quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Alumbramento

"Mais sensato adágio não pode haver do que aquele que adverte que não se diga que dessa água não se beberá, pois ele próprio, já com a junta dos dedos doloridas, mal podia acreditar que tinha feito o pedido de visita e que ia dever favor àquele trampolineiro mal disfarçado."
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Meus dois ou três leitores já devem ter se apercebido de que já comecei a ler O albatroz azul, João Ubaldo.Chegaram, antes de ontem Ubaldo, Saramago e Galera. Ubaldo pede urgência em suas leituras. Eu obedeço.
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Ontem tive um alumbramento que tinha passado desapercebido. Nana Caymmi soprou nos meus ouvidos Violão, o clássico de Sueli Costa e Paulo César Pinheiro, já (bem) gravado por Fátima Guedes. Com Nana, a música passa a ser leveza, cristal. Quando ela vira aquele "não era um tronco qualquer", dá uma sensação de tudo tem um sentido na vida.
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Hoje não estou para cafés. Não me venham com conversa mole. Já falei dos meus amores. Necessito viver um período de árvore (como Manoel). Hoje só a solidão, o abismo e o desespero me fazem companhia.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Destino Bocaiuva

"Não, eu não podia me enganar assim
Com uma criança qualquer
Que veio ao mundo bem depois de mim
Eu não reclamo o que ela fez
Só condeno a mim mesmo
Por ter me enganado outra vez"

Adriano Serafim


Clementina costuma acender o candieiro quando canta. Tem um texto do Fernando Faro para seu disco de duetos, que você lê e ouve direitinho o bater dos tambores para seu canto. Ingenuidade foi regravada por metade da MPB recentemente.
Fiz as pazes com meu Ipod e a primeira coisa que me veio hoje foi a interpretação de João Bosco para a canção do bissexto Adriano Serafim. João Bosco fez a melhor das regravações. Vai exercitando cada vez mais o seu lado Clementina, já explorado em Benguelê e outros cantos da nação nagô.
Depois vieram Buika e Chucho Valdez, outra idéia esplêndida, o novo do Chico Saraiva (com Adriana Ferriani), um frevo diabo de Siba, que fez a enfumaçada e calma Praça Araribóia parecer um salão de festa para um ouvido e o esplêndido Destino Bocaiuva, com Guinga e Paulo Sérgio Santos. Definitivamente, meu Ipod se regenerou.
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Acordei às cinco e pulei da cama para o computador para que os pensamentos ruins não me pegassem. Foi um fim de semana confuso em Miracema. Algumas centelhas de passado perseguiram-me até a lojinha de doces da Rua das Flores. Surtei até ficar com dó de mim. Mas já vou indo muito bem.
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Ando em paz com minhas filhas. Entendemo-nos por gestos, pequenos afetos recíprocos. Mas essa coisa de sair de noite para ensaio, boate e apresentação leva o resto dos meus cabelos. Ao mesmo tempo, nada é mais bonito do que vê-las florindo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A dignidade do suicídio

"Era uma vez uma cidade grande, onde instaurou-se a dignidade do suicídio. Clínicas especializadas distribuíam cápsulas transparentes que os candidatos tomavam para, depois de embalados, atingirem o passamento sonhado. As cápsulas chamavam-se "obliviantes" e nelas desapareciam os obliviados, a quem todos se referiam com reverência. Mas era preciso merecer a morte obliviosa, pois nem todos tinham o direito de morrer." (Ana Hatherly)

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Minha tia esteve na minha casa quinta-feira e estendeu o lençol da cama. Cheguei em casa e fui o menino de novo. A cama arrumada pela minha tia vem com um adicional de conforto e muitos anos de dedicação e apreço. É, por assim dizer, uma cama mais fofa do que a que eu mesmo arrumo, atropeladamente. Minha tia vem estendendo o lençol para a família há muitos anos. Tem sempre algo pra dar. Carinho, afeto, esperança, geladeira, ventilador de teto, cortina. Anda doente, mesmo assim nunca desiste.
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Meu Ipod está brigado comigo. Acho que fiz uma seleção inadequada. Jane Duboc e Vitor Biglione fazem uma Ella Fitzgerald apenas correta, Maciel Melo esqueceu o ótimo compositor e poeta das janelas e das retinas pra fazer discos mediocres, ainda não consegui gostar do ieieiê do Arnaldo Antunes e não entendo esse incenso todo para o Cidadão Instigado. Gosto quando ele me manda as milongas de Daniel Melingo ou Fred Hersh tocando Tom Jobim, mas isso tem vindo muito pouco.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Cenários

