sexta-feira, 29 de setembro de 2023

A voz da torcida do Fluminense

Gabriel Carvalho tem metade da minha idade. Não tenho nenhum conhecimento da sua história, mas acompanho seus comentários após os jogos do Fluminense no GE. Na maioria das vezes, concordo. 

Gabriel é mais um torcedor apaixonado como somos eu e meu filho. Ri muito pouco. Comenta com seriedade, mesmo quando o time vence. Aqui no nosso núcleo familiar é diferente. Em geral, o time perde e guardamos silêncio. Quando vence, é sempre festa. 

Gabriel consegue achar as palavras certas nas derrotas. Como ontem, ele usou o termo vergonhoso. E foi, sim, uma derrota vergonhosa, com um Fluminense apático e sonolento depois que fez o segundo gol. Não se pode tirar os méritos do Vasco, que soube aproveitar da inacreditável fragilidade da defesa. Acho que nunca tinha visto André jogar tão mal como fez no segundo tempo de ontem. 

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Quando volto a esse texto, o Fluminense já empatou com o Inter em outro jogo de dar nos nervos. E Gabriel era um misto de satisfação e desapontamento. Particularmente achei que esse empate foi heróico. mas vai ser muito difícil lá.

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Quando volto de novo, mais uma derrota vergonhosa, dessa vez para o Cuiabá. Está difícil, Gabriel!!

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E hoje, aniversário do filho, Laura e Lavínia me presentearam com o que há de melhor num presente: a presença. Que bom vê-las bem.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Onde queres livraria, sou farmácia

"É preciso aprender a ficar submerso

por algum tempo. É preciso aprender

Há dias de Sol por cima da prancha

há outros em que tudo é caixote, vaca,

caldo. É preciso aprender a ficar submerso

por algum tempo. É preciso aprender.

a persistir, a não desistir, é preciso

é preciso aprender a ficar submerso

é preciso aprender a ficar lá embaixo

no círculo sem luz, no furacão de água

que o arremessa ainda mais para baixo,

onde estão os desafiadores dos limites

humanos".

Alberto Pucheu


Eis um prazer que me permito uma vez por semana, desde que comecei a trabalhar 100% presencialmente. Eu faço meu horário de almoço na Livraria Beringela. A Beringela é um oásis localizada no Marquês do Herval, ao lado da histórica Leonardo da Vinci. Passo uma hora inteira lá conversando com o Márcio e com a Sílvia e sempre saio com um  saco de livros e paz de espírito.

A livraria resistiu ao tempo e permanece intacta desde que o menino que fui, a descobriu.  Da poesia de Antônio Cícero (A cidade e os livros), a maior parte dos sebos se extinguiu. Ao contrário das farmácias, que cresceram em proporção geométrica e ocupam metade do centro do Rio. As megas Pachecos e Raias estão em todo canto.

Por isso mesmo, é confortante saber que a Bienal do livro vendeu milhões de livros. Ainda que sejam livros baseados nas canções e nas biografias da cantora Taylor Swift. Não fui, mas sei que Hugo Mãe, Maria Clara Machado, Laurentino Gomes e outros grandes escritores estavam lá.

Na Barca, troquei o alfarrabista John Dunning (Impressões e Provas, mais lento do que Edições Perigosas, mas igualmente ótimo)  pelo Malabarista Arnaldo Jabor. As crônicas da infância marejaram meus olhos ontem na Baía. Há muita semelhança entre um menino criado no subúrbio e outro no interior. E também sinto muitas saudade de ligar para minha mãe, mas não lembro mais de como ela me atendia. Só lembro que na sequência, independente da idade, ela perguntaria: tem escovado os dentes? Tem olhado para os lados ao atravessar a rua? Minha mãe partiu há mais de onze anos, mas como me falta.

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Estou revendo, e recomendo, a série Boss. Paguei 14,90 para assinar a Lionsgate só para assistir de novo. Kelsey Grammer, que conheci da série, é um ator excepcional. O elenco todo é afiado e responde bem. A direção (alguns episódios) e produção de Gus Van Sant acrescenta um certo visceralismo ao enredo. Nesse intervalo de séries e filmes ruins, rever Boss é um ensinamento.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Meia dois

Meus 62 começaram em São Paulo. Estranhamente eu amo SP e por vezes, acho que merecia ser paulista. Infelizmente, vinha de uma noite ruim no Hotel Central Park, devido a uma overdose de pastéis de nata na noite anterior. 

Os pastéis de nata são um motivo a mais para gostar de SP. A Quinta do Marquês, na Ministro, faz pastéis de nata idênticos aos que comi em Lisboa. Não há no Rio, pelo menos que eu conheça, nada parecido. A histórica Casa Cavé , do centro, oferece pastéis de nata murchos. 

Nos meus 62, a Avenida Ruben Berta estava parada e eu fiquei com medo de chegar em Congonhas depois do embarque. Da janela do táxi, vi meus planos  de fuga para  Miracema naufragarem se perdesse o vôo. Em geral, eu saio da empresa duas horas antes do embarque, com tempo de sobra para mofar no aeroporto, tomar um baccio, ficar olhando o quadro de vôos. 

Mas deu tudo certo e na chegada ao Santos Dumont, meu filho e o motorista já me aguardavam para viajar. Viagem tranquila sem atropelos. E minha casa de presente para a passagem dos 62. E Luisa nos esperava com abraço, bolo e presente. A festa estava feita.

Nos meus 62, recebi duas mensagens que me comoveram muito: uma longa de Laura, que contava em poucas palavras nossa história comum, o quanto somos parecidos e o quanto nos amamos. Se não fosse um desconfiado da existência de Deus, estaria de hora em hora, dando graças a Deus pelos filhos que tenho.

A outra mensagem foi da Isa. A Isa é uma amiga querida. Nossa curta vida em comum foi cercada de consideração e apreço. Deve ter uns trinta anos a menos que eu, mas é uma paixão desmedida, e sua mensagem só fez realçar. 

Nos meus 62, o Fluminense me presenteou com uma atuação de gala, e se classificou para as semi-finais da libertadores. Vamos em frente.

No dia seguinte aos meus 62, eu comemorei com meus poucos amigos, com dois dos meus filhos, feliz e agradecido por estar vivo e relativamente saudável. 

Nos meus 62, fiz concessões à minha insônia e bebi até duas da manhã. E acordei muito sereno no dia seguinte. Era sábado, e eu tinha mais um dia de paz na minha cidade.


Miracema, 31 de agosto de 2023


Travado

"Diferente o samba fica Sem ter a triste cuíca que gemia como um boi A Zizica está sorrindo Esconderam o Laurindo Mas não se sabe onde ...