quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Clarisse, Aldir e Cristóvão

Acredito que tenha sido um dos poucos privilegiados a ouvir Novos traços, o disco lançado por Clarisse Grova sobre a obra de Aldir Blanc e Cristóvão Bastos em 1997. 
Até onde eu saiba, não tocou no rádio, não foi alardeado pela crítica, e parece pertencer a um seleto grupo de "others" como eu. 
Enquanto nossas rádios, com honrosas exceções, se limitam a tocar a música fácil, ouvir Novos Traços se tornou uma bênção nos útimos anos.
O disco começa com o enredo Cravo e Ferradura, com uma batida crescente que vai tornando cada vez mais vívida a canção: "um balbucio , um mugido, um som de tragédia e circo, um som de linha de pesca, som de torno e maçarico", coisa que só a letra do Aldir consegue expressar. 
A segunda música é A gente chega lá. Me agradam muito os versos: "Samba, meu amigo verdadeiro, abraça o Baden e o Paulo César Pinheiro, diz a eles que despedaçado, é que eu me sinto inteiro pra recomeçar". 
"O avô em feira,estuprou robô cavalo, sangrou macho na peixeira, pôs a honra rente ao ralo", versos do baião Um avô pefelino, dedicado a um velho senador baiano. 
Gosto especialmente de Não tava pra peixe, e cheguei a aprender suas notas, mas a preguiça mental acabou levando da minha memória fóssil. 
A verdade é que 27 anos depois, esse disco continua fresco, surpreendente e emociona sempre que é tirado da gaveta. 

Nesses dias assisti a duas peças que foram alumbramentos para mim, tal qual Novos traços: a peça "Não entrego não", com Othon Bastos, 91 anos, irrepreensível e o filme "Ainda estou aqui", com Fernanda Torres. 

Uma coisa leva a outra e a peça acabou me trazendo de volta o disco Georgete Fadel canta Gianfrancesco Guarnieri. Não paro de ouvir, mas aí já será motivo para outra conversa.

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