terça-feira, 26 de agosto de 2014

Enquanto Francisco dormia

O inferno não são os outros, pequena Halla. Eles são o paraíso, porque um homem sozinho é apenas um animal. A humanidade começa nos que te rodeiam, e não exatamente em ti. Ser-se pessoa implica a tua mãe, as nossas pessoas, um desconhecido ou a sua expectativa. Sem ninguém no presente nem no futuro, o indivíduo pensa tão sem razão quanto pensam os peixes. Dura pelo engenho que tiver e perece como um atributo indiferenciado do planeta. Perece como uma coisa qualquer.

Valter Hugo Mãe, A desumanização

Segunda-feira é um ótimo dia para se começar ouvindo Fátima Guedes. As canções melancólicas dão alívio ao mau humor e ao rolo compressor de trabalho. Quando estou assim, sempre recorro à duas antologias pessoais, a de Fátima e a de Tetê Espíndola. Vai entender(!!), mas são elas que me confortam.
Tenho andado tão ocupado que já não é nem mais uma questão de escrever. A escrita, que começa com a elaboração, está comprometida desde o início.
Quem me salva são as moças que cantam.
Partindo de uma resenha que saiu não sei onde, conheci o trabalho de Gisela João. Não tem no Itunes, o Arlequim não consegue importar, de modo que tive que baixar uma cópia tosca do disco que caiu na rede. A cópia é muito ruim, mas o disco é uma beleza. Adorei a outra letra do Fado da Mariquinhas e uma melancólica Voltaste. O fado é outro que me salva. E ando cada vez mais imbricado nele, ouvindo Fernando Farinha, Camané  e outros ainda mais velhos. Esse ano não fui ao Festival de Fado no Rio, embora tenha comprado ingresso. É só mais uma rotina na minha vida besta: comprar e não ir.
Mônica Salmaso deve ter lançado o disco do ano, interpretando Guinga e Paulo César Pinheiro. É a mesma porrada que se leva quando se ouve pela primeira vez o Catavento e Girassol da Leila. Mônica anda dizendo que as músicas foram achadas em velhas fitas cassetes guardadas pelo Paulo. Não é bem assim. Já conhecia uma boa parte delas, como Noturna e Porto de Araújo. E o Bolero de Satã  está muito longe da original de Elis, mas nem por isso menos bonito. É diferente.
Bethânia, Ceumar, Marina Wisnik e Nina Becker também lançaram ótimos discos. E assim passam-se os dias. 

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