segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Os melhores discos que ouvi em 2007 (4)


Marina de La Riva

Posso até estar blasfemando, mas a ponte musical Brasil-Cuba, achei mais bem acabada por Marina de La Riva do que por Bethânia e Omara. Gosto demais das duas últimas. Fiz questão de ver Omara quando veio ao Rio. Mas química por química entre os dois discos, preferi o de Marina.

A brasileira, neta de cubanos, soube traduzir a musicalidade dos dois países com uma tal intensidade e sutileza que não dá pra ficar alheio. O disco é muito bom. Bem arranjado, bem escolhido de repertório, capa, informações, tudo muito bem cuidado. E Marina trouxe jovialidade às velhas canções cubanas e brasileiras. Cabe em qualquer discoteca básica.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Dez coisas interessantes que fiz na terceira semana de fevereiro

1 - Terminei de ler Tarás Bulba, Gogol, na nova tradução do russo de Nivaldo dos Santos, há muito tempo que não lia um troço tão consistente e bonito.
2 - Comecei a ler Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, Marçal Aquino, achei chato no início mas agora estou gostando.
3 - Comecei a ver a mini-série Queridos Amigos. Gostei do primeiro capítulo, o segundo, achei meio chato.
4 - Ganhei meu tempo vendo Onde os fracos não tem vez, mais um Cohen perfeito, Javier igualmente.
5 - Perdi meu tempo vendo O vidente, Nicolas Cage cada vez mais canastrão. Horrível.
6 - Aprendi um pouco mais sobre a confusa razão de verossimilhança.
7 - Adiei mais uma vez o retorno ao Curso de Inglês.
8 - Fui e voltei de São Paulo, sempre há o que aprender em São Paulo. Um dia eu vou e fico.
9 - Adorei ouvir Jukebox, Cat Power.
10 - Comprei alguns discos, entre eles o da Omara e da Bethânia, mas ainda não ouvi.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Os melhores discos que ouvi em 2007 (3)

3 - Rodrigo Rodrigues (Fake Standarts)



Que dizer de um disco póstumo, que começou a ser produzido em 2001, foi interrompido pela morte estúpida do intérprete em 2005, saiu em 2007 e continua fresquinho?

E que dizer de Rodrigo, um perfeccionista, que encarou a missão de visitar os clássicos do cancioneiro americano e fugir dessas revisões caricatas à exaustão que vêm sendo experimentadas pelos rods stewarts daqui e dali?

Ouça o disco. Voz limpa, dicção bem feita, arranjos minimalistas de Rodrigo, Mário Manga e Fábio Tagliaferri, seus companheiros no Música Ligeira, fazem deste, um cd ímpar.

Sérgio Martins, ao analisar o disco, confidencia que, às vezes, gostar de certos artistas é como pertencer a uma seita secreta. É verdade. Rodrigo Rodrigues pertence à esse grupo de artistas.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ode no cinquentenário do amigo brasileiro


