sábado, 31 de dezembro de 2011

Cinco livros de 2011


"Voltou. Não disse nada.

Mas estava claro que teve algum desgosto.

Deitou-se vestido.

Cobriu a cabeça com o cobertor.

Encolheu as pernas.

Tem uns quarenta anos, mas não agora.

Existe --mas só como na barriga da mãe

na escuridão protetora, debaixo de sete peles.

Amanhã fará uma palestra sobre a homeostase

na cosmonáutica metagaláctica.

Por ora dorme, todo enroscado."

Wislawa Szymborska


"O tem fogo (?) saiu meio esquisito. Nem parecia que eu tinha estudado três anos de mecânica celeste, dois de escultura em metal, e tinha sido, podem perguntar, um jogador pra lá de razoável na minha equipe.
Não, balido, baldio, urro estrangulado, você parecia um tem fogo qualquer dito por um corretor de qualquer uma dessas coisas que precisam de correção, a vida emocional dos cangurus, as problemáticas trajetórias de Urano, os particípios passados dos verbos de segunda conjugação."
Paulo Leminski
........................................................
Lento, disperso, sem um ritmo pré estabelecido como há muito já tive, voltei a ler em 2012. Agora mesmo estou me deleitando com Agora é que são elas, de Paulo Leminski, um suprarromance. Voltei a Leminski instigado por Luisa. Não morre nunca, de tão extraordinários que eram seus escritos.

Poemas, Wislawa Szymborska - quase me atirei da ponte aérea número 1, de tão embevecido que fiquei com os poemas da moça. A perfeita tradução de Regina Przybycien, dá ao livro uma sensação de que foi escrito na nossa língua e para nós.

O remorso de Baltazar Serapião, walter hugo mãe - quando saiu a lista da FLIP. fiquei curioso com o autor que não usa maiúsculas, escreve num português medieval e e encanta com a história de uma paixão cortante e mutilada.

O metro nenhum, Francisco Alvim - quase me atirei da ponte aérea número 2. Francisco Alvim fez uma belíssima reunião de seus poemas nesse volume. “a poesia/ quando ocorre/ tem mesmo a perfeição/ do metro/ - nem o mais/ nem o menos -/ só que de um metro nenhum/ um metro ninguém/ um metro de nadas”

Nemesis, Philip Roth - foi meu Roth desse ano, fico nervoso se ficar sem um. Em 2012, já tem a antologia de contos engatilhada.

Invisível, Paul Auster - admirável como Auster brinca com a escrita, tranformando o narrador em personagem, e um terceiro e um quarto e mudando os tempos verbais em cada parte. Indispensável.

Nenhum comentário:

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...