sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio



"alcantarei meus versos
ainda que tardios
aos povos do universo
legarei os meus desvios
sou mais um tripulante
no imenso do vazio"


Sérgio Natureza

Reclamei dos preços dos discos aqui, mas quando voltei à Cultura, uma outra face da minha bipolaridade atacou: comprei todos.
As canções do rei já tinha sido anunciado e decantado por Leny Andrade num show ano passado no Espaço Johnny Alf. Custou a sair em disco. Vamos resumir assim: ótimo show, bom disco. Prefiro Leny ao vivo. Desde a minha lua de mel em 1985, quando fui a Vila Isabel num velho fusca de pneus carecas assistir a cantora. 
Mundão de ouro, mais um bissexto de Riachão (92), é um primor de sambas de roda, chulas e chochuás. Vale muito mais que 27,90.
Uma gratíssima surpresa esse disco autoral de Verônica Ferriani do título desse texto. Comprei na Cultura, mas pode ser baixado gratuitamente no sítio da cantora (aqui). Tem uma canção derradeira chamada Esvaziou que não para de voltar no Itreco. Já gostava muito da intérprete, agora aprendo a gostar da compositora.
Kléber Albuquerque, 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo, só consegui ouvir por streaming. Parece um belo disco.
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Tudo que eu queria era sumir nesse carnaval. Um pouco de alcool, conversa boa e música o tempo todo. Vai ficar na vontade.
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Mais uma pérola do Jadim, da série Miracema ao entardecer

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Canto latino

Os discos de Mercedes Sosa foram remasterizados decentemente pela Universal e relançados em embalagens simples. Não no Brasil. Aqui só se remasteriza em edições de luxo, caixas, etc. E falta muita coisa. O primeiro do Elomar, por exemplo,  já não ouço há muitos anos, pois a versão disponibilizada é completamente apagada.
Voltando a Mercedes, comprei alguns em Buenos Aires há tempos, mas não tinha encontrado um em especial: o disco ao vivo que ela gravou quando voltou do exílio (en Argentina). Quando escrevi sobre discos ao vivo (aqui), esqueci desse. Ensinou me muito do canto latino. Já tinha comprado uma versão ruim na falecida Modern sound, mas além do som abafado cortaram a belíssima versão do El cosechero, com Mercedes e Antonio Tarrago Rós. A nova versão saiu completa e com som próximo do ótimo. Comprei no Arlequim, mas só agora tive tempo de digitalizar o disco e hoje chorei de novo quando ouvi Maria Va (pode ser ouvido em outra interpretação aqui).Virei um chorão depois de velho. É quando você percebe que há menos a descobrir e mais a recordar.
Estou em São Paulo, você já deve saber. Hoje na viagem - também está virando um costume besta - li os globos e vejas em atraso. Apesar de já ter declinado da assinatura da Veja, eles continuam mandando a revista. Soube da morte de Simon Diaz. Também ensinou me muito do canto latino. Gosto dum bolero lindo chamado Luna de margarita (bem Altemar Dutra!)e a versão de Mônica Salmaso para a Tonada de la luna lena.
Os latinos são espertos em me regatar do chão. Quando penso neles, abre-se um leque de Silvio, Pablo, Chavela, Sabina, e já saio dali acreditando em dias melhores.
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Na minha relação de discos ao vivo, esqueci também do Pescador de Pérolas, do Ney. Imprescindível! Saiu, pra variar, encaixotado.
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Ironia besta, Paco de Lucia morre justo quando surgem essas notas sobre o canto latino. O álbum duplo (2lps) A arte de Paco de Lucia rodou muito na vitrolinha Philips. E nunca ouvi um Aranjuez mais bonito do que o dele. Tive chance de vê-lo recentemente no Municipal, mas ficou na vontade.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Rua do Disco

"Estou tecnicamente morto. Não tenho mais nada a ver com esse Mundo."
Paulo Francis

