segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Jorge y Ramon

"Tu padre era rubio, borracho y malevo,
tu madre era negra con labios malvón.
Mulata naciste con ojos de cielo
y mota en el pelo de negro carbón.
Creciste entre el lodo de un barrio muy pobre,
cumpliste veinte años en un cabaret.
Y ahora te llaman moneda de cobre
porque vieja y triste muy poco valés.

Moneda de cobre,
yo sé que ayer fuiste hermosa;
yo con tus alas de rosa
te vi volar mariposa
y después te vi caer...
Moneda de fango,
¡Qué bien bailabas el tango!...
Qué linda estabas entonces,
como una reina de bronce,
allá en el "Folies Berger".

Horacio Sanguinetti.

No movimento ralo dominical da Calle Florida, Jorge + nada toca seu bandoneon triste para quem passar. Parei. Meu coração idem. Pedi que tocasse Moneda de cobre e Jorge emendou de pronto. Lindamente! Depois ficou a me dar explicações sobre a origem do Cabaré "Folies Berger"e eu queria ter ficado ali ouvindo o bandoneon de Jorge o resto da vida.
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No Hotel Diplomat da Calle San Martin, há um senhor que parece um velho tangueiro e trabalha como serviçal. Seu nome, Ramon. Ramon foi um dos poucos resquícios que sobraram da gentileza portenha. Tratou muito bem de todos nós.
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30/01 - Cabofrio 2x4 Fluminense - não vi nem os gols, mas vai indo muito bem!

domingo, 30 de janeiro de 2011

Discos de janeiro

DISCO DO MÊS: Georgette Fadel, Um grito solto no ar - um belo disco garimpado acidentalmente na Livraria Cultura numa ida a São Paulo no final de dezembro. Lamento que tenha sido assim, esse disco deveria estar tocando nas rádios, sendo alardeado nos jornais e nos meios de comunicação, pois se trata de uma obra de rara importância e delicadeza. Já conhecia a cantora quando ela encarou Stela do Patrocínio com Lincoln Antônio em outro extraordinário momento. Nesse, Georgette está bem a vontade repassando a obra de Gianfrancesco Guarnieri. Quanto mais se ouve, mais se dá conta da importância. É daqueles que a gente chama de obrigatório.

Mariza, Fado Tradicional - lançado ano passado em Portugal, Mariza acerta ao se aproximar de suas raízes. É possível se sentir dentro de uma Tasca em Lisboa tomando um vinho ordinário quando ela canta Boa noite, solidão.
Dirceu Leite, Cacique instrumental - fico me perguntando como que um discaço desse, gravado em 2006 e lançado (possivelmente) em 2010, só agora chega aos meus ouvidos. Com Luiz Carlos da Vila e Ovídio Brito já mortos, a participação deles só faz realçar a importância do disco em que o exímio clarinetista repassa a obra dos pagodeiros do Cacique. Categoria Brasil na veia.
Paulo César Pinheiro, Capoeira de Besouro - finalmente chegam ao disco, as canções do musical Besouro Cordão de Ouro, que vi no CCBB há dois anos ou mais. Um registro merecido de um espetáculo memorável.
The National, High Violet - cultuado por várias listas no ano passado, a voz melancólica de Matt Berninger ainda não conseguiu me emocionar. Mas, prometo, continuarei tentando.
Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti - não é um disco de fado e a voz de Carlos soa bonita quando entoa Jacques Brel ou Violeta Parra.
Bárbara Eugênia, Journal de Bad - mais uma boa voz a se juntar a esse grupo que mistura São Paulo com Pernambuco, Karina Buhr com Pepita Ruiz, Rodrigo Campos com Rômulo Fróes, música fressca para cabeça idem. Gostei muito do frevinho que encerra o cd.
Dominguinhos, Iluminado Dominguinhos - gravado ao vivo no Rio, mostra Dominguinhos muito à vontade com convidados especialíssimos, como Gilson Peranzetta, Wagner Tiso e Yamandu Costa. Imperdível!
Ben Folds and Nick Hornby, Lonely Avenue - Nick finalmente se aventura a compor, e é muito bem vindo. Quem viu ou leu Alta fidelidade, sabe que o cara tem bom gosto. Destaque para a balada Melinda. Foi o disco de rock que mais me agradou esse mês.
Wampire Wekend, Contra - indicado por Tárik de Souza no obscuro JB online e insensado por Arthur Dapieve como o disco de rock de 2010, botei na vitrola pra tocar e estou aprendendo a gostar ads canções.
Till Broner, At the end off the day - o trompetista alemão tem um estilo que lembra Stan Getz , já tendo inclusive gravado um disco de canções brasileiras. Gostei desse novo, cheio de standarts romantiquinhos e bem tocados.

