quarta-feira, 3 de maio de 2023

Lombada na viá

 

“Dou o tiro de partida, terça-feira
Compro os tênis de corrida, quarta-feira
Vai-me saber pela vida, quinta-feira

É pena, sexta não dá
Sábado à noite há cachupa
E domingo, pois, lá está
A família toda junta
Feijoada, Deus me acuda
Vou correr, vou, na segunda”

 

A frenética senhora que comanda o aplicativo de radares não parava de gritar: lombada na viá!! Era assim toda vez que aparecia um quebra-molas na longa estrada que liga Miracema ao Rio de Janeiro.

Minha vida anda meio como que atravessada por aqueles gritos: a toda hora aparece uma pedra, uma lombada, uma interrupção, um cansaço de tudo.

Da festa de Miracema, não ousei mais do que a Barraca da Apae pra comprar palha italiana e a do Bode pra comer carne. Pouco fiquei com minhas filhas, não fui ao show do Diogo Nogueira, conversei pouco com meus amigos, dei pouca atenção à família. E, pior de tudo, dormi muito mal.

No fundo, eu acho que ninguém me aguenta mais. E ontem, para desespero da minha inutilidade, apesar de estar com o ingresso garantido, não fui assistir à goleada histórica do Fluminense sobre o River Plate. Que lástima! Meu filho fez a festa por mim.

Eu fiquei de casa, nervoso no primeiro tempo, feliz no segundo, mas longe do calor da torcida. Ultimamente, quando chegam as 17h, eu já me sinto pesado, sem vontade de fazer nada. Ninguém entende muito esse desânimo crônico, as pessoas querem o movimento, a vida precisa ser vivida. Mas estou quase dispneico e dou mais valor a uma noite de sono do que qualquer outra coisa.

Tive que interromper as aulas de violão por causa de trabalho e obviamente, do esgotamento. Até uns três meses atrás, era rotina chegar em casa e tocar um pouco. Hoje mal pego no violão. Sinto falta dele.

Os olhos vazados, a perna ferida, os dentes escassos, uma vazio de doer muito. Velhice, trabalho intenso, a cascata degenerativa dos anos pesando no coração e na existência, cada vez mais inútil.


Travado

"Diferente o samba fica Sem ter a triste cuíca que gemia como um boi A Zizica está sorrindo Esconderam o Laurindo Mas não se sabe onde ...