sábado, 18 de fevereiro de 2012

Recados de meia linha

"É doido varrido quem uma vez disser
Que esteve apaixonado por uma hora
Não que o amor tão cedo se deteriore
Mas porque pode devorar dez em menos tempo
Quem me acreditará se eu jurar
Que sofri dessa praga por uma ano?
Quem não riria, se eu dissesse que vi
Um cantil de pólvora arder durante um dia?

Ah, que ninharia é um coração
Se alguma vez cai nas mãos do amor!
Todas as outras dores cedem lugar
A outras dores, e pouco ocupam por si próprias.
Elas chegam até nós, mas o Amor absorve-nos
Engole-nos e nunca mastiga
Como fogo de metralha, mata fileiras inteiras.
Ele é a lança tirana, nossos corações à ralé.

Se assim não fosse, o que aconteceu
A meu coração, da primeira vez que te vi?
Trazia um coração quando entrei na sala,
Mas da sala parti, sem levar nenhum.
Se tivesse fugido para ti, sei
Que teria ensinado o teu coração a mostrar
Mais clemência para comigo: mas, infeliz!
Ao primeiro toque, o Amor estilhaçou-o como vidro.

Porém, nada em nada pode se converter,
Nem qualquer lugar ficar de todo vazio,
Por isso penso que no meu peito, estão ainda,
Todas essas partes, embora desunidas;
E agora, como espelhos partidos que mostram
Uma centena de faces menores, assim os cacos
Do meu coração podem gostar, desejar e adorar.
Mas depois de tal amor, não mais podem amar.'

John Donne, O Coração Partido.



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