segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Histórias de amor em tempos de desamor


No teu Sol, me acabo
No teu ar, me esfrio,
No teu mar, me solto.
Areia quente e branquinha.

Arraial do Cabo
Vou voltar pro Rio
Mas depois eu volto
Pra essa casinha

Sidney Miller, Casinha do Arraial.

Hoje topei com alguns conhecidos meus
Me dão bom-dia, cheios de carinho
Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus

Eles têm pena de eu viver sozinho

Hoje a cidade acordou toda em contramão
Homens com raiva, buzinas, sirenes, estardalhaço
De volta a casa, na rua recolhi um cão

Que de hora em hora me arranca um pedaço

Hoje pensei em ter religião
De alguma ovelha, talvez, fazer sacrifício
Por uma estátua ter adoração

Amar uma mulher sem orifício

Hoje afinal conheci o amor
E era o amor uma obscura trama
Não bato nela nem com uma flor

Mas se ela chora, desejo me inflama

Hoje o inimigo veio me espreitar
Armou tocaia lá na curva do rio
Trouxe um porrete a mó de me quebrar

Mas eu não quebro porque sou macio, viu.

Chico Buarque, Querido Diário

Pra quê escrever, se tudo já está escrito?

Meia idade é uma merda. É um tempo em que as responsabilidades se multiplicam em riscos, filhos, pais, depressão e fama. Costumo me impor uma rotina militar para tocar esse barco. Ainda assim ando disperso com a saúde, desatento com os problemas, em falta com os amigos.
Nesse final de semana, resolvi quebrar minha militar rotina e fui pro Arraial do Cabo. Não baixava lá desde julho do ano passado. Uma motivação extra, a necessidade de ouvir o barulho do mar e dividir a rede da varanda, alguma coisa que parecia estar escrita há séculos (os escafandristas ainda tentarão decifrar o enigma!!). Fui para o Arraial em ótima companhia.
Cheguei lá comprei uns petiscos, meia dúzia de cerveja, tirei a viola do saco e ficamos ali lendo Bandeira e Sérgio Santanna um pro outro, ouvindo Bonga e Tom Waits. Pequenas gentilezas inimagináveis nesses tempos duros,
O Sol também resolveu ser gentil e se abriu todo pra gente no sábado como se nos homenageasse. A Prainha quase deserta era feitio de oração.
Mas aí baixou a pomba gira da meia idade e tive que pesar, além dessas iguarias relatadas, um resfriado seco, uma preocupação com os filhos, uma cegueira noturna para dirigir.
Pouco importa! Meu fim de semana foi janela aberta e brisa pra quem só tem visto o beco nos últimos tempos.
...................................
William Macy e Emmy Rossum dão um banho de atuação em Shameless, uma série que peguei por acaso e não desgrudo mais dela. A vida real, sem meias palavras.
E cada vez gosto mais de Querido diário, o sucesso rejeitado do disco novo do Chico.


Nenhum comentário:

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...