sábado, 29 de janeiro de 2011

FLIP 2011 - walter hugo mae


"É meu interesse aludir a uma idade média, sobretudo mental. Os paralelismos podem ser todos: a ilusao contida, o sonho perante quase o conto de fadas, o aliciante e inebriante do amor, a superstiçao, o preconceito. Infelizmente, continuamos a ser muito medievais, e a tecnologia toda nao impediu e nao impedirá nunca que sejamos animais e que determinados instintos violentos venham ao de cima. Essa narrativa é uma ostentaçao consciente do horror de sermos ainda humanos de baixa categoria. Necessitamos urgentemente nos redimir do fato de provirmos doa animais, do fato de sermos, afinal animais."
valter hugo mae, trecho de entrevista.

¨o meu pai entrava em casa muito tarde, quando estávamos recolhidos à luz da fogueira, e era feito silêncio para que aliviasse o cansaço, e pedisse o que lhe aprouvesse. normalmente, tínhamos refeiçao da noite, jantar quente com vantagens sobre o desamparo da nossa condiçao social, e escutávamos as impressoes do dia, as instruçoes para o que viria, e os votos de boa noite."
valter hugo mae, trecho de o remorso de baltazar serapiao.

valter hugo mae é o primeiro autor da FLIP 2011 que tomei contato, depois de ler a entrevista no Prosa e Verso do Globo e ter ficado realmente impressionado com sua visao do Mundo. valter hugo mae só usa as minúsculas, nasceu em Angola, mas vive desde sempre em Portugal, e foi vencedor do prêmio literário José Saramago em 2007 por o remorso de baltazar serapiao, o primeiro a sair no Brasil pela editora 34. Impressionou favoravelmente ao próprio Saramago, que ao lê-lo, afirmou que às vezes tive a impressao de assistir a um novo parto da lingua portuguesa. Estou pela metade do livro, mas já dá pra dizer que está muito bem recomendado. Passado na época medieval, narra a história dos ¨sargas¨, assim chamados em referência ao nome da vaca da familia, para acentuar a condiçao social miserável que sofriam.
valter hugo mae é impiedoso quando trata do papel da mulher como mae e mulher, chegando a ser corrosivo. Tive engulhos em algumas paradas.
Impossível nao associá-lo à Guimaraes Rosa e seu mundo de Hermógenes e Riobaldo, mas o que mais achei próximo da literatura de walter, foram os escritos de Maria Alice Barroso. Separei o trecho acima, que pra mim, é um deja vu da Saga do Cavalo Indomado.
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A FLIP 2011 vai homenagear Oswald de Andrade. Eles ainda terao de me convencer de que nao se trata de mais uma lamentável equívoco.
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27/01/11- Fluminense 3x1 Macaé. Só vi os golaços de Souza (2) e Carlinhos. Foi o suficiente.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Feliz

De repente, fui pego de surpresa por uma certa felicidade genuína, daquelas que nao se encontram por aí, nem se compram, nem se tomam emprestado. Elas simplesmente acontecem e há um bom tempo, nao me aconteciam.
Passei apertado ontem com uma crise labiríntica brava e o mau funcionamento do ar condicionado do meu quarto fizeram da noite, um terror mal dormido. Inesperadamente, já hoje estou bem.
Nao sei se foi o fato da Calle Corrientes ter me trazido os dezessete de novo, pois tudo nessa rua, cheira à Sete de Setembro dos meus 17. Há uma livraria e uma disqueria em cada esquina. Passo devagar por cada uma delas, absorto e leve, como se cada uma tivesse sido feita para mim.
Nao sei também se foram as papas fritas, esse sabor inconfundivel, que só se pode encontrar onde as batatas possuem tratamento de palácio.
Nao sei enfim, se foi a boa conversa, a ausência absoluta dos telefones celulares, a invejável sensaçao de liberdade que tudo isso dá, a verdade é que a vontade é de repetir e repetir até ficar diferente.
Repetir repetir, como bem ensina Manoel de Barros, é um dom do estilo!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Discos do mês

