sexta-feira, 14 de junho de 2024

Trago aqui o memorando da central

Depois desse hiato de muitos dias, tento retirar a trava e voltar a escrever. Ficar travado, em geral, é como respondo ao luto. Não choro, nem desabo, apenas travo. 

Perder um amigo é um processo agudo, no momento em que você vai ficando cada vez mais velho e os amigos vão ficando cada vez mais escassos. Nada em mim agudiza. Eu travo e pronto.

A perda desse amigo que nos acompanhou a vida toda criou um vazio enorme para os que ficamos. Ele fazia a diferença em nossa reuniões com sua alegria expontânea e sua inseparável cuíca. Na nossa adolescência, nunca faltou um canto de roça para um churrasco, uma pescaria de canecão no açude, muita música e cachaça da boa. Vai fazer muita falta.

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Da morte dele para cá, me agarrei às músicas como salvação.

Já contei aqui a história de quando escrevi um texto a Geraldo Maia agradecendo pela música do disco Samba de São João, um dos grandes discos da década passada. Daí uns dias, chegou um pacotinho com todos os cds do Geraldo enviados de presente pelo mesmo. Foi uma surpresa muito boa.

Pois aconteceu uma coisa parecida com Fernando Pellon. Não sei de onde veio a referência, acredito que tenha sido o Mauro Ferreira. Fato é que comecei a ouvir "Medula e osso" e não parei mais. Tive a mesma sensação e encantamento da primeira vez que ouvi Celso Viáfora. Fernando não toca no rádio, tem poucos ouvintes no streaming e no youtube, mas é gênio. Tem quatro discos e eu já estava bastante atrasado como ouvinte. Fernando usa referências poéticas (respeitem ao menos meus caninos brancos), homenageia Décio Pignatari, e é acompanhado por uma constelação: Jaime Vignolli, Fátima Guedes, Moacyr Luz,  Marcos Sacramento e Mariana Bernardes. Afinal como eu deixei essa obra prima escapar por tanto tempo?

No início fiquei estacionado em Um sujeito de mau aspecto (acho que sou eu) e Canção de vadiar. Elas retornaram inúmeras vezes e quanto mais ouvia, mais gostava. Depois ouvi o disco todo, ouvi os outros discos, e até agora não entendi porque é que eu não escutei isso antes. 

Na sequência, fui correr atrás dos discos. Essa história de streaming, vale só para os mais novos, que não conheceram as maravilhas de um bom long play. Daí iniciei uma procura insana nas lojas do Rio e de São Paulo (até na Passadisco de Recife procurei). Ninguém conhecia. Acabei comprando o arquivo da apple, mas nunca desistindo.do disco.

Até que uma hora pesquisei, achei o site dele, e liguei para sua agente (e esposa). Ela me colocou em contato com Fernando, que ficou feliz pelo meu interesse (e quem não se interessaria ?). 

Os discos chegaram e não pararam de tocar mais. Muito obrigado por sua música, poeta! 

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Aldina Duarte, apesar de ser a antítese de Geraldo Maia e Fernando Pelon no quesito simpatia, continua ousando discos excepcionais, como esse último, Metade-metade, em que grava canções de Capicua. Adorei TentativaDuas mãos.

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Finalmente, ando ouvindo muito o disco novo do Dori, Prosa e papo.  É o presente anual que Dori manda para todos os amantes da boa música.

Três moças e Chato tiveram o mesmo destinos das duas primeiras canções do Medula e osso: não saíram mais do ouvido.

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E hoje o VLT parou de funcionar aqui no centro. Atrasei meia hora, tentei um memorando, mas não há mais memorando hoje em dia. Paciência! 

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