Para ler ouvindo a valsa "Perto do coração", de Nelson Ayres
Amigo, ano passado nessa mesma data, estávamos passeando pelas ruas de Rosal.
Observávamos atentamente às montagens das barracas, a passagem de som, e conversávamos muito sobre nada. Procurávamos algum doce nas padarias ou nos bares da cidade.
Rosal era o único lugar que dava para apertar o botão de desligar. E como apertar esse botão é importante para quem trabalha tanto! Era também o único lugar para se deixar levar pela música e ficar até o último show, que varava a noite.
Da melhor música brasileira já feita. Era um encantamento porque pouco importava o Mundo lá fora, tudo que a gente fazia era aproveitar o máximo possível. Não existia câncer, não existia Donald Trump, pouco importava que o algodão do Seridó fosse o melhor do Mundo*
E não faltou nem uma namorada fake para enfeitar nossa noite. Uma namorada fake dos tempos de criança, que conservou o viço da meninice. Uma família inteira que migra para Rosal durante o festival, que nos acolheu carinhosamente.
E quando Silvério Pontes irrompeu do palco para a platéia tocando o Carinhoso, toda a cidade parecia um uníssono alumbrado com o poder transformador da canção. O choro mais manjado parecia inédito e São Pixinguinha estava ali sentado num canto: Meu coração, não sei porquê......
E quando os sanfoneiros desfilaram pela rua da cidade parecíamos crianças acompanhando aquele cortejo.
E comíamos pastelões e podrões e tudo era festa, tudo era farra honesta. Abstêmios, ficávamos embriagados por poesia e música sem qualquer cerimônia. E comprávamos cafés premiados para presentear os amigos. E alternávamos pelos dois palcos para assistir na íntegra, aos shows de choro e sanfona. Éramos felizes ali.
Esse ano não tenho mais Rosal. Um isolamento imprevisto tomou conta dos meus dias. Resta esperar que outros setembros cheguem, e que a gente possa ser feliz ali outra vez.
* Bandeira, Não sei dançar.
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