terça-feira, 27 de agosto de 2024

Nada tenho de meu, mas prefiro viver sozinho

 Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,

Serviram-me o amor como dobrada fria.

Disse delicadamente ao missionário da cozinha

Que a preferia quente,

Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.

Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.

        Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,

E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?

Eu não sei, e foi comigo...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,

Particular ou público, ou do vizinho.

Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.

E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,

Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram

Dobrada à moda do Porto fria?

Não é prato que se possa comer frio,

Mas trouxeram-mo frio.

Não me queixei, mas estava frio,

Nunca se pode comer frio, mas veio frio.


Há muito tempo não sinto o frio dessa última noite no Rio. Depois do xixi da madrugada, não consegui dormir mais direito. 

Passei um fim de semana próximo de perfeito em Miracema. Embora expremido entre uma sexta e um domigo, deu o caldo que tinha que dar. Revi amigos, comi bem, dormi o esperado, foi um fim de semana de poucos agravos. Meus olhos cegos olharam bem, minha lombar não deu muito sinal de dor, enfim, gostei. Não espere muito do fim de semana e ele sempre dá algo. É assim que concluo, agora distante dele. 

A semana começou acelerada, cheia de reuniões, de trabalho acumulado, e hoje ainda é terça. Aí os problemas aparecem. Os olhos enxergam mal, os dentes não deixam comer direito, o cócix limita o tempo de ficar sentado. Quando podia trabalhar na plenitude dos meus anos, não tinha nada disso. Agora tudo meio que dói. Eu levanto e sigo em frente.

Nas vésperas dos 63, não quero muita coisa, além de viver o suficiente para cuidar dos meus filhos, dar a eles a atenção que merecem, e um pouco de paz e conforto. Simples assim. 

E ontem na volta para Niterói, coloquei Itamar nos ouvidos, e atravessei a baía muito bem comigo mesmo. Itamar esteve ausente por um bom período. Mas ontem, retornei com força aos discos das orquídeas. E tenho ouvido muito a canção Maria, nome formoso, de Aldir Blanc e Zé Reinaldo Marques, uma descoberta . Mandado pelo próprio Zé Reinaldo, produtor de Feranado Pelon, é Aldir puro.

Ontem de noite vi no Canal Brasil, Dorival Caymmi, um homem de afetos. Para quem ama Caymmi e filhos, vale cada minuto.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Mais um domingo perdido

"O pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau e pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhadaputa
de fazer chover
em nosso piquenique."


Minha filha mandou o ingresso. Fui pego de surpresa, Ando com medo de sair de casa à noite, ainda mais para ir à Barra da Tijuca. Tive esperança que, assistir a um show de Caetano e Bethania, era para afugentar qualquer dos medos. Uma agência de turismo ofereceu um ônibus de luxo para levar e trazer. Comprei. Não adiantou muito.

Passei parte do domingo tentando arranjar uma desculpa para não ir, outra parte muito pequena me convencendo a ir e uma última que não entendia porquê de tanta resistência. Acabei deliberando que iria, nem que fosse um pouco, que fosse para estar com Laura uns poucos minutos.

Essa história não termina com um final feliz, do tipo fiquei tão encantado que fui até o final do show. Nem que o menino que fui renascesse pelo menos por duas horas e vibrasse nele uma nota. 

A Farmasi Arena é um lugar muito ruim. Desconfortável, com uma arquibancada com exíguo espaço entre as cadeiras, tive as mesmas dificuldades que tenho com subir e descer escadas, o medo de me estabacar a qualquer momento, como já aconteceu no Maracanã, no Estádio do River, já podia sentir a hora que iria despéncar.

Assisti ao primeiro set dos dois juntos, pedi desculpas e penerei. Peguei o primeiro uber que pude e voltei pra casa.

Minha filha deve ter ficado desencantada, ou mesmo constrangida. Não me acho mais digno de ter filhos assim. 

Eu virei um sujeito sem graça. Assisto a show e videos no YouTube pra não precisar sair de casa. O menino que pulava entre um "seis e meia " e outro já não existe. 

Há algo que nunca poderia ter dado certo me incomodando. Mas eu me atirei de corpo e alma. 


Não sei dançar

" Uns tomam éter, outros cocaína Eu já tomei tristeza, hoje eu tomo alegria Tenho todos os motivos, menos um de ser triste Mas o cálcul...