sábado, 13 de dezembro de 2008

Pescadora de pérola

Quando vim pra Miracema em 1987, no primeiro plantão que fiz na Casa de Saúde São Sebastião, atendi a um senhor que acabara de sofrer um acidente vascular cerebral. O nome, posso dizer, que depois de paciente, virou amigo, então vai aqui o nome do amigo: Anderson Alvim. Seu Anderson, como sempre o chamei, foi acompanhado por mim como paciente e amigo por muitos anos de clínica médica e amizade. Recuperou-se muito bem , a custa de um esforço pessoal digno dos grandes homens que dão valor à vida.
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Além da medicina, conversávamos muito sobre música e literatura. Eu andava ouvindo muito os velhos cantores e tinha uma afeição especial por Carlos Galhardo. É fácil gostar de Galhardo com aquele vozeirão sentimental. Difícil foi aprender a gostar de Orlando Silva. Ouvia o Carinhoso milhares de vezes e não conseguia gostar tanto como gostava de Francisco Alves ou Carlos Galhardo. Até que conheci uma canção chamada Meu Romance, do carioca de Vila Isabel J. Cascata. Orlando despertou para mim e dali pra frente nunca mais deixei de ouvi-lo. Posso dizer com toda tranquilidade que Orlando Silva foi o maior dos nossos cantores. Mesmo no final, quando sua voz foi consumida pelo vício em morfina, cantava bem. Seu Anderson era fascinado por Meu Romance e por Orlando.
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Mais tarde, quando Marcos Sacramento lançou A Modernidade da Tradição, belíssimo cd de uma voz também privilegiada, vi que tinha gravado Meu Romance, mas a gravação está muito longe da interpretação emocionada de Orlando.
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É sabido que Vinícius de Moraes dizia que São Paulo é o túmulo do samba. O tom de deboche hoje ganha contornos de grave injustiça, pois que grandes composições de samba têm saído de São Paulo, através de Eduardo Gudin, Celso Viáfora, Rubens Nogueira, e ainda Vanzolini, Adoniran, etc. Fabiana Cozza, que atualmente canta samba como ninguém, também é de São Paulo.
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Cristina Buarque tem conseguido tirar leite do túmulo. Com sua voz tímida, porém correta, Cristina tem feito os melhores discos de samba dos últimos tempos. Sem contar o carioca Samba de Fato e Cristina Buarque cantam Mauro Duarte, Cristina gravou com o Terreiro Grande, e agora um disco maravilhoso com a Banda Glória, ambos de São Paulo. Cristina vai desfilando seu repertório de pesquisadora incansável, outra atividade que exerce em primeira grandeza. E aí a gente ouve Conversa Fiada, Não me olhes assim, Salve o Américo, Chinelo velho, e muitos outros maxixes e sambas de sair pulando de satisfeito e orgulhoso da nossa música. E uma gravação de Meu Romance, de deixar Orlando satisfeito lá em cima.

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