sexta-feira, 29 de abril de 2016

Não diga que eu não levo a guia


"O anel que tu me deste
Eu guardei pra me ajudar
Construir numa viola 
De madeira, o teu altar
O amor que tu me tinhas
Eu roubei pra me salvar
Toda a hora em que 
A danada da saudade me pegar."

Geraldo Vandré

Luisa me falta tanto. Me liga pra dizer que também sente minha falta, quer saber se tenho os discos do Manduka, me manda essa gravura aí de cima. Só vai apertando mais e mais a danada da saudade. que já não é pouca, Hoje bateu uma dor de não ter Luisa cá comigo, de não poder abraçar nem ouvir seu riso fácil..
Vontade de ter talento para que a escrita soprasse no seu coração, que acalentasse seu sono, que a protegesse..
Filhos vão , pais se perdem divididos: felizes de estarem bem, vazios pela falta que fazem.
Errei demais nessa vida. Olho para trás e repasso meus erros inúmeros, Devo ter aproveitado menos do que deveria da convivência com meus filhos. Agora é tarde pra ficar se lamentando.
Mas é bom lembrar de tudo que fizemos juntos. Das viagens, das conversas, das canções, das brigas, das muitas casas que moramos, da vontade de ter tudo isso de novo.
Fico contando os dias para que Luisa venha do mais longínquo Ouro Preto para o abraço mais forte de pai e filha.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Alaide

Entro no Arlequim numa dessas poucas oportunidades em que passo próximo à Praça XV. O Arlequim é longe e perto de onde trabalho, vai entender! Mas é fácil entender o quanto me é caro. É ainda uma loja de discos do século passado, que se preocupa com trazer para nós um acervo que não se encontra em nenhum outro lugar no Rio. É meio assim como a Passa Discos em Recife, a Tango em Buenos Aires, foi a Mauro Discos em São Paulo e, ainda que mega, a Cultura aqui do Conjunto Nacional.
Entro no Arlequim e logo me chama atenção esse "Porcelana", de Gonzaga Leal e Alaide Costa. Imagino logo que vai ser alguma coisa de sublime juntar o ótimo gosto de Gonzaga (um excepcional pescador de pérolas) com a delicadeza do canto de Alaíde, mas quando chego e ouço, é muito mais que isso.
Conheci mesmo Alaíde, do disco "Amiga de verdade". Depois corri atrás dos mais antigos, mas o que bateu primeiro foi esse. Dou uma googlada  e descubro que o disco é de 1988. Deve ser por aí mesmo. Foi nele que ouvi a primeira e definitiva versão de Estrada do sertão, só pra falar de uma das interpretações antológicas. 
Assisti a apresentação do disco no Teatro da UFF e depois vi shows de Alaide com João Carlos Assis Brasil. A delicadeza de sua voz pode ser comparada à tranquilidade de uma noite clara e bem dormida, alguma coisa que salva. Já fui salvo por Alaide algumas vezes.
Mas Porcelana transcende a tudo isso. 
Do mais longínquo Portugal, veio o Menino D'oiro, de Zeca Afonso. Uma canção de embalar que tinha passado desapercebida do disco "Com as tamanqninhas do Zeca"do Copple Cofee (por mim, não por Gonzaga, acredito). É de chorar de tão bonito.
Também de Portugal, um Meu amor abre a janela, já gravado por Jussara Silveira. Alaíde dá outro tom para a canção, que agrega sentimentalidade.
Canções esquecidas de discos de Capiba, Alceu, Moreno e Socorro Lira completam o repertório irrepreensível.
Fui salvo outra vez. E cada vez que ouço, penso que estou salvo.

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...