quinta-feira, 27 de junho de 2013

La nave del olvido ou ficamos ali ouvindo Chavela

Éramos nós dois, como se o Mundo fosse só dois, e aquele fim de tarde tijucano sem razão de ser. 
Lembro que abri um vinho tinto e liguei o itreco no aleatório, esperando por um fado ou uma canção de afeto que embalasse a conversa fresca. Ficamos ali embevecidos de boa conversa e canções de afeto.
De repente, a certa altura do vinho tinto, a vitrola mandou Chavela Vargas. Paramos pra escutar. Comecei a pensar no quanto seria incômodo para quem não conhece, a voz tristonha e arranhada de Chavela, mas o cair da tarde e o vinho contribuíram para compor um cenário maravilhosamente adequado para a mexicana.
Aprendi naquele instante, que Chavela pode operar milagres em corações propensos ao amor e ao entendimento mutuo.Os olhos dela brilharam mais, a delicada cumplicidade da relação ficou mais clara, o tato mais sensível, e tudo ficou mais leve.
Momentos como esse devem ser perpetuados em poemas, versos, estrofes, canções, pois são muito raros e muito pessoais. Acontecem poucas vezes na vida de dois. Na vida atribulada de trabalho, filho, responsabilidade, rotina e cansaço.
Toda vez que lembro, sinto vontade de escrever. E agora que tive um deja vu solitário nesse fim de tarde em Maceió, liguei de novo o Itreco e veio de novo, Chavela. E mais uma vez senti falta daquele nosso fim de tarde tão especial.

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...