sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Diário de bordo

"Se você pretende saber quem eu sou, eu posso lhe dizer"

Voltei às minhas viagens solitárias e à música alta e ao ar gelado. Voltei ao silêncio (naturalmente aviltado por música) e à solidão da Serra do Capim. Muitos dias num único dia. Anotei mentalmente, mas já devo ter esquecido de algumas, as delícias que o aleatório me mandou nesse último trecho.

1) Que Ella Fitzgerald fez a versão definitiva de I love Paris. Pode morrer aqui, sem mais comentários. A frase se esgota. Não há dúvidas. já foi ouvida mil vezes. Mas cada vez que se ouve, se amadurece um pouco. Amei (e ainda amo) Paris muito mais por conta da canção de Cole Porter do que propriamente de ter ido a Paris. Aliás, nem seria preciso ter ido. Bastava a canção do jeito que Ella gravou.

2) Que Silvério Pessoa é o legítimo herdeiro de Alceu Valença, Escrito assim parece coisa de crítico fazendo resenha. Mas o alumbramento bateu na estrada quando Silvério cantava Balançaram a roseira, da canção de afeto 35. Silvério é o camaleão das folhagens, que Alceu sempre foi, e até com algum requinte a mais.

3) Que Luisa Lima está cantando maravilhosamente a ciranda de Rafael Altério. Foi uma das músicas que voltei oito vezes. Há uma conexão aguda entre mim e minha filha. Pois a ciranda só fez fortalecer essa conexão, e ao mesmo tempo entender que Luisa criou luz própria, de um brilho forte e sereno.

4) Que ainda há muita coisa obscurecida no repertório de Noel Rosa que merecia ir para as FMs (que sonho!) Ouvi várias vezes esse A dama do cabaré. Aprendi mais uma vez que "quem é da boemia, usa e abusa da diplomacia, mas não gosta de ninguém",

5) No último trecho, depois de Estrela Dalva, tirei do aleatório e vim ouvindo Drummond. Principalmente os Versos à boca da noite (4 vezes), a Morte do leiteiro (2 vezes) , a Morte no avião (2 vezes) e o Desaparecimento de Luisa Porto (3 vezes).

Cheguei feliz, sem dores, à minha cidade. Meu lugar é aqui. Sempre foi.


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