"Meu pai chorou
Escondido no fundo do quartinho
Um cavaleiro embaixo do moinho
Me deu um puta dum pavor.
Chão afundou
O mundo imenso e eu pequenininho
Mais assustado do que um passarinho
Depois que o galho se quebrou
O ninho foi e ele ficou.
Meu pai chorou
E eu rasguei a imagem do santinho
Porque Deus me pareceu mesquinho
Em ter cometido o desalinho
De criar a dor e pôr espinho
Até mesmo no sentir carinho
É cruel sofrer de amor.
Meu pai chorou
E dessa vez não tinha sido o vinho
Ninguém tocava um samba do Paulinho
Não tinha um filme arrasador
Sol apagou
Seu olho azul ficou azul-marinho
Seu corpo imenso algo tiquititinho
Que olhou pra mim e disfarçou
Mas, de pouquinho, se entregou
Meu pai chorou
Tudo em mim fez um redemoinho
Ele, ali, no chão sujando o linho
Foi a vez que fiquei mais sozinho
Sem Pelé deixei de ser Coutinho
Sem seus pés entrei por um caminho
Nunca mais parei de andar
Lembro do meu pai me pegando a mão
Lembro do meu pai dando a decisão
Lembro do meu pai sempre ser meu pai
Sempre ter seu brilho
Eu virei seu filho
Quando vi meu pai chorar"
Celso Viáfora
A bordo do MSC View e todos os seus benefícios, suas cafonices e suas limitações, viajo novamente com meus filhos.
E novamente demoramos para embarcar nas filas imensas, com minha paciência por um fio. Esgoto-me rápido, acho que meus estabilizadores de humor estão datados. Os meninos tentam entender. Lucas me abraça, Chicote contemporiza, eles ajudam a carregar o peso da minha bipolaridade.
Ao entrarmos, percebemos que limaram a parada em Ilha Bela, a troco de uma pequena compensação em dólar, que será consumida em chocolates e um wi-fi por um dia, de presente para eles. Nada de wi fi para mim. Viajei para ficar disperso mesmo.
Minha íris fotografada no navio mostra com clareza, os lagos, as cicatrizes e as esquinas que dão a volta no meu olho esquerdo. Será que eles percebem? Será que imaginam o quanto caminhei para chegar até aqui?
A programação é a mesma do ano passado: jantamos às 18:30, vamos ao show das 19:30 e depois nos recolhemos. De dia quando há Sol, vamos às piscinas confratenizar com as famílias imensas que viajam conosco.
Em Montevideu, lembramos da experiência anterior e não vamos mais à excursão fajuta que o navio oferece. Vamos ao Estádio Centenário e ao Mercado do Porto. Ótimas visitas para uma manhã. O estádio, posso estar blasfemando, mas achei mais bonito que o Maracanã. É mais tradicional e mais antigo. Na sala de troféus, sentimos falta de uma homenagem (não tinha uma foto sequer) a Pelé.
O Mercado do Porto de Montevidéu é ótimo. Tem souvenir de tudo quanto é tipo, come-se muito bem e pode se tomar um medio a medio, bebida típica do lugar, bem recomendada por um amigo.
Já conhecemos intimamente Buenos Aires, de modo que mais uma vez fizemos nosso próprio roteiro. Não sei se por influência da extrema direita que governa o país, os argentinos estão ficando cada vez mais grossos no trato com os brasileiros. Logo nós que deixamos nossos dólares lá e deveríamos ser muito bem tratados.
Escolhemos duas paradas: o Monumental de Nuñes e o La Cabrera. Não vou ficar detalhando meu mau humor na imensa fila do Estádio do River, que privilegia argentinos e cujo leão de chácaras é um sujeito extremamente grosseiro. Dessa vez até Lucas se destemperou. O Estádio é muito bonito e tivemos o direito (pago, obviamente) de ver o gramado.
O La Cabrera (que também quase desisti por causa da fila) continua o mesmo. Tivemos a sorte de sermos servidos pelo mesmo garçon das últimas vezes. Ótima carne e melhor ainda panqueca de doce de leite.
Desembarcamos no Rio sem grandes atropelos, e dessa vez, não reservei para o ano que vem. Mas é possível.