Como dizia Roberto, depois dos 35, as coisas vão ficando meio complicadas. Tenho ouvido muita coisa nesse Mundo de meu Deus e o velho Ipod shuffle já deve estar cansado de tanta troca. Pra esquecer menos do que ouço, resolvi criar um repositório para relacionar os discos. Não há nenhuma pretensão de recomendar, criticar ou denegrir o trabalho de ningém. É corrente na minha vida, mudar de opinião a respeito desse ou daquele trabalho. Passo a gostar ou desgostar com relativa facilidade. Não tenho a pretensão de assumir um compromisso com a linha evolutiva da canção brasileira. A idéia é simplesmente alocar para não esquecer do que já ouvi. Daí nasceu o DISCOS DO MÊS.Está nos links ali ao lado e aqui.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Periga ser naquela esquina


Não foi só Odete Lima que Didi me trouxe esse fim de semana. Trouxe também um pouco de paz, respeito pelos meus silêncios, e foi quase que full time, minha única companhia. Uma ótima companhia! Terminamos a primeira temporada de "Em terapia" e ambos ficamos frustrados com o comportamento do Dr Paul no ultimo episódio. Péssima hora para brochar depois de 43 sessões.
Na vinda, vim ouvindo o cd que a Prefeitura de Fortaleza bancou para celebrar o letrista Fausto Nilo e agora foi lançado pela Biscoito Fino. São as canções mais conhecidas de Fausto, mas é muito estranho ouvir a voz soturna de Zé Ramalho entoando a marcha Periga ser, com um belo naipe de metais. Um achado!
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23/01/11 - Fluminense 6 x 2 Olaria - acho inoportuna e de mau agouro essa parte da torcida do Fluminense que vaia o time quando está perdendo. Principalmente quando a vaia é direcionada para um jogador, como foi hoje com Valencia e no último jogo, com Deco. É ruim para o time, principalmente porque estamos no início da temporada e precisamos de todos bem de cabeça. No jogo de hoje, Fred finalmente deu o ar graça e fez um jogo de craque. Só senti falta do Noronha!

sábado, 22 de janeiro de 2011

Os silêncios de Odete Lima

Feriado de São Sebastião em Miracema, gozando do prazer e do tédio de estar só não fazendo coisa alguma, a não ser ver televisão e dormir. De noite, Didi vem pra cá e ficamos conversando. Ontem, sem querer, ela me trouxe Odete Lima de volta. E daí me lembrei que, além de todos esse cenário espreguiçante miracemense, Odete Lima me dava seus silêncios. E como eram acalentadores aqueles silêncios de Odete Lima! Como me tranquilizavam o latir dos gansos de manhã cedo, a farra dos patos e dos marrecos, a calma das águas do açude em frente da casa. E os banhos noturnos na piscina que escondem histórias de virar uma noite, os churrascos no coreto, as noites de violão e canto. As crianças ainda ficavam comigo sempre que eu vinha e era bom fazer parte de tudo aquilo. Por um momento, fui transportado praquele acordar silencioso de Odete Lima. Pras pequenas coisas que se perde e não voltam nunca mais.

Você pode achar mais de Odete Lima se procurar os textod mais bucólicos desse blog e aqui.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Dexter Morgan

