segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Olhos do tempo

"Ao longe sobre um porto cheio
de casas sem calefação
em meio às chaminés de navio
de um telhado mastreado de varais
uma mulher hasteia velas
sobre o vento
expondo seus lençóis matinais
com pregadores de madeira
Oh mamífero adorável
seus seios seminus
arrojam sombras retesadas
quando ela se estica
para pendurar de alma lavada
seu último pecado
mas umidamente sensual
ele se enrola nela
agarrado à sua pele
Capturada assim de braços
erguidos
ela atira a cabeça para trás
numa gargalhada muda
e num gesto espontâneo
espalha então cabelo dourado
enquanto nas inatingíveis paisagens marinhas
entre lonas brancas e enfunadas
sobressaem radiantes os barcos a vapor
para o outro mundo"

Lawrene Ferlinghetti

Uma trânsito infernal na ida, um samba na Rua da Capivara, mais uma derrota do Fluminense, alguns episódios de Shameless, uma conversa franca, um aniversário, uma rinite que não me larga, um baixa de imunidade, muitas canções dispersas, poemas de Lawrence Ferlinghetti, um resto de frio em Miracema, o Sol voltando a queimar, meu fim de semana não trouxe mais do que esses lapsos bons e ruins.
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Hoje não foi muito diferente. Tinha tanta gente e tão pouco ônibus que resolvi voltar a pé pra casa. Subi o Morro São Sebastião congestionado de gripe, ouvindo a ótima trilha do filme Noel, que tinha desprezado inicialmente e agora botei pra rodar no Itreco. Também rodando em ótimos ouvidos, o cd da sambista pernambucana, Karina Spinelli, bela mostra de como é possível fugir da mesmice e reinventar o bom e velho samba. Mas o campeão de ouvidos dessa semana foi Olhos do tempo, de Rafael Altério e Cristina Saraiva, do disco Cristina Saraiva por Manuella Cavalaro. Três recomendações finas para meus três amados leitores.

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