domingo, 16 de agosto de 2020

Da inutilidade das coisas

 



Acordo domingo e esse resto de frio miracemense. 

Sei que o café já está pronto pelo burburinho da máquina de lavar. Uma alegria passageira trespassa meu olho seco: terei alguém para conversar hoje sobre qualquer bobagem. - Estão morrendo nossos conhecidos. Reluto em dizer "qualquer hora vamos nós".

Tomo o café e meus seis comprimidos matinais. Devagar eles foram se ocupando do meu estômago, do meu fígado, dos meus rins e tentam me manter de pé e avante, como diria minha psiquiatra.

Ligo o telefone. Ainda tenho esperanças. Não sei do que, mas ainda as tenho. Nada, além dos bons dias habituais. Não há qualquer esperança.

Pego o violão e começo a tocar a Rosinha dos limões/O marujo português, dois fados gêmeos. Ajusto uma posição aqui, tento facilitar. Acho que nunca vou conseguir tocar um fado como tocam os portugueses. Meu fado soa canção sertaneja. Desanimo.

Preciso passar o meu caderno de cifras. pois a memória anda traindo. 

Para que tudo isso? Um violão maltratado, um domingo vazio, uma perspectiva de nadas? Onde estarei agora, senão num emaranhado de desesperanças, dores antigas, isolado aqui entre mil filmes, discos e livros inumanos?

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