldo sobreviveu a uma espécie de Auschwitz midiático. Gabeira queima um fuminho e é um libertador. Se eu acender um pavio, vão dizer: "além de bêbado, é maconheiro"."

sábado, 11 de julho de 2009

Receita de sábado



Retorno hoje aos marasmos de sábado em Niterói. O ideal é ler, ouvir, ver, não necessariamente nessa ordem. Seria bom se pudesse acrescentar o caminhar, mas ando muito cansado para retornar às velhas caminhadas. Quando tive um primeiro surto depressivo quem segurou a barra foram o Jadim, a Tia Cicida e o caminhar. Até descobrir a química, era caminhar até o final da Praia de Icaraí e na volta, passar na Tia Cicida para um café e uma conversa. Ela me deixava a vontade pra falar sobre o que eu quisesse, nunca perguntava nada e assim a gente foi indo durante perto de um ano. As caminhadas começaram no horário de verão, mais afeito à caminhadas, porque se pode caminhar ainda de dia. Caminhar serve para ruminar as coisas do pensamento. Serve para entender muita coisa. E é um forte gerador de boas idéias.
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Para ouvir, esse disquinho Deux Fleurs avec Tom Waits, onde um trio de bandoneon, bandolim e percussão visita a obra do cantor, está ocupando meu ouvir hoje. A voz da moça é de privada de pé sujo em fim de noite, bem ao jeito de Tom. Ótimo!
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Para ler, além de jornais e revistas que sufocam meu quarto, Lawrence Block, O ladrão que estudava Espinosa. Adoro Block e seu noir infectado. tipo Bilhete para o Cemitério ou Uma longa fila de Homens Mortos, onde um policial alcoólatra decadente reina nas histórias.
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Para ver, Fringe, um seriado maluco dirigido por JJ Lost. Diferente de Lost, mas igualmente bom. Já estou no final da temporada.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

"Tiraram o lugar de debaixo de mim"

"Veio me dizer que eu desestruturo a linguagem. Eu desestruturo a linguagem? Vejamos: eu estou bem sentado num lugar. Vem uma palavra e tira o lugar debaixo de mim. Tira o lugar em que eu estava sentado. Eu não fazia nada para que uma palavra me desalojasse daquele lugar. E eu nem atrapalhava a passagem de ninguém. Ao retirar debaixo de mim o lugar, eu desaprumei. Ali só havia um grilo com sua flauta de couro. O grilo feridava o silencio. Os moradores do lugar se queixam do grilo. Veio uma palavra e retirou o grilo da flauta. Agora eu pergunto: quem desestruturou a linguagem? Fui eu ou foram as palavras? E o lugar que retiraram debaixo de mim? Não era para terem retirado a mim do lugar? Foram as palavras pois que desestruturaram a linguagem. E não eu."
Manoel de Barros


Coisas que agudizam minha depressão:

1) Sinal vermelho em estrada longa.

Entre Porto das Caixas e Magé, há uma ponte. A ponte está em obras, só passa um veículo. O energúmeno que controla o sinal não tem noção de tempo. Esperamos 43 minutos para o sinal abrir e já estávamos bem lá atrás. Ensaiei um buzinaço, soquei o teto do carro, xinguei até a quinta geração do sinaleiro. Vi passar caminhão, lambreta, charrete, trem e 43 minutos de vida!

2) Esquecer a pilha do Ipod.

Na verdade, é a bateriazinha do mantenedor do relógio do dock do Ipod, entendeu? O raio da bateria dura dois meses. Fiquei 3 dias indo ao camelódromo, comprar o troço, chegava lá esquecia. No quarto, botei a velha no bolso da camisa e fui. Meu pai vai pra roça cheio de coisa escrita no braço. É uma boa tática para não esquecer. Pois bem, comprei um conjunto de 5 de uma vez. Não é que a mulher vendeu a bateria errada?!?

3) O Fluminense perder de um ou de quatro.

Não importa, qualquer derrota é um start para o degredo. Nem sei mais se vale a pena acompanhar esses jogos!

4) A polícia da xereca da vizinha.

Essa gente que não tem o que fazer e só faz atrapalhar sua vida, acompanhar seus passos pra distorcer e contar pros outros e tirar o lugar de debaixo de você. Nem duzentos livros de auto-ajuda, nem as canções mais zens do Mundo irão aprumá-las. São malas de mal amadas, mal comidas e só se prestam a esse tipo de papel abjeto. Pode que eu sofra, pode que eu fique sozinho no Mundo, mas hei de tirá-las de debaixo de mim, ah!, se hei!

