sexta-feira, 16 de abril de 2010

A fé que S. acredita que eu tenho

Hoje botei o Itunes no aleatório e num gesto místico esquisito, ele me mandou Folia De Reis, a canção de Arnaud Rodrigues gravada no primeiro Baiano e os Novos Caetanos. Quando menino, esse disco era ouvido por mim repetidas vezes, na casa da minha Tia Inês em Niterói. Há pouco tempo, meu tio Zé completou 70 e Tia Inês ligou pra me convidar. Óbvio, não deu. Se tivesse dado, também não daria, porque eu vivo arranjando um jeito de não ir a lugar nenhum.
Fato é que, não sei se o momento complexo, o aniversário do Tio Zé (uma pessoa muito cara pra mim) ou a morte de Arnaud Rodrigues, ou tudo ao mesmo tempo, voltei a música umas cinco vezes e às vezes chorava num verso ou outro.
É uma música comum, quase banal, mas desperta em mim o menino que fui, o Deus que não acredito, alguns resquícios.
Outras canções têm o mesmo efeito carismático.
Paixão e fé, do Fernando Brandt é uma delas. Lembra-me das procissões, do sino da igreja, das meninas branquinhas em oratória, claro que um dos principais motivos de ir à procissão era ver as meninas branquinhas em oratória. Dia desses, vi passar uma procissão bem diferente do meu tempo. Um conjunto de guitarra, baixo e bateria vociferava uma canção absurda, de fazer Paixão e fé balançar. Da minha janela, não dava pra ver as meninas branquinhas, a música claudicava ruim, mas a cobra arrastando pelo chão seguia seu fluxo.
Outra que me comove bastante é a Medalha de São Jorge, do Aldir e do Moacir Luz. Cantada por Bethânia ou pelo próprio Moacir, é uma canção de fazer qualquer ateu pensar melhor.
Gosto muito também da Cantiga do estradar do Elomar. Essa, uma canção sofrida, quase um ato de contrição, tem uma história cujo desfecho é tão devastador, que é impossível não acreditar depois de ouvir.
O Salmo dio Chico e Edu, cantado em duo por Zé Renato e Cláudio Nucci, uma canção do Roberto chamada Eu quero apenas, ou Se eu quiser falar com Deus do Gil, todas essas canções vivem me colocando na condição de ateu comovido.

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