segunda-feira, 31 de março de 2014

Queronavegarquemsabeotempo muda tudo de lugar




"A tristeza é comprida
Se desdobra em muitas léguas
Desde o ponto de partida
Até o fim que nunca vem."

Chico Saraiva/Luiz Tatit

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Cada vez que pego nesse texto, percebo a colcha de retalhos que ele está ficando. Muitas noites numa noite. Mudanças de humor, de lugar, de vontade de escrever sobre isso ou aquilo.
Semana passada (que semana passada será essa??) vim (duas vezes!!!) a São Paulo, mas não consegui escrever. Muito cansaço e a internet complicada do Hotel Blue Tree.
O Hotel Blue Tree da Rua Peixoto Gomide já teve seu tempo. Hoje é só uma lembrança. Uma tv sintonizada num canal japonês, uma banheira de 1930, e todo o barulho da rua do lado.
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Dessa feita, tive que abandonar o trabalho intempestivamente, pegar um táxi e ir ao Sesc Consolação adquirir umas mercadorias que só tem no Sesc: o novo da Tetê Espíndola, que vem encaixotado com o mítico Pássaros na garganta (que bela ideia, que presente!), Tia Cila dos Terreiros e um disco da Juliana Amaral que nunca tinha visto. Já estão todos digitalizados no Itreco em plena audição. 
Juntos, covardemente, com o novo de Dori Caymmi, 70 anos, que só por ser Dori já merece ser ouvido mil vezes.
Também juntei Goodbye yelow brick road, o disco de Elton agora remasterizado adequadamente. Ouvi muito o álbum duplo nos anos 80. E ainda gosto, não posso negar.
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Comecei o dia (que dia será esse?) ouvindo Maria Rita, Fogo no Paiol. A canção de Rodrigo Maranhão poderia ter figurado entre as cinco canções de 2011 e só não o foi por mero esquecimento. É uma letra miúda que diz muita coisa. E um samba exaltado, sem papas na língua. Precisamos de mais sambas assim.
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Não adianta que o filme seja baseado num conto de Roberto Bolaño. O futuro é um lamentável equívoco.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Trás gasolina, põe fogo




Eu sei, estou muito atrasado. Quero escrever, penso nos títulos, articulo frases, mas ficam na desmemória. Só me resta pedir desculpas aos meus dois leitores, se é que ainda vasculham essas plagas. No mais, chega de sentimentalismo. O sentimento ficou estacionado nesse bilhete de 2007.
Estou em São Paulo, obviamente. Já estive em João Pessoa, onde comi todos os camarões possíveis e tentei de todo jeito ir a Recife falar com Maciel Melo. Ficou pra próxima.
Ouvi muita música no avião. Alguns clássicos, o disco novo de Carlos do Carmo (obrigado Luisa, o fado do 112 voltou inúmeras vezes), Gustavo Galo, Fernanda Takai, Alceu Valença, André Mehmari e Mário Laginha, Inez Viana, Jair Rodrigues, Mariene de Castro, etc, etc, etc. 
Das fadistas que ouço todo dia, a que menos ouço é Carminho. Talvez uma injustiça, mas não gosto muito de fadistas que se aproximam da canção brasileira, O disco de Teresa Salgueiro cantando bossa nova, por exemplo, é um horror. Por isso, procuro ouvir os fados tradicionais que ela canta, como a Bia da Mouraria ou o Fado das queixas. Mas hoje, vindo do Rio, me aconteceu o Frevo nº 2 do Recife, de Antonio Maria, com Carminho e Alceu Valença. Um achado aquela guitarra portuguesa trescalando o frevo. Maria deve ter ficado feliz.
O lançamento musical mais importante do ano há de ser a caixa de 20 cds dedicada à obra de Ary Barroso, contendo todas as primeiras gravações de suas músicas. Fiquei comovido com o trabalho feito pelo pesquisador (e biólogo) Omar Jubran , que declarou que "quer que o ouvinte das minhas caixas se sinta como se tivesse acabado de comprar um disco em 1930 e fosse para casa escutá-lo". Ouvindo a voz limpa de Aurora Miranda cantar Risque só ficou a vontade mesmo de ser um sujeito daquele tempo.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Em paz com meus fados

"Não tenho mais nada. A rigor, talvez nunca tenha tido realmente alguma coisa. Um sofá-cama forrado de novo, algumas recordações desagradáveis - e as calçadas, as calçadas da minha rua, da minha cidade. do meu mundo."