Nos últimos dois ou três meses, estive envolvido com as quatro primeiras temporadas de Dexter. Quase toda noite via um episódio e já estava farto daquela abertura sebenta. Mas as histórias se sucediam e Dexter dava sempre um jeito de continuar matando e sair impune. A surpreendente morte de Rita, no final da quarta temporada vai deixar a série órfã. Mas é o preço que se paga para manter a longevidade das séries. No fim, não há como evitar o desgaste. Um arranjo aqui, uma digressão ali, aos poucos vai ficando tudo meio artificial. A própria morte de Rita foi meio esquisita e premeditada. Passaram a quarta temporada toda transformando a moça numa esposa dedicada e chata. Não teve jeito. Espero que não prorroguem o luto na quinta temporada,
Não há muita filosofia em Dexter. É só a história de um sujeito que presenciou o assassinato a sangue frio da mãe e desenvolveu um prazer mórbido por matar pessoas. O pai, um detetive que o adota, acaba por transformá-lo num justiceiro.
Até que Dexter, reforçada por nomes de peso como David Carradine, Jimmy Smiths e John Litgow, conseguiu sobreviver bem até a quarta temporada.
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20/01/11 - Fluminense 1x0 Bangu - começou o futebol. Como sempre, os pequenos começam com todo gás e os grandes ainda estão longe da forma física ideal. Nese primeiro jogo, o Bangu não mudou a rotina. Jogou no esquema 8-2-0 e só saía em velocidade no contra ataque. No único lance em que Fred efetivamente participou, fez o gol. O melhor da festa foi saber que Sérgio Noronha está de volta ao comentário pebolístico. Noronha esbanja verve, é do tempo de Afonso Soares, Luiz Mendes, João Saldanha e outros que me fizeram entender e gostar de uma boa partida.Ótimo prenuncio! E quanto ao Fluminense, ainda vai ter que melhorar muita coisa!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Canções e filmes de amor e sangue fresco


"Eu quero apenas", a canção de Roberto e Erasmo que tocou domingos afinco na vitrola do meu pai em Miracema, deve ser a mais ingênua e clichê da dupla, que nunca primou por fugir do lugar comum. No entanto, onde quer que eu esteja, a introdução da música vai sempre encher meu velho coração de boas lembranças. Sei que com o tempo, se pode contar os amigos nos dedos da mão e olhe lá (feliz de quem chegou aí).
Acabei cultivando um gosto esquisito por canções e fimes trash. Não sou só eu. Recentemente tivemos o exemplo da música de Marcelo Jeneci influenciada pelas canções da jovem guarda e Tarantino nunca negou que se inspirou em filmes de ação e violência para compor suas obras.
O primeiro filme em fita de video que vi foi Comandos para matar com Arnold Schwarzenegger. Meu pai tinha comprado um video Panasonic G9 (o top da época) e chamei o Nogueira pra fazer uma sessão lá em casa. Devo ter vistos umas cinco vezes, contando anos depois, a cópia em DVD, que vi com minhas filhas. O filme é horroroso, mas eu gosto assim mesmo.
Foi com esse espírito que resolvi assistir Os mercenários, o novo de Stallone e companhia. Infelizmente, nem todas as minhas lembranças trash salvaram o filme do fiasco total. Recomendação fuja.
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Vi também O turista, com Johnny Depp e Angelina Jolie. Afora a simpatia da dupla, o filme é absolutamente previsível e chato.
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Por outro lado, tem mais um Cohen no pedaço. Bravura indômita está estreando no cinema essa semana e sai como o primeiro candidato a filme do ano. E Jeff Bridges faz finalmente jus ao Oscar que tomou de Colin Firth ano passado.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Nara no CCBB

Pouco importa que o grupo tenha escolhido as canções mais batidas do repertório de Nara Leão! Importam menos ainda, as histórias já tão conhecidas, os arranjos sem ousadia, a menção equivocada da briga com Elis.
A verdade é que o CCBB ontem encheu-se do espírito generoso e universal da cantora para homenageá-la com um espetáculo singelo e admirável. Só de ver os olhinhos de Laura brilhando com as canções ainda inéditas pra ela, valeu a pena.
Valeu ter sido arrastado pelo cabresto pra sair de casa, depois de um sábado inútil, valeu ter empurrado o trombolho do carro do vizinho que atrapalhava minha saída na garagem, valeu dirigir à noite com chuva, voltei renovado!
E Fernanda Couto não desaponta em nenhum momento: Nara deve ter gostado onde quer que esteja.
Se você quer ver um musical descompromissado, cheio de clássicos da nossa canção e que deixe sua alma levinha, não perca. Fica lá até fevereiro.
E de quebra, passe pela exposição de Cora Coralina e entenda porque Rubem Braga achava que mereceria ser goiano!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Notas ao pé da chuva

