terça-feira, 11 de agosto de 2020

A bipolaridade na pandemia

 Cem mil e a gente já começa a se preocupar se estará nos próximos cem, previstos para outubro.

Cem mil e a gente já vai se acostumando com a lista de amigos e referências que vão nos deixando sem qualquer rastro e é triste saber que não poderemos mais vê-los ou ouvi-los, 

Cem mil e continuamos sem ver e abraçar os que resistem. Até conversar está proibido, que não seja por vídeo, telefone ou escrita, que já esgotaram toda forma de afeto. 

Cem mim e nenhum filho no dia dos pais, o que não é incomum e nem tão importante (nunca dei muito valor à dias especiais), mas dessa vez doeu de uma forma mais aguda.

Cem mil e continuamos desgovernados e cada vez mais expostos, menos seguros, dependentes de vacina ou imunidade de rebanho, que sabe-se lá quando virão.

Cem mil e a ciência nunca foi tão aviltada pelo curandeirismo populista, que também mata e ajudou a consolidar esses cem mil.

Cem mim e já se vão quase cinco meses de isolamento, algumas noites de desespero, vazio dor, desesperança.

Um minuto de silêncio pelos familiares que perderam cem mim  e outro por nós todos que resistimos com nossas próprias convicções, que vão ficando cada vez mais frágeis.

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A ausência da Diô nos dias ímpares me permite anarquizar meus horários. Hoje almoçarei queijo coalho com banana. Lá pelas 5, quando terminar a última reunião do dia, almoço. Tilápia cozida com molho de camarão lixo e arroz com brócolis deixado pela Diô ontem. Na medida para minha dieta.

Faço meu queijo coalho com banana num forninho elétrico que ganhei num sorteio num evento. Certamente a única coisa que ganhei em algum sorteio. Ficou anos encostado na Tijuca e alguns encostado em Niterói. Sem uso. Hoje tem despertado minhas habilidades culinárias. Muito útil!

Sou infernizado pelo desafio de abandonar os doces. desde ontem, só como fruta, Acho que dura uns três ou quatro dias, até que a Dona Iolanda me mande aquela cocada ou aquela palha. Jesus!!

Estudo violão às 11 da manhã e respondo e-mail de trabalho às 9 da noite. Nesses dias ímpares, as coisas costumam ser assim.

Estou perdendo novamente o controle da minha insônia. Durmo normalmente mal, assustado com fantasmas no início da noite e sonhando muito depois do xixi da madrugada. 

Tento não usar o traço acostumado, como ensinava Rômulo Quiroga, um pintor boliviano. Estou quase atingindo a condição de ermitão sem caverna.


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