quarta-feira, 24 de junho de 2009

Bibliólicos anônimos

Paulo Roberto Pires já aportuguesou os bookaholics , sujeitos aficcionados em leitura, de bibliólicos e propõe em seu blog, a criação dos bibliólicos anônimos. O conceito de bookaholism está muito bem explorado pelo Paulo.

Cada louco com seu cacoete. "Uns tomam éter, outros tomam cocaína, eu tomo alegria", como diria Bandeira. Tenho amigos que gostam de brigas de galo, outros gostam dos cavalos, outros de navegação, outros de sites de putaria e por aí vai. Eu gosto dos livros e dos discos. Das características principais dos bibliólicos, acabei acidentalmente me enquadrando em todas. Se não vejamos:

1. O bibliólico jamais sai de casa sem ter alguma coisa para ler. Serve revista, jornal ou bula de remédio, mas o bom mesmo é um livrinho – que ajuda a passar o tempo em metrô, consultório ou fila, além, é claro, de ser ótima proteção contra chatos interativos. Meu ponto de leitura é a cantareira e aí vale qualquer leitura dessas já citadas. Espero para ir sentado só pelo prazer de abrir a pasta e achar alguma coisa pra ler.
2. O bibliólico não consegue passar por livraria ou sebo sem dar uma “olhadinha”. E, raramente, dá uma olhadinha sem dar uma compradinha. Na verdade, mais que uma olhadinha, acabei amigo do pessoal dos sebos. Além do pessoal que trabalho, é com quem convivo aqui no Centro do Rio. Euclides já disse que eu nunca volto bem pra casa se não comprar um livro. É verdade!
3. O bibliólico sofre terríveis crises de privação. Muda caminho e chega atrasado em reunião para comprar aquele livro fundamental. Que às vezes será lido dali a dois anos. Ou continuará fechado por outros dois. Já tenho uma programação definida de leitura para os próximos 10 anos. Isso realmente é uma cachaça! Minha biblioteca está pedindo socorro pro espaço.
4. O bibliólico cheira. Muito. E, proustianamente, tem lembranças associadas aos aromas dos livros. O livro francês é o do bom: quando novinho, é praticamente uma viagem a Paris. É verdade, mas não é uma prática minha ficar cheirando livro não. Um cheirinho de vez em quando vá lá. Tem livro que tem cheiro de Paraty na Festa Literária.
5. O bibliólico é um ótimo negociante. Não pode ver uma oferta. Não é a toa que ganhei o apelido de Dr Chorão aqui nos sebos da Rosário.
6. O bibliólico tem compulsão por obras completas. Quando cisma com um autor, sai de baixo: vai comprando tudo o que pode, mesmo que dele só tenha lido um livrinho – do qual gostou muito. Verdade pura! Tive compulsão por Fonseca, Cony, Drummond, Gullar, e em menino, lembro-me de ter lido a obra completa do Leon Eliachar do Homem ao Zero até A mulher em flagrante. Adorava!
7. O bibliólico causa sérios transtornos à família. Ninguém em casa aguenta mais as sacolinhas de plástico e as caixas de papelão das livrarias virtuais. Por isso, ele costuma se livrar das primeiras andando pela rua e mandar entregar as últimas no trabalho. Bom, eu moro sozinho, mas também já implicaram muito comigo por causa das sacolinhas.
8. O bibliólico é, em geral, um sujeito pacato. Mas, cuidado, pode ser muito agressivo quando alguém chega em sua casa e, diante das pilhas e mais pilhas de livros, lança a pérfida dúvida: “você já leu isso tudo?” Ora bolas, isso é pergunta que se faça? Outra coisa muito comum.no meu dia a dia E esses disquinhos aqui, no plástico ainda????

Acrescento ainda alguns mandamentos por minha conta:

9. O bibliólico tem lugares estratégicos em casa para deixar livros: o bidê, o criado, a mesa do computador, tudo para que o conforto da leitura esteja a mão a qualquer tempo.
10. O bibliólico dificilmente lê um único livro. Anda sempre às tontas com dois ou três, dos quais um sempre acaba prejudicado.
11. O bibliólico esquece com frequência dos livros que lê. E daquele trechinho imperdível! Ultimamente, o blog tem me ajudado a não esquecer.
12. Para o bibliólico, o livro é uma espécie de previdência privada. Um dia ele ainda para para ler aquilo tudo!!!

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