segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A moça da Cantareira

Num galho de goiabeira
Banquei o Tarzan pra você.
Foi num chá-de-panela
Ou na festa junina:
O garoto magrela caiu,
Minha sina cair
Ao ver você…

Eu levei tombo de bonde,
No baile me esparramei,
Das escadas da Penha
Ao laguinho da Praça
Até hoje acham graça
Dos vexames que eu passei.
Numa seresta, na Vila,
A valsa eu te dediquei
E apesar do luar,
Que subia do morro,
Tropecei no cachorro e caí,
Todo mundo vaiou, menos você…

Em Paquetá, tão discreta,
Você fingiu não notar
Quando fiquei sem freio
E a cruel bicicleta
Pegou uma reta e me atirou do quebra-mar…
Só uma vez não caí:
Na terça de Carnaval…
Vesti o velho pierrô de cetim
Pra tentar ver você no Boulevard.
Sei que riam as máscaras só de mim
Na confusão ao redor
E num cordão, bailarina de organza e filó,
Você não estava só.
Eu fiquei firme e sorri,
Você não retribuiu:
Um arlequim te envolvia
Em seu lenço de lança
E você pedia mais…
Sei que riam as máscaras só de mim
Nos guizos da insensatez:
Ao ficar firme de amor,
Ora vejam vocês,
Meu Deus, caí de vez.
Aldir Blanc
Se ficar melhor, estraga, assim têm sido as segundas.

O que falta pra mim é cruzar com aquela moça de novo. Dessa vez, eu não deixo ela ir não.

Quando vim prá cá com 17, olhou-me com tal ternura, que fiquei ali parado olhando fixo como se fosse mármore. Na faculdade, ensinou-me toda a profundidade do amor maduro.

Segui seus passos na Santa Casa no meio de uma sessão clínica, quando vi, sumiu. Depois no consultório em Miracema, tentou suicídio com Lexotan, tratei dela. Mal dei alta e já foi sumindo na poeira. Apaixonei-me pela moça do centro cirúrgico certo de que era ela. Um dia, peguei a moça na estrada de Miracema, e quando pareceu que dessa vez, eu firmava, evaporou-se de vez.

Minha vida tem sido mesmo acreditar que ela ainda existe, que está por aí. Então eu vou olhando pela Cantareira a multidão apressada e, tem hora, penso vê-la.

Mas logo some no meio do povo, quem sabe terça, quem sabe outubro, quem sabe quando?

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