Cony, Matéria de Memória

No carnaval, cuidei do filho e ouvi fados. Enquanto o mundo se rachava, lá em casa se ouvia Pedro Moutinho, Carlos do Carmo e Raquel Tavares. Abri uma única exceção para o excepcional Enredo, disco em que Martinho da Vila repassa seus sambas de enredo, mas ouvi muito pouco. E ouvi um pouco também Clara Nunes trazida de volta por Fabiana Cozza.
Meu pai era apaixonado por Clara Nunes. Tínhamos todos os long plays dela lá em casa. Devo à Clara (e ao meu pai, naturalmente) minha paixão por Antônio Maria e Dolores Duran. Decorei todas as falas e canções do Brasileiro Profissão Esperança. Até hoje recito o Canto Negro de José Régio, possivelmente melhor do que Maria Bethânia.
Acho que Fabiana Cozza é a minha Clara Nunes. Volto a ela, porque perdi seu show no Rival. Um monte de cansaço acabou me deixando em casa.
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Voltei a trabalhar e ouvir música ao mesmo tempo, o que não deixa de ser uma ótima notícia. O tempo e a irritabilidade tinham detonado minha capacidade de fazer as duas coisas, mas agora parece ter melhorado. Hoje ouvi o ótimo disco de Gustavo Galo, Asa. Bom, não é bem um disco, pelo menos nunca vi em loja, mas pode ser baixado gratuitamente no sítio do cantor (aqui). Tinha lido uma ótima resenha no Globo e hoje confirmei tudo que li.
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Estou lendo Matéria de Memória, escrito por Carlos Heitor Cony em 1962. Tem quase a minha idade. Comecei a ler Cony quando ele lançou Quase memória. Achei que já tinha esgotado sua obra naquela época. Felizmente restou algum.

terça-feira, 4 de março de 2014

Algumas sugestões para Marcelo Fróes

O mais excitante que me aconteceu nesse carnaval até agora foi a centena de vezes que tentei passar da etapa 50 da Candy Crush Saga. Quando me refiro a agora, quero dizer segunda de carnaval, pois sei lá quando vai sair esse texto. Retornarei a ele algumas vezes como se fosse uma espécie de perfeccionismo às avessas.
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Não me lembro de Agostinho dos Santos nas rodas lá de casa. Mesmo depois que cresci, inclusive musicalmente, só lembro de algumas resenhas falando da bela voz, da morte num acidente trágico em 1973 no Aeroporto de Orly e da participação no Orfeu Negro. Muito pouco para fazer juízo.
Agora Marcelo Fróes resgatou parte da obra de Agostinho em ótimas masterizações numa caixa de cinco discos. Ouvi alguns. Ainda não dá pra fazer juízo, mas vou botar o meu na reta: acho que Agostinho era uma espécie de Emilio Santiago dos anos 60: a bela voz das resenhas, o repertório dos outros, arranjos tinindo de bons, incluindo o piano de Guilherme Vergueiro e ainda acrescento o compositor mediano. Mas prometo ouvir mais.
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Marcelo Fróes tem resgatado muito mais. Ainda nem abri as caixas do Miltinho, do Sérgio Ricardo, do Moreira da Silva, mas dá para perceber o esmero que ele tem com a canção brasileira.
Podia trazer de volta o primeiro do Elomar, o Taperoá do Vital, o Pássaros na Garganta da Tetê, o 2º da Clara Sandroni (o que tem Unicórnio), as antologias do samba canção do MPB4 e do Quarteto en Cy, etc, etc, etc.
Podia fazer caixas com os discos da Leny e do Zé Luiz Mazziotti dos anos 80, incluindo os da extinta gravadora Pointer.
Todos os discos da Cristina Buarque, uma autêntica biografia do samba.
Obras completas do Jacob e do Gonzaga que já foram remasterizadas, mas nunca saíram.
Marcelo podia trazer muito mais para nossos ouvidos.

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...