5) Comprar um disco e ficar sem o disco.

Já falei aqui, só compro disco no Cláudio, raramente na rede, geralmente os independentes que o Cláudio não tem acesso (raros). Pois bem, caí na asneira de comprar uns cds na saraiva.com.br, atraido por um desconto aceitável. Pois um dos discos veio só a capa lacrada. Ao abrir, não tinha o disco! Fiz contato com o atendimento da Saraiva em São Paulo, esperei por todos os descumprimentos da lei (atraso, falta de protocolo, sistema lento, etc, etc, etc) pra ouvir que já haviam passados mais de 7 dias da entrega e eu não tinha o direito de reclamar!!!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Dona Leila

Resolvi fazer um protesto amigável contra a ausência da Dona Leila aqui no andar por 30 dias. Um dia desses, Dona Leila deu-me um cartão vermelho e uma bala azeda por estar usando copo descartável para tomar café e não a caneca distribuida pela empresa. Daquele tempo a essa parte, só usei a caneca. Agora que levaram Dona Leila pra outro andar, vou virar anarquista de novo. Até que ela volte para aplicar um novo cartão vermelho. Dona Leila é a copeira do décimo primeiro aqui da empresa. Parece a bondade em pessoa. Dona Leila parece ter olhos tristes de quem já sofreu e concluiu que a vida vale a pena. Tem sempre um sorriso doce, uma pergunta simpática ou uma oferta de biscoito na manga. Mesmo depois que eu proibi os indefectíveis cookies nas reuniões das Câmaras Técnicas. Cheguei de férias e Dona Leila já não estava aqui. Desde muito não a vejo. Está fazendo falta na minha chegada. Falta água na moringa, falta alguém pra perguntar se está faltando alguma coisa.
São esses ritos de paz que nos fazem melhorar a cara azeda que temos. Dona Leila tem um pouco da Edéia, da Dona Leda, da Diô, das pessoas que parecem ter nascido para servir. Das que nunca vemos de mau humor. Das que estão sempre prontas. Das que aguentam nosso carão com um afago de compreensão qualquer. Das que me fazem lembrar a) do arroz doce da minha vó; b) do macarrão do Geraldo Paturi; c) do frango com quiabo da Sá Esmera; d) de Guimarães e Pessoa; e) do açude do Assis e de todas as coisas ternas que passaram por mim e ainda passam.
Entre uma incompreensão e outra, entre um calhamaço de processos de dúvida, entre o aparecimento de uma nova gripe e a podridão do senado, entre a minha sala e a Sala Cláudia Reis, reina a mini-copa da Dona Leila. Espero que volte logo!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Fantasia inútil para um belo disco


A melhor homenagem ao centenário de Carmem Miranda foi Balangandans de Ná Ozzetti. Cada vez que ouço, só me faz gostar mais. Já até me acostumei com a guitarrinha insossa. Já até estou achando que insosso sou eu e a guitarrinha é coisa de gênio. É coisa de Mário Manga.
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Acho que foi assim 1:
Mário Manga quis fazer um disco pra filha, Mariana Aydar, e como soubesse que a filha é do samba, achou por bem homenagear Carmem. Mostrou o projeto, mas a moça já estava ocupada com Peixes, pássaros e pessoas e desistiu de gravar. Ná Ozzetti soube da história e pegou pra ela, ainda sem saber que faria um dos melhores discos do ano.
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AQFA 2:
Ná Ozzetti teve um estalo de aproveitar as músicas que pesquisou para o disco Rumo aos antigos, obra prima dos anos 80, e acrescentar mais coisas do repertório de Carmem e fazer um disco homenageando a moça. Chamou Dante e Manga, que toparam na hora, a empreitada.
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AQFA 3:
Rodrigo Rodrigues deixou póstumo um projeto de gravar um disco em homenagem a Carmem Miranda depois do primoroso Fake Standarts, mas morreu antes de colocar voz. A música brasileira perdeu um vocalista ímpar, mas o projeto foi salvo por Ná Ozzetti.
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Nenhumas dessas historinhas é verdadeira, mas tem qualquer coisa de Rodrigo em Balangandans, tem muito de Manga, e poderia ser perfeitamente gravado por Mariana. É um belo disco!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Orquestra Típica