"A primeira coca-cola foi, me lembro bem agora,
Nas asas da Panair
A maior das maravilhas foi voando sobre o Mundo
Nas asas da Panair"

Meu primeiro vôo foi nos anos 80, acho que pela VASP, acho que pra Salvador. Não adianta, esqueci meu momento inesquecível e nem foi um latin lover.
Por isso mesmo, meu primeiro vôo pela Ocean Air fica aqui registrado para não esquecer nunca. Foi hoje, vindo de São Paulo.
Não foi a primeira vez que viajei num fokker. Não foi a primeira vez que trepidei num fokker. Brrrrrrrrr!!!!!!!!!!!!!!!!!
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O vôo serviu pra terminar de ler "O dia em que o rabino foi embora", Harry Kemelman. O livro inteiro é o cenário da história que é contada e concluida no último capítulo.
É mais ou menos assim que é a vida. O cenário de uma história que acaba nunca dando em nada.
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O que é, afinal, a vida? Não mais do que ter ótimos filhos, bons discos, trabalhar onde se gosta. E nunca dar em nada. Mais nada!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Cheiro de chuva

Estranho esse centro fechado, pouca gente circulando, a cantareira calma. O dia do comerciário levou o Cláudio da Escuta Som, o Maurício do Alfarábi, a Sílvia do Beringela e outros menos cotados para o descanso e deixou o velho centro vazio.
Estranhei, óbvio. Pareceu-me inadequado estar aqui só a trabalho. O dia todo foi muito lento, o trabalho não rendeu mais do que o usual. A empresa, em conformidade com a total incompletude do ambiente, resolveu dispensar os funcionários às 16 e 30.
Cheguei a pensar que pra mim talvez ficasse inviável trabalhar aqui sem esses complementos da hora do almoço.
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Outros fenômenos tornaram a segunda lenta: o início do horário de verão, quando se perde uma hora de sono, e o clima desigual da noite niteroiense: começa abafado, depois congela.
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No início da noite, uma chuva torrente e prematura veio como uma bênção. Fiquei na janela ouvindo aqueles pingos urgentes. Esse cheiro de chuva percorre minha vida inteira como um sentimento misturado de paixão e medo.

sábado, 17 de outubro de 2009

Ortega a perigo

Finalmente um sábado solitário no pardieiro. Pensei em sair pra assistir Bastardos Inglórios, mas preferi deixar pra amanhã. Ou depois de amanhã. "Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã". Hoje vai ser só da vagabundagem. Vou parar pra ver os e-mails do Ortega, meu fiel servidor de finas putarias. Ando atrasado com ele. Acho que o Ortega está se regenerando. Ultimamente, entre uma pelada e outra, manda-me mensagens indefectíveis de auto-ajuda. Não existe nada mais inútil do que uma mensagem de auto-ajuda. Principalmente aquelas em que o sujeito sugere que façam uma corrente e envie pelo menos para 10. Pena de morte para esses mensageiros!
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Danei a ajeitar discos e livros, tirar o pó das estantes, mudar as coisas de lugar pra ver se sobra algum espaço. Difícil.
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O bom fim de noite dessa última semana foi recheado de filmes não tão bons. Tenho dormido tarde. Comecei com Shrink, the doctor is out, ótimo, Kevin Spacey perfeito no papel de um psiquiatra suicida. Depois vi Os falsários, filme alemão que ganhou o Oscar de estrangeiro em 2008. Gostei também. Muito bom o desempenho do ator Karl Markovics. Bela idéia a escolha dos tangos para a trilha do filme. E daí Reféns do medo, um filme sobre serial killers dirigido por Dario Argento. Curioso foi ver Emmanuelle Seigner, a deusa de Lua de fel. Envelheceu, mas ainda dá um caldo! E finalmente, a comédia Maldita sorte, que no máximo deu pra passar o tempo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pequeno caos de quinta