"Pois é nos desvios que se encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros."
Manoel de Barros

A tragédia que toma conta da Região Serrana acabou por criar um pequeno contratempo, em nada comparável ao sofrimento dos que lá moram: ficarei sem ir a Miracema. Está cada vez mais difícil ficar sem ir a Miracema. Minha vida parece querer voltar, ao final de cada dia de trabalho, pra minha casa, pros cuidados da namorada, dos amigos, dos filhos. Vacilei até as 7 horas de hoje em pegar o carro e ir. De madrugadinha, estudei a estrada minuciosamente, pesei os obstáculos e tomei a decisão. Vim remoendo na Baía, não acreditando muito que a tenha tomado. Padeço de um mal crônico: ficar repensando as decisões e sofrendo com essa tortura ruminativa. Deveria ter sido mais ousado? Agora não tem jeito. a prudência é vizinha da solidão.
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É no mínimo estranha essa despedida do Washington do futebol. Se o próprio médico garantiu mais um ano, se o contrato estava engatilhado, se ele próprio dava claras indicações de estar bem em Mangaratiba, porque desistir? Não gostaria de ver Washington longe do Fluminense, mas tenho certeza que ele merece mais um ano. Em qualquer time!
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Minha turma comemorou 25 anos de formatura. Não fui, naturalmente. Vieram as fotos, todos velhos e encarquilhados como eu. É engraçado, mas hoje devo ter mais amigos na minha turma do que há 25 anos. Um trabalha comigo, um é meu terapeuta, e uma outra, nunca se afastou de verdade. De algum jeito, está sempre próxima, acompanhando meus passos longe e perto, desde sempre.


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Carrickfergus

O Rio amanheceu molhado e, não sei se por assim ter sido ou talvez porque Laura tenha voltado, acordei de um sonho bom, como há muito não me acontecia.
Meu coração tem botequins imundos, mas os pés nem tanto. Caminhar pelo velho Centro chuvoso mijado de esgoto e sujeira não é nada agradável.
Na Baía de Guanabara, Van Morrison cantava Carrickfergus pra mim e eu pensava no quanto é satisfatório que eu ainda não tenha conhecido muita coisa, como essa velha canção irlandesa. É reconfortante saber que ainda há muito que ver por aí, que nem todos os discos foram ouvidos, nem todos os livros foram lidos.
Enquanto não vem a trilha de Boardwalk Empire, com a versão definitiva de Loudon Wainwright III para Carrickfergus, vou ouvindo algumas interpretações interessantes na rede. A que mais gostei até agora foi a de Van Morrison, talvez porque se aproxime mais da de Loudon.
Chego na empresa e dou falta de Renatinha o dia inteiro. Tirou férias. Como assim? Pessoas como Renatinha não tiram férias, sob pena de causar um descompasso muito grande para o bom andamento da operação.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Um belo final de semana

Nesse forno niteroiense de janeiro, vacilei algumas vezes em pegar a estrada e acabei ficando aqui mesmo. Deu certo. Tive que importar uma miracemense disposta a horas de videotape, conversa fiada e sexo, naturalmente. Há muito que não acontecia um fim de semana tão interessante em Niterói. Fomos ao cinema ver Incontrolável. Em casa, vimos Um sonho possível e mais um açucarado com Jenifer Aniston (Coincidências do amor). Nada de filmes difíceis demais, densos demais. Os que vieram, vieram na medida para o nosso aconchego. Ficamos ouvindo Xangai e Herbie Hancock, caminhamos pela Praia das Flechas cedinho, almoçamos no Beluga e jogamos conversa fora até agorinha. Quase não deixei que ela se fosse e por pouco não fui com ela. Acho que nesse meio tempo, eu consegui recuperar um pouquinho do que não tinha há muito: um sentimento genuíno de felicidade.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Você vai conhecer o homem dos seus sonhos

