domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ode no cinquentenário do amigo brasileiro


Jadim fez cinqüenta anos semana passada. Esse título aí de cima, imitando a ode que Drummond fez a Bandeira em seu cinquentenário (Ode ao cinquentenário do poeta brasileiro), vem carregado de uma afetuosidade que vem de lá bem de dentro do mais íntimo sossegar da alma.
Somos amigos desde que Ando Jururu e Ando Meio Desligado faziam sucesso nas rodas de violão miracemense. Trocamos juntos o som colorido e lisérgico dos Mutantes pelo cavaquinho de Paulinho da Viola sem nunca termos deixado de gostar dos primeiros. Nossas vidas cresceram paralelamente à enormidade de canções que ouvimos e compatilhamos.
O ápice de nosso entendimento musical foi quando montamos uma loja de cds, a Eclipse Discos. A loja foi um sucesso de musicalidade e um fracasso comercial retumbante. Literalmente, bebemos a loja. Convertíamos todo o caixa em scotch da melhor qualidade e cerveja. Não havia provisão para eventos ocorridos e não avisados e acabamos criando uma cauda tão grande que tivemos que fechar a loja.
O fracasso não criou arestas, ao contrário, estreitou mais ainda nossas vidas, e quando estive no pior inferno astral da minha vida, era ele quem estava lá. Comprando panela na loja de R$1,99 comigo.
Nos primeiros tempos, íamos à roça e passávamos noites intermináveis conversando, enchendo a cara de Rosa de Prata, ouvindo e tocando música. O prato da noite era invariavelmente o macarrão com coloral feito pelo Geraldo Paturi e às vezes um franguinho roubado pelo cachorro do Geraldo, especialmente treinado para esse fim. Quantos vinis não furaram de tanto tocar na vitrolinha?
E muito da mineirada que fazia sucesso naquela época (Milton, Beto, Lô, Venturini) visitava nossa noites. Noites sem Luar como a música.
Jadim foi sempre afetuoso e leal aos amigos, como se já não lhe bastasse o nome. Uma vez expulsou um sujeito na roça a tapa, por conta de uma discriminação feita ao nosso caseiro.
Quando o samba começou a subir mais alto, montou os Garotos do Sereno e pude acompanhar de perto a história do Grupo e a paixão do Jadim pelo cavaco.
Uma noite me surpreendeu com uma versão solo e contundente de Você não parece mais você, uma das letras mais sinceras e tocantes do Aldir Blanc, que saí de lado pra não chorar.
Há muito que falar da nossa amizade e das nossas histórias e muito ainda há de se contar, esse é só um primeiro resumo.
Ainda ontem de noite, encontrei-o sentado à porta de sua casa, conversando com Teresa, com aquela velha simplicidade de sempre. O coração feliz dos homens de alma pura é feito das coisas simples do viver: uma brisa fresquinha, uma leve cumplicidade e uma noite inteira para conversar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fiquei curiosa para ver a letra da música do Aldir Blanc que vc menciona "Você não parece mais você". Procurei na internet a não achei... Você poderia mandar para mim? (fabíolaconceicao@hotmail.com). Obrigada!

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