Deixei as meninas hoje em Miracema. Fui e voltei. Fui por Magé e Pirapetinga e voltei por Leopoldina e pelo Rio. Pra quem conhece essas estradas, a volta foi bem melhor que a ida. Voltei ouvindo tangos. Começando pelo excelente Fervor de Buenos Aires, depois Gary Burton/Piazzolla, Julio Martel, Orquestra Fernandes Fierro e finalmente o disco dos irmãos Assad tocando Piazzolla. Típica volta solitária cheia de orquestra típica. Parei rapidamente para abastecer na Serra do Capim. A S10, no que pesem alguns maus tratos meus em Paraty, não titubeou: é uma excelente companhia.
Disfarço meu texto para minimizar a falta delas. Que fazer?
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Cheguei e vi o penúltimo capítulo de Epitáfios. Mataram Cecília Roth! Era só o que me faltava depois dos tangos e da ausência das meninas.
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De Paraty, ainda não falei da mesa do Chico. Tenho pouco a dizer, vi de longe. Gostei de ter ouvido que o livro é baseado na canção O velho Francisco. Alexandre acertou em cheio! De resto, cheguei à conclusão que, embora indo pela primeira vez, as meninas parecem nunca ter deixado de ir comigo naquela festa. Paraty parece que já era parte da vida delas.

domingo, 5 de julho de 2009

Antônio Lobo Antunes

Antônio Lobo Antunes merece uma hora de fila, revezada entre mim e Laura, para pegar um autógrafo. Durante a fila, fui lendo Exortação aos Crocodilos e conversando com uma menina que está fazendo doutorado em letras e é profunda estudiosa da obra do escritor. O nome dela é Diana Navas e o livro em que discute a obra de Lobo Antunes chama-se Narcisismo discursivo e metaficção. Foi ela quem tirou essa foto.
Bom, a menina pode não entender muito de fotografia, mas de Lobo Antunes ela entende. Aproveitei para tirar uma prosinha. Disse que tinha achado Os cus de Judas complicado. Ela achou engraçado e falou que os outros são muito mais!
É que o autor usa vários narradores pra contar uma história. A única exceção é n'Os cus de Judas. Exortação aos crocodilos já ia me dando dor de cabeça quando começamos a conversar.
Lobo Antunes é uma figura escalena. É médico psiquiatra, mas abandonou a medicina desde que começou a vender livros. Ainda é pouco conhecido no Brasil. A FLIP veio em ótima hora para mim e para ele!

sábado, 4 de julho de 2009

Dia de Maria Martha



Nesse momento pareço estar perdido aqui no meio da festa.
Sumiram todos e vim aqui pra casa Jornal do Brasil fazer um test drive no vivozap.
Antes fomos à Fazenda Murycana tomar café de rapadura e pinga com doce de abóbora.
Lembrei há pouco do demônio do meio dia.
Da hora em que a depressão parece escarnecer.
Mas é só um momento ruim em zilhões de outros bons.
Da Rua das Pedras, vem o burburinho alegre das pessoas.
Tenho que sair daqui.
Hoje é dia de Maria Martha.

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Tem duas coisas que eu assumo um compromisso íntimo antes de chegar em Paraty. Coisas que não podem deixar de ser feitas. A primeira é ir ao Restaurante Santa Rita e comer o Camarão Geraldo Lins, uma maravilha da culinária daqui, preparada pelo Seu Osvaldo. A cada ano, ele aumenta o preço, diminui a quantidade de camarões, mas o sabor continua divino. Fomos ontem. A outra é ver Maria Martha.
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Maria Martha reina no almoço do Margarida Café, no centro histórico de Paraty. Nasceu aqui, foi pra São Paulo fazer uma carreira brilhante, adoeceu e voltou. Está muito bem hoje aqui. Pérolas como Lola (Chico Buarque), Quando eu for, eu vou sem pena (Paulo Vanzolini) e Águas Passadas (Eduardo Gudin e Roberto Riberti) ganham seu brilho definitivo na voz doce de Maria. Entre o cintilar dos talheres e a conversa das pessoas que pouco respeitam o acontecimento, Maria canta e joga beijos para os que reconhecem seu valor. Entre todos, fiquei ali sentado no bar, extasiado como sempre.
"Quando eu for, eu vou sem pena
Pena vai ter quem ficar....."

