“Dou o tiro
de partida, terça-feira
Compro os tênis de corrida, quarta-feira
Vai-me saber pela vida, quinta-feira
É pena,
sexta não dá
Sábado à noite há cachupa
E domingo, pois, lá está
A família toda junta
Feijoada, Deus me acuda
Vou correr, vou, na segunda”
A frenética senhora que comanda o aplicativo
de radares não parava de gritar: lombada na viá!! Era assim toda vez que
aparecia um quebra-molas na longa estrada que liga Miracema ao Rio de Janeiro.
Minha vida anda meio como que atravessada por
aqueles gritos: a toda hora aparece uma pedra, uma lombada, uma interrupção, um
cansaço de tudo.
Da festa de Miracema, não ousei mais do que a
Barraca da Apae pra comprar palha italiana e a do Bode pra comer carne. Pouco
fiquei com minhas filhas, não fui ao show do Diogo Nogueira, conversei pouco
com meus amigos, dei pouca atenção à família. E, pior de tudo, dormi muito mal.
No fundo, eu acho que ninguém me aguenta
mais. E ontem, para desespero da minha inutilidade, apesar de estar com o
ingresso garantido, não fui assistir à goleada histórica do Fluminense sobre o
River Plate. Que lástima! Meu filho fez a festa por mim.
Eu fiquei de casa, nervoso no primeiro tempo,
feliz no segundo, mas longe do calor da torcida. Ultimamente, quando chegam as
17h, eu já me sinto pesado, sem vontade de fazer nada. Ninguém entende muito
esse desânimo crônico, as pessoas querem o movimento, a vida precisa ser
vivida. Mas estou quase dispneico e dou mais valor a uma noite de sono do que
qualquer outra coisa.
Tive que interromper as aulas de violão por
causa de trabalho e obviamente, do esgotamento. Até uns três meses atrás, era rotina
chegar em casa e tocar um pouco. Hoje mal pego no violão. Sinto falta dele.
Os olhos vazados, a perna ferida, os dentes
escassos, uma vazio de doer muito. Velhice, trabalho intenso, a cascata
degenerativa dos anos pesando no coração e na existência, cada vez mais inútil.