"Sei que me despeço antes do desfecho, antes que a dor ou o dia desfira.
A noite afinal dispara. Vou no vácuo, no intervalo harmônico entre dor e nada, acuado em corpo único, vivendo do próprio fígado"sexta-feira, 27 de setembro de 2024
Ao que vai chegar
quinta-feira, 26 de setembro de 2024
O homem mulher
"Esse menino crescido
Que tem o peito ferido
Ainda vivo, não morreu"
Torquato Neto
Foi no início dos anos 80, quando eu queria saber bem mais do que meus vinte e poucos anos, que comecei a ler os autores visceralistas. Visceralista é um termo cunhado por Roberto Bolaño no livro Detetives Selvagens, para nominar os poetas que escreviam com as vísceras. Acabei estendendo o conceito para outros escritores.
Esses livros vieram pelas mãos de um amigo mineiro que morava comigo e tinha uma disciplina rígida para leitura. Tentei imitá-lo na época, mas sou muito desorganizado e acabo por abandonar livros pela metade ou deixá-los no plástico para quem sabe um dia. Não importa, desarrumado ou não, é bom saber que eles estão lá.
Esses livros em geral eram publicados pela Editora Brasiliense, em geral eram traduzidos por Paulo Leminski ou do próprio Leminski, cujos poemas já eram extraordinários
Mas tudo começou com Charles Bukowski. Seus romances semi autorais, de palavreado xulo e ao mesmo tempo sublime, fizeram a cabeça do menino acostumado com Machado, Vinícius, Cecília, Cabral, Pessoa e Bandeira. Foi nessa época que eu li, de um átimo, Misto quente, Factotum, Cartas na rua e Mulheres. Com o tempo li muitos outros, mas nunca tive o mesmo entusiasmo dos quatro primeiros.
Li os beatniks Jack Kerouac, Allen Ginsberg e Willian Burrougs. Gostei mais do terceiro do que dos dois, mas nenhum me entusiasmou tanto quanto Bukowski.
Depois vieram John Fante e Salinger. O apanhador no campo de centeio estreitou a minha geração com a de Salinger, vi muitas semelhanças ali. Pergunte ao pó, de Fante, também já foi lido e relido. Embora não tenha tempo, adoro reler meus livros, rever filmes e séries. Um livro nunca é lido da mesma maneira duas vezes.
Foram esses autores que me levaram aos brasileiros Sérgio Santanna, Ruben Fonseca, Carlos Heitor Cony. Para as mais íntimas, adoro ler o homem mulher, de Sérgio Santana, título desse texto.
E (quem sabe influenciado pelo encanto de tudo que li), estou lendo Dorrit Harazim, o instante certo. Nossa melhor cronista fala sobre as fotos marcantes da humanidade, como essa aí de cima.
quarta-feira, 25 de setembro de 2024
Camarão em Muriaé
Embarco para São Paulo sabendo que depois de amanhã estarei de volta sofrendo mais com a Ponte Rio Niterói do que com a Ponte Aérea. Nos dias de hoje, mesmo com a espera, o checkin e o embarque, fica mais rápido ir a São Paulo do que ir a Niterói. Principalmente depois das 18.
Embarco para a terceira viagem depois de duas que representaram duros contrastes: a primeira (Rosal), muito leve; a segunda (Angra) muito pesada Lembro que chegamos a Rosal e fomos passear pela rua a procura de predicados da culinária local. Em Angra, fui direto para o quarto e só saí dali para o evento e para comer. Foram dois finais de semana opostos entre si.
Em Rosal a calmaria dos amigos, a comunhão com a boa música, a noite virada e mesmo assim, bem dormida. Em Angra, trabalho e a tentativa de me harmonizar com meus colegas..
Depois de anos indo a SP toda semana (antes da pandemia) e achar inclusive que um dia ficaria por lá, retorno agora com uma ida mensal e pouco necessária. Desenvolvemos, eu e as meninas que trabalham comigo, uma parceria de trabalho robusta e afetiva, que torna meio sem sentido essa ida. .
Ao meu lado no vôo, a moça lê A arte de ligar o foda-se. Lembrei da minha única leitora, que adora livros de auto ajuda.
Em SP, além de trabalho, tem o pastel de nata da Quinta do Marquês, tem a Pop's Discos, tem a amizade da Verinha e tem o frio. Com o passar dos anos, virei um homem que sente muito frio. Atrapalhou muito o fato de o quarto escolhido pelo Hotel Central Park não tinha ar quente. Passei frio na primeira noite, mas na segunda me colocaram num quarto quentinho.
Não importa se barca, uber ou avião, tenho ouvido uma playlist que começa com Dori Caymmi - Dos Navegantes, A moça da taça, Rio Amazonas. Depois, Vital Farias, Era casa, era jardim e Caso você case, depois Nana, Confissão. Não sei de onde vieram as canções. É como se fosse um aleatório consciente Quando estou feliz, coloco Itamar e as Orquideas para alegrar meus ouvidos.
Não fui ao Rock in Rio ver os sertanejos (??), acho que apelaram, e sonho que na próxima semana, consiga ir com meus amigos a Muriaé, comer camarão e torresmo de traíra. Amo as coisas simples.
terça-feira, 10 de setembro de 2024
Não sei dançar
" Uns tomam éter, outros cocaína
Eu já tomei tristeza, hoje eu tomo alegria
Tenho todos os motivos, menos um de ser triste
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria..."
Manuel Bandeira
Eu sei, eu sei, eu vi Antonio Nóbrega esse ano (que honra!) também vi Caetano e Bethânia. Vi artistas que provavelmete não verei mais. Mas nenhum desses me impedem de reconhecer que o Festival de Sanfona e Chorinho de Rosal foi o acontecimento musical do ano.
Rosal é uma cidadezinha na ponta norte do estado, um finzinho de Mundo, onde reina a paz e a música. Não há brigas, nem roubos, você pode deixar seu carro na rua em qualquer lugar permitido. Não há pousadas, a gente costuma ficar nas casas dos que lá habitam e alugam seus quartos para a festa. A culinária não é lá essas coisas. Nada disso tira o charme e o encanto do festival.
As atrações, de altíssimo nível, se revezam até meia noite e eu não me imponho limites: de maneira corrente, fico até o último show. Tento dormir o que posso e no sábado já estou pronto para a sanfonada. A sanfonada é um evento à parte. Velhos sanfoneiros tocam e dançam pelas ruas de Rosal. Não há como não lembrar do Mário e da Marila, de como eles estariam felizes de estar aqui.
São dois dias para reencontrar e abraçar velhos amigos queridos que não vemos nunca a não ser em Rosal. E de estreitar mais ainda a convivência com os que a gente já considera irmãos. Esse ano, por um contratempo, as meninas não vieram. Pena!
Há espaço inclusive para os que não gostam de choro, que ficam nos arredores do palco bebendo e conversando. Não é, evidente, o meu caso. Eu procuro, com respeito e admiração acompanhar cada show com o maior envolvimento possível. E filmo e fotografo como se fosse um repórter.
Nesse mundo perverso em que você nunca sai de casa sem saber se volta bem, Rosal é um oásis de tranquilidade, boa música e uma comunhão de amigos que pouco se vê nos dias de hoje.
O amor acaba
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos p...
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"O pauloleminski é um cachorro louco que deve ser morto a pau e pedra a fogo a pique senão é bem capaz o filhadaputa de fazer chover em...
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Depois desse hiato de muitos dias, tento retirar a trava e voltar a escrever. Ficar travado, em geral, é como respondo ao luto. Não choro, n...