quarta-feira, 27 de abril de 2016

Alaide

Entro no Arlequim numa dessas poucas oportunidades em que passo próximo à Praça XV. O Arlequim é longe e perto de onde trabalho, vai entender! Mas é fácil entender o quanto me é caro. É ainda uma loja de discos do século passado, que se preocupa com trazer para nós um acervo que não se encontra em nenhum outro lugar no Rio. É meio assim como a Passa Discos em Recife, a Tango em Buenos Aires, foi a Mauro Discos em São Paulo e, ainda que mega, a Cultura aqui do Conjunto Nacional.
Entro no Arlequim e logo me chama atenção esse "Porcelana", de Gonzaga Leal e Alaide Costa. Imagino logo que vai ser alguma coisa de sublime juntar o ótimo gosto de Gonzaga (um excepcional pescador de pérolas) com a delicadeza do canto de Alaíde, mas quando chego e ouço, é muito mais que isso.
Conheci mesmo Alaíde, do disco "Amiga de verdade". Depois corri atrás dos mais antigos, mas o que bateu primeiro foi esse. Dou uma googlada  e descubro que o disco é de 1988. Deve ser por aí mesmo. Foi nele que ouvi a primeira e definitiva versão de Estrada do sertão, só pra falar de uma das interpretações antológicas. 
Assisti a apresentação do disco no Teatro da UFF e depois vi shows de Alaide com João Carlos Assis Brasil. A delicadeza de sua voz pode ser comparada à tranquilidade de uma noite clara e bem dormida, alguma coisa que salva. Já fui salvo por Alaide algumas vezes.
Mas Porcelana transcende a tudo isso. 
Do mais longínquo Portugal, veio o Menino D'oiro, de Zeca Afonso. Uma canção de embalar que tinha passado desapercebida do disco "Com as tamanqninhas do Zeca"do Copple Cofee (por mim, não por Gonzaga, acredito). É de chorar de tão bonito.
Também de Portugal, um Meu amor abre a janela, já gravado por Jussara Silveira. Alaíde dá outro tom para a canção, que agrega sentimentalidade.
Canções esquecidas de discos de Capiba, Alceu, Moreno e Socorro Lira completam o repertório irrepreensível.
Fui salvo outra vez. E cada vez que ouço, penso que estou salvo.

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