sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Meu harman kardon

Custou 600 dólares. É difícil atribuir valor a um quase membro da família, uma espécie de cão sonoro. Está comigo desde a minha primeira incursão a um free shop ainda no século passado. Já morou em Altamiro, Niterói, na Rua das Flores em Miracema e em Odete Lima, onde o seu som alto corroía o silêncio de patos e gansos. Acompanhou a construção de todas as canções de afeto, tocadas à exaustão nos seus falantes. Fez festa quando eu fiz cinquenta anos, e uma seleção de forrós e boleros chulos inundou o coreto da casa. Conheceu mulheres, amigos, era o estepe quando o pessoal do choro cansava de tocar. Nos intervalos das grandes vitórias do Fluminense, tocava a plenos pulmões. Foi minha primeira audição de Ludovico Einaudi, Ildo Lobo, Françoise Hardy, Kléber Albuquerque. Ficou um tempo esquecido porque outros tentaram ocupar seu lugar, mas sempre voltava. Era um apaixonado por música alta. Agora sibila cansado no canto da casa. Parece irremediavelmente velho como seu dono.

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