terça-feira, 12 de julho de 2022
De volta ao tango
Todos dizem que eu falo demais
Essas fotos do telefone que não me largam.
Estão agregadas a um timeline que já não faz mais sentido, mas não arredam o pé. Incomodam e, por vezes, tenho que escondê-las para que ninguém as veja.
Vêm em álbuns aleatórios, transitam por Milão, Bariloche, Cascais, Amsterdam. Já não são parte de mim. E no entanto ali estou, com aquele sorriso de fotografia. Estaria feliz?
Ninguém morreu. Estão todos vivos, mas já não existem em comum. Não são inimigos. Não são mais nada.
As fotos desafiam o tempo. Já não há graça nenhuma naquele jardim, naquela ponte, naquele luar.
E no meio de tantas fotos inúteis, amontoam-se também filhos e amigos. Essas me encantam. De vez em quando por sorte, o aleatório manda recordações dos saraus lá de casa, de Paraty, de Rosal, lugares mais simples onde a felicidade foi legítima, e continua a ser.
Contrastam com essas outras, mal resolvidas, de noites perdidas, sombras ruins. Estão ali, e vão estar sempre. Não há como rasga-las sem quebrar o telefone. As fotos não são testemunhas de nada. O tempo está morto para elas.
segunda-feira, 4 de julho de 2022
Sua próxima leitura está aqui
Sempre tive um espírito irriquieto para ler, e não é incomum que esteja lendo vários livros ao mesmo tempo. É defeito, eu sei, não vou corrigir agora depois dos 60. Fato é que para manter essa pegada, você não pode se desligar do livro. Por exemplo, A morte do pai (Kar Ove Knausgard) estava estacionado na página 100 até ontem. Tive dificuldade de retomar a leitura e quase volto ao início. Perdi alguns pontos, mas retomei da cem mesmo. O livro é ótimo. Visceral, de uma honestidade contundente.
Três livros de crônica estão sendo degustados à prestação para não acabarem logo. No máximo, duas crônicas por dia. Os sabiás da crônica (Rubem Braga, Vinícius, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Stanislaw e José Carlos Oliveira), Vento vadio (Antônio Maria) e As coisas da vida (Antônio Lobo Antunes). Maria é meu favorito, embora concorde que é muito difícil nominar. Digamos que tenho um carinho diferenciado pelas crônicas de Antônio Maria. Por isso, Vento Vadio é tratado como pérola rara na biblioteca.
Adquiri recente a última edição da antologia poética do Drummond. Não difere em nada da primeira que eu comprei, em 1984 (fotos acimas), mas é espantosamente nova. Tirando os clássicos já decorados (O caso do vestido, A mesa, José), tudo parece renovado, como se estivesse sendo lido pela primeira vez.
Estou com inveja dos paulistas, que têm a bienal às mãos. Há uma estação dedicada a Portugal, que me interessaria muito. Os livros de Antonio Lobo Antunes que ainda não saíram no Brasil, sabe-se lá porque, devem estar lá. A última porta antes da noite, que faltou comprar em janeiro, pode estar lá.
Esse desespero de estar longe dos livros que quero é maior do que o monte que leio ao mesmo tempo. Respondendo à Estante virtual, minha próxima leitura é diversa, mas principalmente a parte que está longe de mim.
O amor acaba
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos p...
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"O pauloleminski é um cachorro louco que deve ser morto a pau e pedra a fogo a pique senão é bem capaz o filhadaputa de fazer chover em...
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Depois desse hiato de muitos dias, tento retirar a trava e voltar a escrever. Ficar travado, em geral, é como respondo ao luto. Não choro, n...