Jadim fez cinqüenta anos semana passada. Esse título aí de cima, imitando a ode que Drummond fez a Bandeira em seu cinquentenário (Ode ao cinquentenário do poeta brasileiro), vem carregado de uma afetuosidade que vem de lá bem de dentro do mais íntimo sossegar da alma.
Somos amigos desde que Ando Jururu e Ando Meio Desligado faziam sucesso nas rodas de violão miracemense. Trocamos juntos o som colorido e lisérgico dos Mutantes pelo cavaquinho de Paulinho da Viola sem nunca termos deixado de gostar dos primeiros. Nossas vidas cresceram paralelamente à enormidade de canções que ouvimos e compatilhamos.
O ápice de nosso entendimento musical foi quando montamos uma loja de cds, a Eclipse Discos. A loja foi um sucesso de musicalidade e um fracasso comercial retumbante. Literalmente, bebemos a loja. Convertíamos todo o caixa em scotch da melhor qualidade e cerveja. Não havia provisão para eventos ocorridos e não avisados e acabamos criando uma cauda tão grande que tivemos que fechar a loja.
O fracasso não criou arestas, ao contrário, estreitou mais ainda nossas vidas, e quando estive no pior inferno astral da minha vida, era ele quem estava lá. Comprando panela na loja de R$1,99 comigo.
Nos primeiros tempos, íamos à roça e passávamos noites intermináveis conversando, enchendo a cara de Rosa de Prata, ouvindo e tocando música. O prato da noite era invariavelmente o macarrão com coloral feito pelo Geraldo Paturi e às vezes um franguinho roubado pelo cachorro do Geraldo, especialmente treinado para esse fim. Quantos vinis não furaram de tanto tocar na vitrolinha?
E muito da mineirada que fazia sucesso naquela época (Milton, Beto, Lô, Venturini) visitava nossa noites. Noites sem Luar como a música.
Jadim foi sempre afetuoso e leal aos amigos, como se já não lhe bastasse o nome. Uma vez expulsou um sujeito na roça a tapa, por conta de uma discriminação feita ao nosso caseiro.
Quando o samba começou a subir mais alto, montou os Garotos do Sereno e pude acompanhar de perto a história do Grupo e a paixão do Jadim pelo cavaco.
Uma noite me surpreendeu com uma versão solo e contundente de Você não parece mais você, uma das letras mais sinceras e tocantes do Aldir Blanc, que saí de lado pra não chorar.
Há muito que falar da nossa amizade e das nossas histórias e muito ainda há de se contar, esse é só um primeiro resumo.
Ainda ontem de noite, encontrei-o sentado à porta de sua casa, conversando com Teresa, com aquela velha simplicidade de sempre. O coração feliz dos homens de alma pura é feito das coisas simples do viver: uma brisa fresquinha, uma leve cumplicidade e uma noite inteira para conversar.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Os melhores discos que ouvi em 2007(2)

2 - Ana Moura - Para Além da Saudade.


Já gostava da fadista há tempos. Encontrei-a por acaso numa resenha entusiasmada do Paulo Roberto Pires no falecido No mínimo. Arranjos simples, voz firme e emocionada.
Depois de ouvir os discos Aconteceu e Guarda-me a vida nas mãos, ambos baixados, porque no Brasil pouco se fala da moça, fiquei curioso para conhecer o novo: Para além da saudade. Fui salvo por um bom amigo que foi a Portugal e o trouxe para mim.
É essencialmente um disco de fados. Belíssimos e não necessariamente antigos. Um poema de Pessoa musicado como se tivesse nascido para a música dá título ao disco. O fado da procura de Amélia Muge é um achado. Os arranjos econômicos de guitarra, banjo e baixo e raras participações como o sax de Tim Ries (que toca com o Roling Stone) pontuam o cd, que vem acompanhado de uma gravação intimista em dvd.

É bom saber que ainda há novas e boas fadistas a ouvir, principalmente porque conheço muito poucos que gostam de fado como eu. Mariza, Cristina Santos, Kátia Guerreiro e essa muito especial Ana Moura.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Tô te devendo essa.

S.,
As coisas andam atropeladas por aqui. Até quando estou de férias, pareço ocupado. Daí não ter respondido ainda suas mensagens. Peço desculpas.
Arrumei esse blog para eventuais desabafos cotidianos, mas estou meio desencantado dele. Ao relê-lo, faço um inventário mais das minhas preocupações do que das minhas alegrias. Quando dá vontade de escrever, não me vem nenhuma piada à cabeça. Quase sempre, desventuras.
Já deletei alguns textos que me desagradaram, inclusive um poema cheio de clichês, lugares comuns condizentes com qualquer poeta menor.
Queria te ver. Faz quantos anos, afinal? Se não contar aquela rápida visita tua ao Rio há uns seis anos, já se vão aí uns 20 e poucos.Sei que não é possível retomarmos mais aqueles arroubos de meninos, mas dali vêm alguns dos mais puros conceitos de amor que aprendi. Só sinto que tenhamos sido tão meninos quando poderíamos ter explorado mais nossas ambições interiores, avançado mais os sinais perigosos, apertado menos os cintos. Mas tudo vale, tudo valeu. Só tenho boas recordações da nossa época.
Hoje em dia o que me dá mais alegria é ver as crianças crescendo, ouvir alguns fados, ler alguns poemas. Cada dia tenho menos ambições materiais. Sinto-me bem assim.
Quando quiser vir ao Rio, você sabe que terá sempre um amigo aqui. E, embora não exista mais o Cinema 1 da Prado Jr nem aquela calmaria que habitava o Parque Lage, ainda há coisas boas a se fazer nessa cidade.
Até.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Philip Roth, Homem comum

