É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nada do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Bertold Brecht
Cheguei cedo no serviço de imagem no Leblon ontem. Só comigo e mau comigo. Terceiro ano de controle de tratamento de um câncer que apareceu no climax da pandemia.
Enquanto os europeus morriam em escala geométrica, o Brasil claudicava diante de um presidente absurdo, as pessoas aprendiam a trabalhar de casa e eu aguardava meus 59 chegarem, começava a me incomodar com dois caroços que apareceram no pescoço.
Tive a sorte de ter um oncologista e um amigo. Um oncologista referência nacional que me diagnosticou num período recorde de quatro dias, e um amigo que se dispôs a me acompanhar nas incontáveis idas a Muriaé para o tratatmento com radio e quimioterapia.
Além disso, minhas filhas que migraram para minha casa e passaram a morar ali como se assim sempre fosse.
Era um carcinoma epidermoide de base de língua, a me castigar pelo tanto que falei nessa vida, e como se não fosse a fala meu melhor instrumento de persuasão. A fala e o canto (esse último desprovido de qualquer talento, mas de muita valia interior), que me deixariam mudo num primeiro momento e rouco até hoje.
Quando a moça falou comigo que o exame não estava autorizado, eu tive vontade de fugir dali rápido. Só quem já fez uma ressonância magnética de cabeça e pescoço com contraste e ficou quase duas horas asfixiado naquela máscara ouvindo todos os barulhos sabe do que eu estou escrevendo. Além disso, era uma overview do tratamento inteiro.Mas fiquei, fiz e deu bom. Mais um ano de carência.
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Não há um único comentarista esportivo que não tenha escrito que Diniz assumir a seleção e o Fluminense ao mesmo tempo é um inequívoco conflito de interesse que vai dar problema. Todos flamenguistas, corintianos, cruzeirenses. Nós, tricolores, queremos Diniz na seleção e no Flu. E ganhando nos dois.
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O título desse texto é referência a uma canção de Caetano chamada José.
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