segunda-feira, 10 de julho de 2023

Da arte de perder

Não era um grande amigo, mas era sim, um bom amigo. Sempre me recebia efusivamente, tratava-me com cordialidade e quando precisava, estava sempre pronto a ajudar. 

Em algumas viagens de carnaval nos anos 90, fomos juntos e a conversa era sempre boa. Não havia nele um traço sequer de tristeza ou dor. Seu semblante era desprovido daquelas linhas depressivas, comum aos deprimidos, e que em muitas vezes, só um deprimido como eu, reconhece.

É verdade, tinha uma natureza solitária, mas parecia solitário por opção. Parecia gostar do jeito que era. 

Era magro, esguio, do tipo saudável, resolvido financeiramente, com nenhum motivo aparente para sair de cena.

Nos anos 90, compartilhávamos uma assinatura da revista Playboy. Era um entusiasta. Sempre que saía uma moça nova, fazia questão de ligar e comentar.

Acredito que fosse uma ano mais novo do que eu, mas éramos dois meninos do interior criados no mesmo conforto que só aqueles que são da roça conhecem. 

Andávamos distantes desde que ele saiu da farmácia e assumiu outras funções. Foi falta de oportunidade mesmo. Lamento muito que tenha ocorrido logo agora.

A notícia de que ele tirou a própria vida surpreendeu-me agudamente. Vai fazer muita falta.


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