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dia dos Poetas

r.c.

os grandes colecionadores de mantras pessoais não saberão a metade/ do que aprendi nas canções/ é verdade/ nem saberão/ descrever com tanta precisão/ aquela janela da bolha de sabão/meu bem eu li a barsa/ eu li a britannica/ e quando sobrou tempo eu ouvi/ a sinfônica/ eu cresci/ sobrevivi/ a privada de perto/ muitas vezes eu vi/ mas a verdade é que/quase tudo aprendi/ ouvindo as canções do rádio/ as canções do rádio/quando meu bem nem/ a verdadeira maionese/ puder me salvar/ você sabe onde me encontrar/e se a luz faltar/ num cantinho do meu quarto/ eu vou estar/com um panasonic quatro pilhas AAA/ ouvindo as canções do rádio

Angélica Freitas

Hoje foi dia da mesa dos poetas. Procuro não perdê-la em nenhuma FLIP. Dessa vez mais ainda, pela possibilidade de ver Carlito Azevedo (na foto com Laura e Luisa) mediá-la. Carlito é um dos poetas que mais gosto e tem sido difícil acompanhá-lo nos últimos tempos. Sua revista não chega aqui no Rio, pelo menos onde eu compro revistas, seus livros são difíceis de encontrar. Carlito foi muito elegante como mediador e apresentou os colegas como velhos amigos que devem ser. Falou de Francisco Alvim, outro poeta que gosto muito, do fato de sua poesia ter influenciado Heitor Ferraz e da poesia cotidiana dos dois.
Gostei de ver Angélica Freitas, especialmente desse poema aí de cima que ela leu e de Eucanaã Ferraz ter escolhido "Evocação do Recife", um das minhas referências em Bandeira, para ler.
De tarde fomos à pré-estréia de Só 10% é mentira, do diretor Pedro Cézar (presente na exibição), baseado na obra de Manoel de Barros. Belo documentário, mais um na lista dos melhores do ano. Com depoimentos de Fausto Wolf, Elisa Lucinda, atores e familiares do poeta Manoel e do próprio poeta (iluminado como sempre!), Pedro foi costurando momentos de rara beleza, juntando versos aos depoimentos. Levei as meninas comigo, inclusive Marcela e Lorena. Ficamos todos impregnados pelas latas, ciscos e escombros de Manoel de Barros.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Paraty e seus encantos


De Miracema até a Pousada das Acácias na estrada Paraty-Cunha são 514km, 8 horas, 150 músicas, outras tantas no Ipod da Luisa, que não abre mão de seus rocks, uma parada prum sanduba na Casa do Alemão e outra no Extra do final da Av. Brasil pra comprar água e cerveja. Deu tudo certo na viagem, obviamente terminamos cansados.
Já tinha vindo até a Pousada das Acácias com Letícia há muitos anos no tempo em que a OFF FLIP se estendia a Cunha e tinha o Casarão do Cunha, onde fizemos Curso de Haicai com Alice Ruiz e participamos do lançamento do livro do Hermínio sobre Aracy de Almeida, a dama do Encantado. Bons tempos!
Então, na primeira noite, foi só dar uma chegada em Paraty para olhar a festa e a cidade. Ficou para trás o imperdível show de Rômulo Fróes e Adriana Calcanhoto, mas aqui você tem que optar mesmo. Sempre se perde alguma coisa.
No dia seguinte fomos à mesa de Domingos de Oliveira ouvir sobre separações. Domingos falou das suas cinco separações e de como sofreu muito em cada uma. Apesar do sofrimento, foram fases muito produtivas da sua vida, pois aproveitou todas elas para escrever. Domingos consegue extrair poesia do sofrimento. Tudo que falou foi muito interessante como sempre. E Laura adorou, principamente quando soube que Domingos é pai da Maria Mariana.
Andamos por todo o Centro Histórico, fomos à Casa da Cultura e ao Espaço do Jornal do Brasil, compramos bilhetes para o dia seguinte, comemos pizza numa pizzaria da Praça da Matriz, que possivelmente tem o melhor sorvete de Paraty.
A cidade, que já é linda. fica infestada de gente letrada nessa época. É bom olhar para as pessoas daqui. Mesmo quando vim sozinho, não me senti só. Mas foram outros tempos. Agora é muito bom estar em família.

Onde comer bem no Centro do Rio

O tempo tem mostrado que comer no Centro do Rio é tarefa cada vez mais complicada. Ando limitado aos restaurantes antigos que como há mais d...