quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Cartas do coração

“Vós que vireis na crista da onda em que nos afogamos, quando falardes de nossas fraquezas, pensai, antes, nos tempos sombrios a que haveis escapado.”

Bertold Brecht

Tantas veces me mataron,
tantas veces me morí,
sin embargo estoy aquí
resucitando.
Gracias doy a la desgracia
y a la mano con puñal,
porque me mató tan mal,
y seguí cantando.

Maria Elena Walsh

Sou do tempo em que se escreviam cartas. As redes sociais acabaram por tirar as cartas de circulação, mas até há bem pouco tempo, nem conhecia as redes sociais e escrevia e recebia cartas. Achei uma ontem por acaso procurando um documento. Era 2003 e não era uma carta de amor, embora tenha sido escrita pelo amor. Em 2003, eu estava no olho do furacão (é clichê, mas não encontro outra). Faltava paz, faltava saúde, faltava dinheiro, faltava humanidade. A carta expunha os ossos fraturados, o sangue coagulando, a dor. E a dificuldade de fechar o mês sem dívida, sem sossego, sem parada. Deu um gelo de não conseguir dormir.
Quando penso naqueles anos duros, não consigo imaginar como cheguei aqui hoje. Todos os indicadores estavam contra mim. Acho que foram meus filhos, uma combinação rala de amigos fiéis e um amor amigo que me escrevia cartas.
E a paz, essa do Gil e do Donato, só invadiu meu coração em 2011. Antes era obtida a fórceps, ao uso rotineiro dos inibidores da recaptação de serotonina (e um terapeuta meio sádico que testava tudo quanto era droga) e todas as canções de afeto que ouvi.

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