Já disse, detesto bancos, por isso mesmo mantenho uma única conta há muitos anos. De vez em quando, complica. Tipo cancelam seu cartão sem motivo, não lêem o código de barra da conta, não cospem folhas de cheque e por aí vai. Hoje travaram meu cartão. Com o banco em greve, a agência longe daqui, sem poder tirar dinheiro ou pagar conta, fiquei a ponto de sofrer do moral.
Meu estômago ferrado do almoço de ontem, arde e regurgita.
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Dias como esse me esgotam. Fiquei o dia por conta de um estudo diagnóstico. Uma coisa fascinante poder trabalhar nisso. Ao mesmo tempo, esgota. Somado ao banco e ao estômago rugindo, restou o surto.
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Surtei, é verdade. Rosecrilda viu. Não foi um surto como os de antes em que eu errava a estrada e dava cabeçadas no teto do carro, foi só um surtinho. Um acúmulo de dor, cansaço, sofrimento pela incompetência alheia, e o estômago revirado.
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Durante o surto, acho que devo mudar o Mundo. Ligo pra todas as pessoas que não têm nada com isso, mudo planos, empalideço. Custa um pouco, mas aprumo. Quando aprumo, tenho que desfazer tudo que refiz e voltar ao mesmo lugar de antes.
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A velhice, a terapia, os inibidores de recaptação da serotonina e a falta absoluta de esperança na humanidade aplacaram meus impulsos, mas ainda há aqueles dias.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Idéias geniais

Que idéia genial juntar Joel Nascimento e Hamilton de Holanda pra fazer um duo de bandolins! Já está cotada para ser a idéia do ano. O disco não se restringe ao choro. Passa pelo clássico, pela valsa, por Gardel, enfim, uma boa mostra da genialidade dos dois.
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O cirurgião Ben Hur Ferraz Neto, um dos maiores nomes do transplante de fígado do país, também tem idéias geniais. A primeira é recomendar a instalação de caixas pretas em todos os centros cirúrgicos do país, com o objetivo de criar um banco de informações de imagens, sons e dados de milhares de cirurgias. Fundamental na compreensão e na prevenção do erro médico.
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A outra idéia é que o médico seja remunerado apenas na consulta de retorno. A primeira consulta teria duração de no mínimo uma hora e seria usada para compreensão da doença e avaliação da capacidade efetiva de oferecer ajuda. Está na entrevista da Veja dessa semana e já vale a revista.
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Sou contra feriado às segundas. Feriado devia ser sinônimo de sexta. Cheguei na empresa hoje de manhã e um maremoto de reuniões incessantes tomou conta do meu dia. No fim do dia, estava tão esgotado e vazio que mal conseguia avançar num raciocínio lógico. Além disso, Renatinha pareceu-me triste. Quando Renatinha está triste, o dia costuma perder um pouco do sentido.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Trato do homem

Até admiro quem goste, mas devo dizer: não gosto de animais domesticados. Nada me entedia mais do que um cavalo trotão, um cão latindo e um gato quizilento (quem chamou os gatos de quizilentos, foi Drummond, não eu!). Em Odete Lima, criava os indomesticáveis gansos para substituir os cães. Hoje cedo antes de pegar a estrada, fiquei a ver a procissão improvisada (a oficial é só de noite) de Nossa Senhora de Aparecida passar em frente à casa dos meus pais.
Primeiro vieram os cavalos. Depois motos buzinantes, depois bicicletas, depois gente, e finalmente os carros. Dois dos carros tocavam música breganeja numa altura que faria corar Aparecida de vergonha.
Um dos cavalos estava com gastroenterite e começou a fazer suas necessidades em frente a casa de minha mãe. Vim sentindo cheiro de bosta fresca, impregnado nas minhas narinas melequentas de rinite até a Serra do Capim. Clarice definiu os cavalos como os mais nus dos animais. Se visse aquele alazão se borrando todo hoje, ia ficar mais convicta ainda.
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Sou do tempo em que o que mais enfeitava a mulher ainda era o trato do homem, como diria Vanzolini. Fiquei espantado de saber que um amigo meu está se separando por iniciativa da mulher! Como assim?????

domingo, 11 de outubro de 2009

Sou que nem Guriatã que morre cantando

A vantagem de estar só em Miracema é o cheiro de limpeza do quarto.
Em Niterói, a conectividade com o resto do mundo.
Em Miracema, estar perto e longe de quem amo.
Em Niterói, longe e perto.