Achei alguns discos na Livraria da Cultura que gostaria de ter comprado. Só gostaria. O preço está proibitivo: Leny Andrade cantando Roberto em espanhol, 34,90, Péricles Cavalcanti, frevox , 27,90, Riachão, Mundão de ouro, 27,90!?!?!? Não é mesquinharia, mas não está dando pra comprar disco nesse preço. Vou esperar que o Cláudio consiga no mercado negro ou que dê para  baixar em um site qualquer.
Todo mundo que me conhece sabe que eu sou um comprador compulsivo de discos e livros (leia aqui). Nesses últimos tempos estou declinando.
Se as gravadoras e as megalojas não arranjarem logo um jeito de baratear o preço, os discos vão se extinguir muito antes do que imaginamos.
Minhas filhas (18 e 21), por exemplo, parecem nem saber o que é cd. Tudo é arquivo, streaming, youtube, mp3, etc.
A última lojinha de disco do centro do Rio é o Cláudio.Que saudade do tempo em que a Rua Sete era a Rua do disco!
Comecei a gostar ouvindo os long plays de 10 polegadas do meu pai. Maravilhas de Silvio Caldas, Orlando Silva, Francisco Alves, decorava tudo rápido. Quebrei alguns, levei algum castigo, mas valeu.
Hoje até eu mesmo digitalizo meu acervo pra poder carregar. 

Marejei de novo:
1) Vi Jogo de Cena pela primeira vez. Marejei em cada uma.
2) Zizi Possi gravou Fernando Lona e Geraldo Vandré (Porta estandarte).Nem tanto pela gravação, mais pela lembrança.
2) Vi ainda 12 anos de escravidão.Marejei no final.

Comecei esse texto em São Paulo, termino hoje em São Paulo. Vai entender!?!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Longos anos em busca de paz



O choro está vindo.

Até beijo de novela e fundo musical do Kenny G.

No táxi, indo para a empresa, o locutor da Rádio Tupi lê a carta postada pela filha do cinegrafista morto. Choro. Por dois motivos: o pai que sou, o filho que fui. 

Meu pai ensinou me o silêncio e o gesto sobrepondo a necessidade do verbo. Ainda domingo, atravessei a ponte com Luisa. Fomos silentes. O dedo nervoso passava rapidamente as canções que não interessavam para nós. Falamos de muita coisa, sem uma única palavra. 
Foram poucas as pessoas que compartilharam esses silêncios comigo. Essas eu sei que fiquei um pouco nelas e elas em mim.

Enquanto isso, o calor piora a cada dia, o prefeito insiste em mudar o trânsito da cidade,  a Rio Branco espera atenta. O Itreco não para de tocar Andy Bey, The world according to.  Encontrei um barbeirinho muito bom na Rua da Quitanda, voltei ao Nova Capela, mas não consigo mais ir aos sebos com a velha assiduidade. Qualquer hora é muito quente.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Denso negror

Esse calor insuportável, esse ar rarefeito, essa  cegueira que piora cada dia, essa perda de memória, essa desvontade de escrever, esse cansaço doído.
Parei de ouvir esses dias. Só estou ouvindo Elomar e Nana, dois tiros certos. Agora mesmo ela me manda o Último desejo, com Rafael e Hélio, não precisa mais nada.
Soube que Luisa saiu do face. Atualmente o face é a única forma de comunicação diária com meus filhos. Por caridade, volta, Luisa.
Abro o jornal e me dou conta de que morreram de forma violenta, duas pequenas referências - Eduardo Coutinho (81) e Philip Seymour Hoffman (46) - do primeiro, só vou citar As canções, que vi com Luisa. Não teve nada mais tocante no cinema em 2012. De Philip, acompanhei desde as participações em Perfume de mulher e Quase famosos, até Capote ou Antes que o diabo saiba que você está morto. Era um puta ator. 
Também parei de ler, exceto a página de esportes do Globo. Caí por acaso nessas manchetes aí em cima.
E, sim, o Prosa e Verso dedicou um caderno a Manoel de Barros, que - segundo conta -, aos 93 anos, e amargurado com a perda de mais um filho, está apagando aos poucos. Não é justo que quem ensinou tanto, simplesmente se vá. Manoel deveria ser eterno.

Travado

"Diferente o samba fica Sem ter a triste cuíca que gemia como um boi A Zizica está sorrindo Esconderam o Laurindo Mas não se sabe onde ...