segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ilha deserta




Bela crônica de Felipe Hirsch no Globo de hoje, comentando sobre o programa "Desert island discs" transmitido pela BBC Radio 4. Toda semana um convidado escolhe oito gravações que levaria para uma ilha deserta. Vim pensando nisso na cantareira. Discos, livros e canções para uma ilha deserta dão um compêndio.
Sobre discos, não sei os outro sete, mas um que eu levaria com toda certeza é o Mudança dos ventos da Nana. Esse disco, lançado originalmente em 1980, quando eu tinha 19, foi um divisor de águas na minha vida musical. Mais que isso, a partir dele, foi que eu percebi que podia encantar as pessoas através da música. Até então, eu era apenas um sujeito introspecto, fechado. Dali pra frente, gravar uma fita cassete para dar de presente a uma moça virou mania. E mote para grandes paixões. A primeira delas foi decantada durante dois anos pelo Mudança dos ventos.
Fui apresentado oficialmente ao canto de Nana por uma amigo em Paraíso do Tobias, distrito de Miracema, perto de Odete Lima. Até então a cantora era uma chata pouco conhecida pra mim. Esse amigo me deu uma fita cassete com o Mudança dos ventos. Comecei logo a ouvir com mais cuidado. Pouco a pouco, o disco foi tomando um vulto e de repente, eu só sabia ouvir aquelas músicas. Até hoje sei de cor a ordem dos lados.
A começar pela própria canção, que dá nome e abre o disco. Um belíssimo tema de amor, que Ivan deve ter feito pra Lucinha Lins, que também gravou lindamente. Mas o canto de Nana nessa música é uma história a parte.
A segunda é não menos do que a Canção da manhã feliz, de Haroldo Barbosa e Luiz Reis. Um dia desses mesmo, cantarolava essa canção pra S.. Não conhecia a versão da Eliseth e foi bom, porque Nana tornou a canção imaculada pra mim.
A terceira é a melhor gravação de Meu bem querer já feita. Nana costuma estraçalhar quando canta Djavan, já tinha feito isso (embora eu ainda não conhecesse) em Dupla traição.
Seguem-se Pérola, Meu silêncio e Rama de nuvens completando o lado A mais ouvido na minha vida.
No lado B, vale destacar pelo menos, três canções belíssimas: De volta ao começo do Gonzaguinha, Mistérios de Joyce e Maurício Maestro e Essas tardes assim, de Fernando Oliveira e Rosa Passos, então somente uma compositora.
Mudança dos ventos mora comigo e vai morar sempre em qualquer ilha deserta ou não. E deveria morar no coração de cada pessoa que viveu intensamente os anos 80.
No mais, termino a crônica com o último parágrafo de Felipe:
"Para despertar paixões. Esqueça um pouco do que você não gosta ou pensa não gostar. Fale sobre o que é capaz de tirar seus pés do chão. Do que é capaz de te fazer feliz, mesmo numa ilha deserta. "

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