Quando estou só, sinto uma falta imensa do meu trabalho. Meu pai, 73, se realiza quando pega o trator e vai arar a terra. No meu trabalho, nunca estou só. No máximo, sozinho.

A vantagem de estar só nos dois lugares é que posso ouvir Beirut ou Tantinho da Mangueira sem ter que dar explicações.

Já explicamos muito. Vivemos explicando isso e aquilo. Meu bom gosto musical tem graves defeitos e eu gosto de todos eles. Deixa eu quieto com meu ouvido!

Afinal, eu não implico com essas coisas que a mídia impõe e pisa em cima de nós. Sou capaz de passar uma semana na Enseada Azul ouvindo Cesar Marciano e Zé Mennotti e ficar quieto.

Maria Bethânia gravou mais duas obras primas. Ouço com calma. A primeira canção que me chamou atenção foi Guriatã, uma guarânia de Roque Ferreira. Roque Ferreira pensa ecleticamente como eu. É um baiano que compõe inclusive guarânias. E daí?

Quando estou só, vejo filmes. Vi, por exemplo ontem, Beijo roubado e hoje, Sete vidas. O que me atraiu em Beijo roubado foi o fato do roteiro ter sido escrito por Lawrence Block. Acredito que Block seja responsável por tudo de razoável que tem no filme. Norah Jones ainda se procura como cantora, como quer ser atriz? Sete vidas é um filme tristíssimo. Will Smith está fazendo escola de filmes tristes. É possível passar 4 horas sozinho vendo esses dois filmes sem ter a sensação de ter perdido 4 horas de vida.

É domingo de tarde em Miracema, Luisa e Laura estão ensaiando (!!!!!!), Chicó com a mãe. Restou-me Bolívia e Brasil. E a Bolívia acaba de marcar o primeiro gol!

sábado, 10 de outubro de 2009

Meu pé de jaboticaba



Hoje de manhã encontrei o menino que eu fui. Na Rua Direita, a principal da cidade, passou um velho com seu carrinho de mão lotado de jaboticabas. Jaboticaba foi a fruta da minha infância e até hoje gosto muito.. A prática da venda de jaboticaba em carrinho de mão é antiga na cidade. Comprei dois litros. Muito pouco pro menino que subia em árvores e ficava uma tarde inteira chupando. Perto da exposição agro-pecuária, tinha uma chácara que meu tio arrendou pra plantar cana. Logo na chegada, cinco pés de jaboticabas consecutivos davam boas vindas. Quando era época, aquilo ficava tudo pretinho.
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Hoje não subo mais em árvores. Tudo mudou e os valores intangíveis foram sendo extorquidos de mim como um enterro qualquer. Não há remédio que faça voltar o frescor dos tempos idos.
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Tive minha primeira aula de cavaquinho com Jadim. Aprendi duas posições e a batida. Diferente do violão, o cavaco é um instrumento de ritmo e é uma pena que eu tenha aproveitado tão mal minhas aulas de pandeiro. Mais do que a aula, uma boa conversa de amigos, solidários nas suas tristezas.
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Mas hoje não foi exatamente um dia triste. Fiquei um pouco desnorteado de manhã, mas aprumei. O dia terminou com uma vitória do Fluminense e uma lamparina acesa no breu que se tornou a campanha do time.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Finalmente Miracema!

