segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Janeiro

"O amor
É um falso brilhante
No dedo da debutante.
O amor
É um disparate.
Na mala do mascate
Macacos tocam tambor.
O amor
É um mascarado:
A patada da fera
Na cara do domador.
O amor
Sempre foi o causador
Da queda da trapezista
Pelo motociclista
Do globo da morte.
O amor é de morte.
Faz a odalisca atear fogo às vestes
E o dominó beber água-raz.
O amor é demais.
Me fez pintar os cabelos,
Me fez dobrar os joelhos,
Me faz tirar coelhos
Da cartola surrada da esperança.
O amor é uma criança.
E o mesmo diante da hora fatal
O amor
Me dará forças
Pro grito de carnaval,
Pro canto do cisne,
Pra gargalhada final "

Aldir Blanc

Janeiro é mês de pagar contas. Mal começa, já vão aparecendo os Is: IPTU, IPVA, etc. É quando as sobras de dezembro se pulverizam em impostos que jamais sabemos para onde vão. Tente não pagá-los.

Janeiro tem sido nos últimos anos, um mês de chuvas. Hoje chove a cântaros no Centro do Rio. Pra quem se acostumou a ir a pé da Praça XV até a Rio Branco (com Vargas), quando chove é um desastre. A chuva romântica, vista da janela debaixo da coberta, desconhece a Primeiro de Março.

Janeiro é mês de finalmente começar aquela dieta. Hoje foi só um cafezinho (com açúcar e algum remorso) com pão de manhã e hortaliças em abundância no almoço. Sandra Carreirinha ficou impressionada.

Janeiro é mês de fazer planos para não deixar o violão mofar. Cordas novas, um contato com um professor da cidade, e a esperança renovada de tocar um fado corrido para meu amor.

Em menino, janeiro eram férias. Hora de desgarrar de todos os compromissos e responsabilidades e assistir à última temporada do Nacional Kid e ficar jogando bolinha de gude no jardim.

Moleque, janeiro também era mês de férias. Hora de namorar com mais tempo. De ir ao cinema de mãos dadas. Naquela época, cinema de mãos dadas era sinal de compromisso. Havia um certo erotismo no cinema de mãos dadas, indescritível nos dias de hoje. Hoje se vai ao cinema para ver o filme.

Mais a frente, janeiro foi pra mim, um mês de ficar na roça. Eu ia com alguns bons amigos pra fazenda do pai, munido de um violão e um litro de Cachaça Rosa de Prata e foi ali que apurei meu gosto pra letra e música. De noite, o Geraldo Paturi preparava um estupendo macarrão com coloral.

Mais a frente, janeiro foi mês de ir à praia. Começamos pelo Espírito Santo, depois fomos subindo. Eram tempos em que se chegava a Trancoso por uma estradinha de chão muito ordinária e Alexandre deixava sempre o carro no último ponteiro de vazio e ficávamos com medo de voltar a pé. Mas ele nunca se dava por vencido : dá pra ir sim!!

Hoje meus janeiros são mais previsíveis. Procure no desconversa por outros janeiros e vai achar o mesmo texto. Na verdade, há um detalhe mais íntimo que pode tornar o janeiro diferente de todos os últimos. E pode trazer o cheiro de muitos janeiros de volta.

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