terça-feira, 10 de setembro de 2019

Coisas do Mundo




"Ai meu Deus do céu, eu fui feliz
Bebendo com você
No Bar Luiz, e hoje quem diz
Que havia um riso permanente em nossa boca"

Aldir Blanc e Moacyr Luz, Encontros Cariocas 


Dentro da Barca, li a reportagem sobre o adeus do Bar Luiz. A flor da pele ficou exposta e o olho começou a marejar. Gosto quando mareja, o que é raro. Quando meu irmão morreu, chorei muito. Fez me bem. Mas não consegui chorar quando meus pais morreram. Ficou retido. Pois bem, hoje chorei na  barca. Deixei correr, não foi um choro convulso.


Tenho recordações viscerais daquele bar. Foi ali que nasceu o amor. Numa noite de comemoração de fim de ano entre colegas da empresa, o que não estava escrito em nenhum caderno, aconteceu. E veio aquele amor e a vida pareceu reascender. Já estava caminhando há tempos para a categoria casmurro, só conseguia enxergar trabalho, filhos e alguma canção.
O amor, apesar de estar comigo no dia a dia do trabalho, nunca deu sinais. Começou no Bar Luiz, com a turma, e no Arlequim, só nós dois.

E voltamos muitas vezes para beber e celebrar a vida. E tanta coisa foi aprendida entre uma ida e outra, que parecia o aprendizado de uma vida inteira. Era lá que esquecíamos as desavenças, que aliviávamos os olhos, que transformávamos as dúvidas em chopp preto.

Foi ali também que tomei um porre de chopp esperando Mário e Marila para assistir Paulinho da Viola no João Caetano. Foi a primeira vez que assisti Paulinho, Lá pelas tantas, gritei a plenos pulmões, cheio de alcool do Bar Luiz: Coisas do mundo, minha nega. A platéia riu junto com Paulinho, que logo em seguida cantou a obra prima.

Em tempos mais magros do que esses, ir ao Bar Luiz era uma ostentação. E íamos, eu e Ronaldo, comer aquele kassler com salada de batatas e conversar sobre a vida. Hoje nosso point é o Damasco. Mas continuamos conversando sobre a vida. 

Hoje quando vou à Casa do Choro, olho a Rua da Carioca e só vejo escuridão e loja fechada. Mas nunca deixo de olhar para o outro lado da rua e procurar o Bar Luiz.
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João Gilberto cantando Sampa. Chorei de novo. Não há nada mais delicado.




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