Quando digo que escrevo pra mim, estou dizendo a verdade. Mas quando Laura comenta no blog, eu já começo a achar que escrevo só pra ler o comentário dela.
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Já soube pelo Julio que José Luis Nascimento Silva passa muito bem. Acordado e lúcido. Foi a melhor noticia do dia. JLNS é um dos bons amigos que o trabalho me deu nesse ano. Pra quem já leu esse blog, é aquele que me trouxe o Amandio Cabral lá de Lisboa. Sofreu um acidente em Maceió e andava mal no Procardíaco. Mas agora já caminha pra melhor. Grande notícia! Que volte logo, está fazendo falta!
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Cheguei a Miracema a tempo de paquerar minhas filhas no almoço. Estão lindas como sempre. Luisa parece que pegou a reta na vertical. E o que dizer da Diô, com seus bolinhos de carne, polenta, macaxeira e um feijãozinho de tirar qualquer um do sério? E bananinha cozida de sobremesa. Comidinha muito simples, do jeito que eu adoro!
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Depois chegou Chicó e ficamos vendo os jogos da segunda divisão. O menino pegou gosto pelo esporte. É uma pena que o Fluminense não lhe dê uma alegriazinha qualquer.
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Estar aqui é muito bom. Perto dos meus, fico mais protegido.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Desde que você partiu de vez


Juntaram o 007 Daniel Craig, o dentes de sabre (X men) Liev Schreiber, uma bela moça (Alexa Davalos) e uma floresta para fazer um filme sobre nazismo. Estranhamente, deu certo. Um ato de liberdade é um bom filme baseado num fato real. Não abusa dos maniqueismos, tem uma dose interessante de violência e erotismo, enfim, ótimo para passar o tempo.
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Vi também Tudo por ela, filme francês dirigido por Fred Cavayé, com dois atores que se afinaram muito em seus papéis: Vincent Lindon e Diane Kruger (foto acima). O filme conta a história de uma casal "perfeito", cuja mulher é condenada por assassinato e o marido passa o tempo todo tentando salvá-la. No final, deixa uma mensagem muito boa: é fácil fugir, difícil é ser livre.
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Para a pergunta "qual o desenho do seu blog (?)", eu dei a seguinte resposta: não há um desenho definido. Há delírios e recomendações. Aproveite o que você achar melhor.
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Desde que você partiu de vez, eu desisti da Rede Globo, do Jornal Nacional, do jantar, de caminhar pela praia, de ver TV na sala, de ler a Veja da semana , de fazer compra no super-mercado, de arrumar a cozinha, de usar fio dental direito, de tomar coca zero, de ouvir o Roberto, de ler a Playboy, de telefonar, de Arraial do Cabo, de ser magro, de ter olfato, de ser metade de algo, de acender o pavio.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

"Mudou de cara e cabelo"

Mudou o tom da voz.





(No 49 apinhado de gente, uma moça passa por mim com uma vassoura, outra com uma bacia).

Nada mudou, tudo parece continuar igual. Acordo meio tonto, escovo dentes, tomo remédio, mudo de roupa e vou. A cantareira me aguarda cheia. Passo no Cláudio, converso com Raimundo e João, sinto saudade da Márcia. Chego na empresa, ligo a máquina, espero a máquina esquentar. Tomo café com pão e manteiga. Trabalho, trabalho, trabalho. Almoço geralmente em ótima companhia. Passo no Cláudio. Volto. Trabalho, trabalho, trabalho. Pego a cantareira lotada.

(No 49 apinhado de gente, nunca me senti tão cheio de vazios).

Nada mudou
Só mesmo o tom da voz.

domingo, 4 de outubro de 2009

Como la cigarra

"Tantas veces me mataron, tantas veces me morí,
sin embargo estoy aquí resucitando
Gracias doy a la desgracia y a la mano con puñal
porque me mató tan mal y seguí cantando

Cantando al sol como la cigarra
después de un año bajo la tierra
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra

Tantas veces me borraron, tantas desaparecí
a mi propio entierro fui solo y llorando
Hice un nudo en el pañuelo pero me olvidé después
que no era la única vez y seguí cantando

Tantas veces te mataron, tantas resucitarás
cuántas noches pasarás desesperando
Y a la hora del naufragio y la de la oscuridad
alguien te rescatará para ir cantando"