O meu primeiro filme de 2011 não comprometeu, mas também não foi lá essas coisas. Sempre espero mais de Woody Allen. O filme é na verdade uma aula sobre desencontros e desapontamentos. O título é apenas irônico, tirado de uma frase que o personagem de Josh Brolin fala com a sogra, encantada com as previsões de uma vidente charlatã. Na verdade, ninguém encontra ninguém que valha o sonho do título. Fiquei com saudade de Tudo pode dar certo.
De um modo geral, prefiro a veia cômica de Allen. Além de Tudo pode dar certo, gostei muito de Zelig, Desconstruindo Harry e Poderosa Afrodite.
Gravado na Inglaterra, o filme tem no elenco a piteuzinho indiana Freida Pinto. Essa é uma das vantagens dos filmes de Woody. Sempre tem um piteuzinho.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Cinco canções de 2010


Deixo essa lista por último, porque habitualmente é a que mais me agrada escrever. Não farei a lista dos cinco livros, porque li muito pouco em 2010. Qualquer um que esteja na lateral direita do blog poderia estar listado, mas daria um destaque absoluto para Em alguma parte alguma, o inédito de Gullar.

Primeiramente, é preciso esclarecer que essa lista não é feita necessariamente de canções compostas em 2010. São canções recentes (de 2010 ou próximas) que mais tocaram na rádio Desconversa FM, que voltaram mais vezes no meu cansado Ipod shuffle, companheiro das Barcas e dos ônibus em Niterói.

Quatro cabeças, de Gabriel Moura, Maurício Baía e Rogê - se há um sopro de renovação na música brasileira, deve passar naturalmente pelo 4 violonistas do grupo 4 Cabeça, que fizeram um belo disco em 2010, impossível de encontrar nas lojas ou na rede. A música que apresenta o grupo é um achado.

O papa, o cão e a alfama, de Luiz Gabriel Lopes - compositor mineiro, radicado em Portugal, também gravou um disco que não se acha em lugar algum. Essa canção é uma mistura de fado com flamenco com rítmos brasileiros, muito sofisticada e de uma letra estranhíssima.

Quatro Horizontes, de Lenine e Pedro Luiz - esse choro lançado inicialmente por Pedro Luiz e depois no disco de trilhas do Lenine (Lenine.doc) é uma pequena obra prima, um casamento perfeito entre letra e melodia, de uma brasilidade escarrada.

Contenda de Guinga e Thiago Amud - ignorei a canção no disco do Guinga e só bateu quando ele a cantou no CCBB. É Aldir Blanc pura.O disco de Thiago também é de garimpar muito pra achar.

Porque nós de Luiz Tatit e Marcelo Jeneci - Marcelo Jeneci lançou um bom disco no final de 2010, embora eu preferisse que ele namorasse mais com a sanfona do que com a jovem guarda. Essa canção eu conheci primeiro e numa versão mais bonita, no disco do Tatit (Sem destino). Parece o canto de uma geração inteira.

As cinco canções de 2009 e 2008 aqui.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Três anos desconversando

"Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro."

Mário de Sá Carneiro (Lisboa, fevereiro de 1914)

O velox funcionou bem no resto dos dias, mas aí a síndrome de abstinência já tinha passado e parei de acessar.
O ano novo veio bonito como tem vindo desde sempre. Só me atrapalhei com a oração da minha mãe à meia noite e esqueci de estourar o proseco que estava reservado na geladeira. Fica pra próxima. O resto deu tudo certo, com filhos rondando pela casa, amigos de muitas décadas, meus pais e um porre homérico de antártica sub zero.
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Três anos de blog e achei que já tinha dado o que falar. Tive um branco de escrever bobagens. Tentei um alternativo, mas caí no mesmo abismo. Até que percebi que o blog nasceu da necessidade que eu tinha de escrever pra mim mesmo. E me lembrei que nos melhores tempos, eu me divertia lendo velhos textos e achando engraçado aquilo tudo. Tenho que confessar sem falsas modéstias, até porque trata-se de um total despropósito, que meu maior leitor sou eu mesmo.
Foi assim que decidi continuar postando. Sem ritmo, improvisado, desconvexo, mas alguma coisa precisa ser extraída dos meus dias bestas. Feliz ano novo!

Onde comer bem no Centro do Rio

O tempo tem mostrado que comer no Centro do Rio é tarefa cada vez mais complicada. Ando limitado aos restaurantes antigos que como há mais d...