terça-feira, 12 de julho de 2022

Todos dizem que eu falo demais

 

Essas fotos do telefone que não me largam. 

Estão agregadas a um timeline que já não faz mais sentido, mas não arredam o pé. Incomodam e, por vezes, tenho que escondê-las para que ninguém as veja.

Vêm em álbuns aleatórios, transitam por Milão, Bariloche, Cascais, Amsterdam. Já não são parte de mim. E no entanto ali estou, com aquele sorriso de fotografia. Estaria feliz? 

Ninguém morreu. Estão todos vivos, mas já não existem em comum. Não são inimigos. Não são mais nada.

As fotos desafiam o tempo. Já não há graça nenhuma naquele jardim, naquela ponte, naquele luar. 

E no meio de tantas fotos inúteis, amontoam-se também filhos e amigos. Essas me encantam. De vez em quando por sorte, o aleatório manda recordações dos saraus lá de casa, de Paraty, de Rosal, lugares mais simples onde a felicidade foi legítima, e continua a ser.

Contrastam com essas outras, mal resolvidas, de noites perdidas, sombras ruins. Estão ali, e vão estar sempre. Não há como rasga-las sem quebrar o telefone. As fotos não são testemunhas de nada. O tempo está morto para elas.

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