Pedro Aznar

Adeus Mercedes Sosa.
Ainda ontem, quando nem sabia que estava para morrer, sonhei mostrar à Laura seu Volver a los 17, mais seu do que de Violeta, mais meu do que de Laura, que ainda vai fazer 17. Foi naquela gravação do Geraes que aprendi a gostar de você e daí pra frente nunca mais deixei de ouvir. Fui a Buenos Aires e Santiago e não voltei sem seus discos. Através deles, pude chegar a Victor, Violeta, Athaualpa, Silvio, Pablo, Charly Garcia, Leon Gieco, Pedro Aznar e tantos que você, com sua voz limpa e seu canto forte, deu a honra de cantar.
Uma vez, o falecido Chico da Moto Discos da Rua Sete (hoje uma loja de 1,99), arranjou-me um álbum duplo seu de um show gravado ao vivo na Argentina comemorando sua volta do exílio. Quase furou no "três em um" National Panasonic, aqui nesse mesmo lugar. Adorava especialmente El Cosechero, um chamamé em que você duelava com o acordeon de Antonio Tarrago Rós, depois inexplicavelmente ceifado da edição em cd.
Os discos dedicados a Violeta e Athaualpa são referências básicas para quem deseja conhecer a obra desses compositores. Esse ano presenteou-me a mim e a seu público com dois ótimos discos de duetos, procurando novas nuances para suas próprias canções, fugindo da operação caça-níqueis das coletâneas.
Enquanto gira o mundo bizarro, vão se adiantando os meus heróis, de over dose ou cansaço Mande notícias do mundo de lá.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

"Só dói quando eu rio"


Passei os últimos finais de semana em Salvador, Búzios, Belém e BH. Nas voltas ao Rio, só não deixei de ver os jogos do Fluminense e os capítulos de True Blood. O resto ficou meio perdido.
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Sinto falta do cheiro do velho centro. Do pessoal dos sebos. De Raimundinho, do Cláudio, do João, do Maurício. Já disse aqui que detesto shoppings. Compro livros e discos nos sebos e na rede. Hoje fui ao Shopping Savassi aqui em BH pra matar o tempo. Achei uma loja de livros chamada Leitura. Pura perfumaria! Perguntei prum sujeito sobre discos independentes de Minas e ele prontamente respondeu: - Tem que procurar!!!! Como assim? Nem ousei perguntar sobre Sérgio Santos. Fiquei com medo dele nem saber quem é.
Sinto falta das conversas desinteressadas com Renatinha e do pessoal do almoço, a minha turma aqui do Rio. Já tem um almoço de quinta num camarão prometido há um mês e não sai.
Falta de parar um tempo maior no pardieiro pra ouvir música, ver um bom filme, descansar.
Já faz algumas sextas que não leio o Tárik no JB, alguns sábados que não leio o Prosa e Verso no Globo, sinto falta de tudo isso.
O Rio sempre me tratou muito bem. Tanto que cada vez mais, fui levando minha vida pra lá.
Hoje quando soube das olimpíadas de 2016, deu vontade de continuar vivo até lá, só pra ver o Rio desabrochar de novo.

