quinta-feira, 9 de abril de 2009

Os olhos de Sylvio

Um ano da morte de Sylvio Bailarina e eu ainda sinto como se ele estivesse por perto, a dar seus muchochos. Almoçávamos invariavelmente num pé sujo da Rua da Quitanda do lado de um puteiro chique do centro. Já deu pra perceber que o Centro do Rio é cheio de puteiro chique e pé sujo. Syvio adorava um bife acebolado com batata frita que serviam lá. Nessa época, já andava doente. Evitava falar da sua saúde. Nunca soube de nada por ele. Nem do câncer, nem das complicações, nem dos últimos tempos.
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Poucas vezes, o vi depressivo. Ao contrário de mim, que vivia a derramar lágrimas naqueles tempos difíceis. Sylvio me ouvia atento. Muitas vezes parecia ter pena de mim.
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Eu ohava dentro dos olhos de Sylvio. Olhos de muitas vidas vividas. Sylvio parecia só saber manifestar suas tristezas pelos olhos. Seus olhos eram densos e pesados. Muitas vezes pareciam marejar. Sylvio não fazia questão de se esconder pelos olhos. Toda sua vaidade se limitava aos gestos e as palavras.
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Sei que o amigo está por aqui. Não é o espírito vivo dos religiosos que acreditam que os espíritos vagam. É tudo que ficou de um bom amigo.

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