" A maioria das pessoas, ele pensava, o consideraria um sujeito quadrado. Quando jovem, ele próprio se considerava quadrado, tão convencional e desprovido de espírito de aventura que, concluído o curso de belas artes, em vez de tentar estabelecer-se por conta própria como pintor e viver de bicos - o que era sua ambição secreta -, resolveu, para ser um bom filho, atendendo mais à vontade dos pais do que a seus próprios desejos, casar-se, teve filhos e começou a trabalhar em publicidade para ter segurança financeira. Nunca se considerou nada mais do que um ser humano comum, e teria dado qualquer coisa para que seu casamento durasse a vida inteira. Ao se casar, não era outra a sua expectativa. Porém, o casamento se tornou uma prisão para ele, e assim, depois de muitos pensamentos tortuosos que o ocupavam enquanto trabalhava e nas horas em que deveria estar dormindo, começou, aos poucos e com muito sofrimento, a se preparar para pular fora."

Os melhores discos que ouvi em 2007 (1)

1 - Malena Muyala - Viajera.

Pra quem achava que a essência do tango era só argentina, essa uruguaia esbanja da essência. É uma cantora forte, de voz marcante, porém de uma suavidade enternecedora.
Viajera, o disco, me ganhou de cara porque tem Discépolo, um compositor extremado real visceralista (ainda estou sob a influência de Bolaño). Suas composições são verdadeiras aulas de abismos, crateras, perdições. E Malevaje, um tango de 1930, disputa com Confesion e Cambalache (todas as três de Discépolo)o meu primeiro lugar nas paradas tangueiras.
Com tantas cantoras novas para apreciar aqui no Brasil, as que mais me tocaram foram estrangeiras, principalmente latinas. E Malena diz logo que a veio, não economiza talento ou empatia. Arranjos simples, encorpados por um acordeon bem costurado por Hugo Fatoruso, o disco só foi possível porque fui à Buenos Aires. Nunca o vi no Brasil, nem mesmo a cantora. E o Uruguai é logo ali.
O disco só peca um pouco pelas composições próprias, um tanto ingênuas, mas até aí consegue ser razoável.
Repetido diversas vezes em 2007 no meu ipod e nas minhas coletâneas indefectíveis, esse vai ficar pra minha história da música.

Carnaval em Guarapari

A Enseada Azul fica entre Meaípe e Guarapari. Há 15 anos passo o carnaval lá com as meninas. Passaram pela Enseada Azul, meus três casamentos, minha crença no divino, alguns cabelos e meus últimos sambas no pé.
Vive-se de uma preguiça retumbante na Enseada Azul. Telefone tem sinal ruim, internet não pega, não há canais fechados de televisão. Há 15 anos não tinha prédio. Hoje quase só tem a nossa casa, o resto é prédio (até o fechamento dessa edição, o dono jurava que ia derrubar a casa ano que vem).
São duas casas de oito suites relativamente confortáveis em frente à Praia, onde se instalam invariavelmente, sete familias barulhentas. Com o passar do tempo, foi aumentando o número de crianças e a algazarra ficou maior ainda. Agora são elas que mandam no carnaval.

O gosto musical é pouquíssimo apurado e acabo sendo obrigado a ouvir as novas duplas sertanejas da última parada, mas sempre acho que as canções são as mesmas do ano passado. E um bate estaca chamado créu ninguém merece essa coisa.

De noitinha, a hora sagrada é a do Big Brother, todos em volta da televisão na sala como se fossem assistir a missa. Era uma hora relativamente tranquila pra mim, principalmente quando tinha parceiro para as cartas.

Também levei comigo Roberto Bolano e seus detetives selvagens, indispensável para qualquer biblioteca que se preze.

Come-se e bebe-se muito na Enseada Azul, comida pesada e farta, não há limites para gorduras em geral.

Nesse ano, a chuva veio só de noite, deixando os dias livres para a praia e os picolés girassol e as empadas Colatina..

A Enseada Azul tem sido um exercício de amizade e consistência ao longo dos anos, onde ninguém fala muito do cotidiano, pouco se conhece da rotina de cada um, mas há uma comprensão mútua, uma sensação de bem estar por estar ali entre amigos, pouco importando se o Mundo está se rachando, se a Beija Flor ganhou de novo ou mesmo se hoje é carnaval.
Ano que vem eu volto.

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...