Deja vu

Estou lendo "O dia que o rabino foi embora", Harry Kemelman. É meu primeiro Kemelman, recomendado avidamente pelo Maurício do AlFarabi. É desses policiais noir, com a diferença de que o detetive é um rabino. Lá pelas tantas, há uma reunião do Comitê de ritual para se escolher o novo rabino da cidade. O trecho que trancrevo abaixo é parte dessa reunião.
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"Al Bergson, presidente do conselho, bateu na mesa pedindo silêncio e disse:
-Muito bem, o espetáculo vai começar. Sugiro dispensarmos as formalidades de praxe e discutirmos apenas o assunto rabino. Alguma objeção?
- Não, vamos logo com isso!
- Claro, pra que perder tempo?
Várias outras exclamações parecidas mostravam que o conselho concordava calorosamente.
- Muito bem. O Comitê de Ritual examinou vinte e três candidatos, dos quais oito são recém-formados pelo Seminário. Alguns já tiveram um emprego temporário...
- Os outros já têm congregação fixa?
- Quer dizer que todos esses querem sair do emprego que têm? Ora, o que há de errado com eles? Ou o que há de errado com o emprego?
- Será que estamos oferecendo um salário mais alto que as outras congregações?, Perguntou o Dr Marcos.
- Como já expliquei quando esse assunto surgiu - disse Bergson - estamos na faixa mais baixa de salários do mercado. Na verdade, dois ou três candidatos teriam que aceitar um bom corte de salário para trabalhar aqui.
- Nesse caso, por que...
- Porque estamos apenas a 35 km de Boston, um dos grandes centros culturais do Mundo.
- Questão de ordem! Era Ira Scharz, que gostava de cumprir metodicamente os regulamentos.
Bergson deu um suspiro:
- Sim, Ira, qual é a questão de ordem?
- Parece que você vai apresentar o relatório do comitê na qualidade de presidente!
- E qual é o problema?
- Ora, é que apresentar um relatório do comitê é como propor uma moção. Portanto, acho que você deveria passar o martelo para o vice-presidente. Daí, depois que ele o autorizar oficialmente como porta-voz, você pode fazer seu relatório.
- Mas eu não tenho martelo - disse Bergson com um sorriso - Apenas bato na mesa com os nós dos dedos. Você quer que eu dê minha mão para o vice-presidente segurar e bater na mesa com ela enquanto eu faço o relatório?...
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Sem querer (ou propositadamente), Harry Kemelman fornece um modelo de reuniões incansáveis e rodopiantes, que discutem exaustivamente sem nenhuma objetividade manifestações intermináveis que nunca chegam a lugar algum.
Participei dessas reuniões por 10 anos. Hoje depois de quase cinco anos livre delas é que compreendo porque sofria tanto. Davam-me engulhos e tédio e eu nada podia fazer.
Os personagens de Kemelman são personagens caricatos de qualquer conselho: há aquele que argumenta contrariamente, mas não tem noção do que está falando, há aquele que não leu nada e faz perguntas imbecis, há aquele que tenta ser metódico no cumprimento dos rituais, enfim , há de tudo nesse meio.
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Também a turma de BH não me é estranha. Já fiz esse trabalho ano passado em Cuiabá (*). Dessa vez o cenário é o seguinte e eu mesmo o descrevo:
-Estamos a três módulos de terminar a pós graduação, insatisfeitos com o curso em geral, ninguém aguenta mais ficar quinta e sexta de 18 às 23 e sábabo de 8 às 20 e precisamos de alguém que nos faça sofrer menos!
Nesse cenário, o professor (que sou eu) chega com uma hora de atraso e encontra a turma pronta para jogar as pedras.
Ontem foi um dia daqueles! Saí do Rio depois de uma reunião de dia inteiro (não como aquela lá de cima, certamente mais objetiva!) já confuso de horários entroncados, de viajar e trabalhar nos últimos quatro finais de semana, de ficar longe demais das crianças, de saco cheio e uma hora de atraso pra falar (ontem) de cenário e ética médica................
É possível que eu consiga acalmar um pouco essa turma hoje e amanhã. Tudo é possível. É possível que mande à puta que o pariu essa britadeira que não para de trabalhar embaixo da minha janela aqui do Hotel Mercure em BH!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Semi-morto em Belo Horizonte

Cheguei ao final de um dia que começou às seis da manhã quando acordei e terminou agora. Encontrei uma turma bastante hostil aqui em BH. Somando ao meu cansaço, deu vontade de pedir pinico. Hoje teve atraso de tudo. atraso do vôo, atraso da chegada do incompreensível Aeroporto de Confins (acho que é mais vantajoso vir de carro pra BH), atraso demais!
Afogado num liquidificador de solidão, dor no pé e rinite aguda, ainda não sei o que será de mim aqui nesse Hotel Mercure duplo A.
Nem escrever consigo. Esse quadro do Angeli ilustra bem meu abismo.

Onde comer bem no Centro do Rio

O tempo tem mostrado que comer no Centro do Rio é tarefa cada vez mais complicada. Ando limitado aos restaurantes antigos que como há mais d...